Folha de S. Paulo


Equipes que viram Messi 'nascer' para o futebol em Rosário vivem em apuros

Sempre que o Grandoli FC precisa de dinheiro, o telefone de Jorge Messi toca. O pai de Lionel toma as providências para comprar o que seja necessário para manter vivo o primeiro clube em que seu filho jogou. Não fosse pelo atacante do Barcelona, o campo acanhado no bairro do mesmo nome, na periferia de Rosário, teria fechado.

"Sempre são coisas pequenas, mas que não temos condições porque nossa renda é quase nenhuma. Sempre o Jorge fala com Leo e ele nos dá uma ajuda", afirma o presidente do Grandoli, David Trerez, a força que mantém o time de garotos funcionando.

Os clubes em que Messi jogou em Rosário vivem apuros financeiros. O Grandoli, por ser amador, era de se esperar. O Newell's Old Boys, onde ele atuou até os 13 anos, quando foi para Barcelona, por pouco foi impedido de estrear no Campeonato Argentino da primeira divisão, no último dia 28, contra o Unión.

A diretoria tinha dívida de 20 milhões de pesos (R$ 3,6 milhões) com os Futebolistas Argentinos Agremiados, o sindicato dos jogadores. Sem o pagamento do débito, o Newell's estaria impedido de jogar e registrar contratações.

O acordo foi fechado cinco dias antes da rodada. O presidente Eduardo Bermúdez não diz como conseguiu a quantia. É certo que Messi não teve nada a ver com isso.

"Todos contribuíram para que o acordo fosse feito", disse Bermúdez.

A dívida total do Newell's é de 270 milhões de pesos (R$ 49,3 milhões). Do total, 134 milhões de pesos (R$ 24,5 milhões) devem ser quitados nos próximos 12 meses. Por causa de outros débitos, ainda há risco de perda de pontos.

Assim como outras equipes argentinas, o Newell's é quase amador no marketing. Na loja oficial do clube, dentro do estádio Marcelo Bielsa, não é possível encontrar os modelos novos de uniformes oficiais. Um outdoor anuncia ao torcedor a chegada da nova camisa... de 2015.

Messi deu apoio ao Newell's no passado, mas apenas nas categorias de base. Ele ajudou a pagar o prédio para residência dos garotos do departamento amador.

Bem mais modesto, o Grandoli, nas manhãs, se chama Centro de Educação Física número 8, usado pela Prefeitura. O clube tem o papel de dar chance a meninos da região. Exatamente como aconteceu com Lionel, que era levado pela avó Celia para treinar e jogar quando tinha cinco anos.

Todas as vezes que faz um gol pelo Barcelona ou seleção argentina. Messi aponta para o céu, em homenagem a ela, já morta.

"Leo era tão pequeno que você não acreditaria. A gente chegava a duvidar que ele teria força para chutar a bola. No entanto, era melhor que todos os outros", completa Trerez.

O endereço passou a ter contornos míticos no futebol argentino. Com sede à Avenida Grandoli esquina com José María Guitérrez, o clube ganhou fama e foi assunto de reportagens de imprensa na Europa por causa do surgimento de Messi.

"Nós somos do mesmo caldo que deu origem a outros clubes de outros bairros pobres. Como o que saiu Tevez, por exemplo", finaliza o presidente.

O que ele deseja dizer é que o bairro de Grandoli é fruto do FONAVI (Fondo Nacional de la Vivienda), programa de casas populares criado pelo governo federal na década 70 para amenizar o déficit habitacional com empreendimentos padronizados e cinzentos. Grandoli e Fuerte Apache, de onde saiu o atacante Carlos Tevez, na periferia de Buenos Aires, são dois dos maiores FONAVIs da Argentina.


Endereço da página:

Links no texto: