Folha de S. Paulo


Brasileiro decepciona confederação e time da NBA com ato de indisciplina

Divulgação/FIBA
O jogador de basquete brasileiro Bruno Caboclo. Foto: Divulgacao/FIBA ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Primeiro torneio de Caboclo pela seleção durou apenas 46 minutos

O técnico César Guidetti e a nova diretoria da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) tinham grande expectativa pela estreia do ala Bruno Caboclo, 21, na seleção.

Uma esvaziada Copa América, que já não valia mais vaga para as Olimpíadas ou Copa do Mundo, era vista como a chance ideal para sua primeira apresentação.

Toda o otimismo em torno do jogador do Toronto Raptors, da NBA, se encerrou na noite de sábado (26), em Medellín, Colômbia, quando o atleta ignorou o discurso do treinador e o gerente Renato Llamas e se recusou a voltar à quadra em derrota para o México, pela segunda rodada do torneio.

Insatisfeito com seu papel na equipe, mesmo que, até, então, tivesse disputado 46 dos 50 minutos possíveis pela competição, o jogador não deu ouvidos a Guidetti quando chamado no segundo quarto. Manteve a posição após duas conversas com Llamas, a segunda no intervalo.

Ao final da partida, o gerente anunciou sua suspensão "por tempo indeterminado" da seleção. Estava encerrado, de forma abrupta, o experimento.

A estreia de Caboclo pela seleção poderia, na verdade, nem ter acontecido. Durante a fase de treinos em Pindamonhangaba, o jogador chegou a faltar em um treino na segunda (14), após folga dada ao grupo no domingo.

A frustração com o corte de Caboclo não se limitou aos funcionários da CBB. Ela se estendeu a quem trabalha para os Raptors.

Quando a informação chegou à metrópole canadense, seus dirigentes se manifestaram decepcionados. Acionaram seus contatos brasileiros imediatamente, em busca de detalhes. Mas não estavam necessariamente surpresos. Não seria o primeiro ato imaturo de que tinham notícia.

Durante os três anos de Caboclo em Toronto, a franquia trabalhou para abafar histórias de teor semelhantes, preservando o atleta –e também seu investimento.

Em 2014, o clube surpreendeu ao usar a 20ª escolha do "Draft" (processo seletivo de calouros da liga) no atleta nascido em Osasco. Uma aposta arriscada em um ala que só havia jogado 17 vezes pelo Pinheiros no NBB. Daí o esforço em blindá-lo.

Em seus primeiros três anos de contrato, o brasileiro jogou apenas 106 minutos pelos Raptors. O que equivale a duas partidas completas e mais dez minutos de sobra. Cada temporada regular da NBA tem 82 jogos.

Até por isso sua convocação foi recebida de modo positivo em Toronto. Para surpresa da CBB, os trâmites para a liberação do jogador foram rápidos. A Copa América seria valiosa para seu desenvolvimento.

À distância, porém, com o jogo contra o México ao vivo na TV, não havia mais como abafar o caso.

Bem diferente do que aconteceu em 1º de janeiro de 2015, quando o clube anunciou o retorno do aleta de um empréstimo ao Fort Wayne Mad Ants, franquia da Liga de Desenvolvimento da NBA localizada em Indiana.

Depois de três partidas pela equipe, o brasileiro, então com 19 anos, teve retorno antecipado ao Canadá sem maiores explicações.

Foi, na verdade, uma espécie de operação de resgate.

Após derrota dos Mad Ants, Caboclo havia "sumido". Dirigentes e treinadores buscavam tentavam entrar em contato e não tinham resposta por telefone, redes sociais ou campanhia.

Preocupados, tiveram, então de recorrer ao estafe do hotel em que estava hospedado, para que seu quarto fosse aberto. Quando chegaram ao local, se depararam com o jogador sentado em sua cama, calado, assistindo à TV.

O jogador estava frustrado por não ter sido aproveitado nem mesmo nua equipe inferior como os Mad Ants. Mais uma vez o plano dos Raptors de dar rodagem ao ala foi encerrado antes do previsto.

Esse episódio, confirmado à Folha por três fontes independentes, foi apenas um de uma série de desacertos que pontuam a trajetória. "Emocional" é um adjetivo que o tem acompanhado no Canadá.

Agora, a serviço da seleção, as questões vieram à tona. Nas redes sociais, o ala foi duramente criticado. Chegou, inclusive, a tirar do ar uma de suas contas no sábado. O perfil foi reativado com um pedido de desculpas.

"Respeito meus treinadores e colegas, e deixei que minhas emoções entrassem no caminho dos objetivos da nossa equipe", afirmou. "Humildemente aceito as consequências para minhas ações."

Na mesma noite, de volta ao hotel em que a seleção estava hospedada em Medellín, Caboclo novamente "desapareceu". Dessa vez, porém, não estava trancafiado em seu quarto. Apenas encerrou sua estadia mais cedo e foi para outro estabelecimento, sem comunicar à CBB.

BAIXA INTENSIDADE

O gesto intempestivo não surpreendeu um experiente olheiro da NBA que estava no ginásio em Medellín para observá-lo.

À Folha, após vitória sobre a Colômbia, na véspera, o olheiro, que não pode ser identificado devido ao protocolo da liga americana, relatou que Caboclo parecia desconectado de seus companheiros.

Em seu diagnóstico, apontou baixa intensidade e aparente falta de comprometimento do ala.

No único triunfo brasileiro pelo Grupo A, ele somou 11 pontos e 11 rebotes.

NOVA RECUSA

Dez anos depois, a seleção brasileira masculina de basquete volta a lidar com a insubordinação pública de um jogador.

Ao se recusar a ir à quadra em Medellín, Bruno Caboclo repetiu gesto do armador Nezinho, hoje atleta do Vasco, durante a Copa América de 2007, em Las Vegas. Na ocasião, o jogador negou pedido do técnico Lula Ferreira nos minutos finais de uma vitória sobre o Uruguai.

Aquele foi um torneio tumultuado para a seleção. Dois dias antes, lesionado e descontente com a comissão técnica, o ala Marquinhos, hoje no Flamengo, havia abandonado a delegação. Tanto o ala como o armador só voltariam à equipe três anos depois, sob o comando do argentino Rubén Magnano.

A seleção feminina também viu a ala Iziane negar um chamado do técnico Paulo Bassul em jogo contra Belarus, pelo Pré-Olímpico de 2008, na Espanha. Uma das estrelas da equipe, ela foi cortada do grupo e, depois, ficou fora dos Jogos de Pequim.


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