Folha de S. Paulo


Messi e Maradona estão abaixo de Pelé, diz campeão mundial argentino

Juan Miguel Foglia - 17.jul.2016/Clarín/Folhapress
ARGENTINA - 17 07 16 DEPORTES CESAR LUIS MENOTTI FOTO JUAN MANUEL FOGLIA / CLARIN DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
César Luis Menotti, 78, ex-jogador e técnico da seleção argentina campeã da Copa do Mundo de 1978

Aos 78 anos, César Luis Menotti é um oráculo do futebol argentino. A figura esguia, não por acaso ainda chamada de "el Flaco" ("o magro"), dona de uma voz gutural é procurada por jornalistas, jogadores e técnicos não apenas para falar sobre o passado, mas para tentar prever o futuro de equipes e da seleção nacional.

Menotti não voltou à moda apenas por ter dirigido a Argentina campeã mundial de 1978, primeiro título da equipe, mas porque sua filosofia foi abraçada por gente que é cultuada no futebol atual. Como o espanhol Pep Guardiola, hoje no Manchester City, por exemplo.

"Vocês devem agradecer a Menotti e Bielsa pelo que fizeram pelo futebol argentino", disse Guardiola, em visita a Buenos Aires em 2013.

Marcelo Bielsa, hoje no Lille (FRA), um dos técnicos mais seguidos do planeta, é "menottista", como são chamados os fãs do campeão mundial de 1978.

Isso fez aumentar a mística em torno da figura do ex-meia de Rosario Central (de quem é torcedor), Racing, Boca Juniors e Santos. Foi companheiro de Pelé na Vila Belmiro por alguns meses. Para "el Flaco", o brasileiro é o maior de todos e Lionel Messi é capaz de atingir o mesmo patamar de Maradona, mesmo sem ter vencido uma Copa do Mundo.

No mesmo tom grave e sério que usa em qualquer situação, acredita que Messi terá a oportunidade de levantar o troféu de campeão mundial no ano que vem. Menotti diz que a chance de a Argentina não se classificar para o torneio de 2018 é nula. O time está em quinto nas eliminatórias e hoje iria para a repescagem.



Folha - O senhor crê haver chance de a Argentina não se classificar para a Copa do Mundo de 2018?
César Luis Menotti - Não vejo como isso possa acontecer. Basta olhar a tabela. Digamos que a Argentina fique em quinto [se classificam automaticamente os quatro primeiros] e vá para a repescagem. Será contra a Nova Zelândia [a equipe é favorita no playoff final da Oceania contra as Ilhas Salmoão]. Você é capaz de citar alguma seleção sul-americana que perderia um confronto em dois jogos para a Nova Zelândia? Ninguém precisa se preocupar. A Argentina estará lá.

Sampaoli é o nome certo para comandar a seleção?
Creio que a escolha é natural pelo trabalho que realizou nos últimos anos [por Chile e Sevilla]. Há muito tempo que a equipe não tem um padrão de jogo. Espero que Sampaoli consiga isso e coloque um estilo que possa ser entendido e executado pelos jogadores.

A chave para a Argentina ainda é a questão de como encaixar Messi na equipe?
Precisamos aproveitar o que temos de melhor. A Argentina tem o que nenhuma outra seleção possui: Messi. Ele é um dos cinco maiores de todos os tempos.

E os outros?
Os cinco maiores da história são Pelé, Maradona, Di Stefano, Messi e Cruyff.

E quem está em primeiro?
Não gosto de colocar ordem. Mas se você quer saber, Pelé é o maior de todos. O que ele fez como jogador não é desse mundo. Ele era o maior em uma época de jogadores espetaculares e ainda foi o grande nome do Brasil de 1970, na melhor equipe de futebol que vi jogar.

O senhor jogou com ele
Mais ou menos. Eu passei pelo Santos, mas joguei apenas uma vez [em 1968 fez parte do time campeão paulista]. Pelé era o tipo que elevava o nível de quem estava no mesmo time. Observá-lo nos treinos era uma grande experiência. Era capaz de coisas inacreditáveis.

Há uma discussão sobre se Messi pode alcançar Maradona e que isso só aconteceria se ele ganhasse uma Copa para a Argentina, como Diego fez.
Messi não precisa ganhar a Copa para ser um dos maiores de todos os tempos. Acredito no seguinte: o melhor que vimos dele equivale ao melhor que vimos de Maradona.

O senhor ainda é procurado por muita gente para falar de futebol? Guardiola já o chamou para conversar, Marcelo Bielsa, Klinsmann disse ter aprendido muito com o senhor na Sampdoria (ITA), em 1997.
Me dá prazer falar sobre futebol. Converso sempre que posso. O título da Alemanha de 2014 não foi a vitória de uma equipe. Foi a vitória de um estilo, de uma ideia. Podemos dizer o mesmo do Barcelona quando Guardiola estava lá.

Como são os contatos com Guardiola?
Eu o conheci quando era jogador do Barcelona e Cruyff era o técnico. Era muito amigo de Cruyff. Ele me procurou a primeira vez para falar quando estava pensando se queria ou não ser treinador. Acho admirável a vontade que ele tem de querer ouvir as outras pessoas, de querer aprender mais e mais. Falamos de alguém que já ganhou quase todos os títulos possíveis. Cada vez que conversamos, entramos a madrugada.

Seu último clube foi o Independiente, como gerente, em 2010. Como treinador foi em 2007, no Estudiantes de Tecos, no México. Está aposentado do futebol?
Não sei.

O senhor voltaria para trabalhar com a seleção argentina?
Não creio que isso seja possível. Represento tudo o que eles na AFA não fazem e tudo o que eles não querem fazer. Eu comecei a brigar com esse sistema quando ainda era técnico da seleção. Eles gostam de trabalhar com gente que concorda com tudo.

Sua rivalidade com Bilardo [campeão da Copa em 86] é histórica. Ele é mais ligado à AFA?
Minha diferença com Bilardo não é de estilo de futebol. É pessoal. Nós pensamos diferente. Não que não tenha diálogo com gente que não pensa como eu. Faço isso todas as semanas. Mas com ele não existe diálogo. Temos visões diversas de sociedade e não posso estar ao lado dele.


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