Folha de S. Paulo


Um terço dos clubes usou jogadores reservas durante o Brasileiro

O dilema dos técnicos se repete. Por mais uma temporada, os jogos do Brasileiro foram preteridos pelos times que também disputam a Copa do Brasil e a Libertadores.

Entre os dez primeiros colocados do campeonato, sete equipes pouparam jogadores titulares até agora. A maioria por mais de uma rodada.

A decisão, recorrente neste ano mesmo com as competições tendo jogos mais espaçados, caso de Libertadores, que foi esticada em cinco meses, acaba por prejudicar o Brasileiro, competição que mais gera renda aos clubes.

Na conta entra a arrecadação das bilheterias –o número de jogos é maior do que nas copas– e os direitos de TV, que incluem as cotas de participação e o pay-per-view. Entre os times que usaram reservas as cotas variam de R$ 35 milhões a R$ 100 milhões.

Os clubes são muito dependentes dos contratos televisivos. No caso do líder Corinthians, 47% da receita da agremiação, em 2016, veio da TV, enquanto no Grêmio foi 62% e no Botafogo, 63%.

Em termos de premiação, a Libertadores dá mais dinheiro do que os outros campeonatos. Fora o prestígio, o torneio internacional dá ao vencedor R$ 25,1 milhões.

Enquanto isso, o campeão nacional ganha R$ 17 milhões e o vencedor da Copa do Brasil R$ 11,7 milhões, prêmio que pode quintuplicar em 2018. O fato de o Brasileiro ser disputado em pontos corridos, onde em tese um time pode perder alguns pontos mas, no entender dos dirigentes, recuperá-los depois, é a principal justificativa para o uso de times mistos ou até mesmo totalmente reservas.

Escolhas que também incomodam a CBF e a TV Globo, que compram os direitos de transmissão dos jogos.

De acordo com o Grupo Globo, o futebol, além de um produto televisivo, tem que ser também um grande produto esportivo. A emissora, por meio de nota, informa que está aberta para colaborar na melhora do produto futebol brasileiro. "Sabemos que há uma adaptação do calendário do futebol brasileiro em curso e reconhecemos o esforço da CBF e dos clubes em buscar a melhor fórmula possível para composição dos times para os campeonatos".

Procurada, a confederação não se pronunciou.

Se não fosse o uso de muitos reservas em pelos menos 19 jogos da competição, o nível de competitividade poderia estar diferente. Com mais times disputando o troféu.

No ano, o caso mais gritante de abandono de algumas rodadas do Brasileiro a favor das copas é o do Grêmio.

Editoria de Arte/Folhapress
BRASILEIRO DESPRESTIGIADO Quando os clubes trocaram o nacionalpela Libertadores ou Copa do Brasil*
BRASILEIRO DESPRESTIGIADO Quando os clubes trocaram o nacionalpela Libertadores ou Copa do Brasil*

A lista dos poupadores conta ainda com Botafogo, Santos, Cruzeiro e Atlético-MG. O Atlético-PR e o Palmeiras não usaram os times considerados titulares uma vez.

O Flamengo, que fez retiradas estratégicas de jogadores como Guerreiro e Diego, poupou na Sul-Americana ou então na Primeira Liga.

Pelo planejamento montado pelo treinador Renato Gaúcho com anuência da diretoria, o Grêmio entrou modificado em seis ocasiões.

Como a equipe conseguiu ganhar 7 pontos dos 18 disputados sem os titulares, alguns torcedores gremistas, em blogs ou redes sociais, reclamaram da decisão de usar um time chamado reserva.

O clube gaúcho, segundo colocado com 7 pontos a menos que o Corinthians, não vence o Brasileiro desde 1996.
"Nosso planejamento era conseguir chegar bem às três competições. Não houve erro. A nossa campanha [no Nacional] é para conquistar o título. O Corinthians é que fez uma campanha absolutamente inesperada no primeiro turno, que não vai se manter", afirma Odorico Roman, vice-presidente do Grêmio.

A lotação da arena do time nas três competições disputadas –está eliminado da Copa do Brasil, mas continua na Libertadores e ainda quer disputar o título brasileiro com o Corinthians– indica que a diretoria e a comissão podem ter acertado. O público é maior nos jogos de mata-mata.

Os técnicos de Botafogo e Santos, Jair Ventura e Levir Culpi, também costumam utilizar as mesmas explicações de Renato Gaúcho. O grande número de jogos inviabiliza usar sempre os titulares. E a recuperação em torneios mata-mata é quase impossível.

Ventura, apesar de ser contra poupar no Brasileiro, um campeonato equilibrado e difícil, segundo ele, nunca escondeu o que prevê o planejamento do clube em 2017.

"Nosso objetivo é a Libertadores", diz, categoricamente. O que mostra que a prática de poupar vai continuar.


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