Folha de S. Paulo


Nipo-brasileira é destaque do Brasil na abertura do Mundial de judô

Paulo Pinto/CBJ
A judoca Stefannie Arissa Koyama, que disputará o Mundial de Budapeste pela seleção brasileira
A judoca Stefannie Arissa Koyama, que disputará o Mundial de Budapeste pela seleção brasileira

Ter proveniência asiática não é incomum no judô brasileiro, mas a história de Stefannie Koyama se destaca por fugir do lugar comum.

Aos 22 anos, a judoca figura como principal novidade na seleção feminina que disputa o Mundial de Budapeste a partir desta segunda (28).

Estreante na competição, ela vai ao tatame logo no primeiro dia do torneio na categoria ligeiro (até 48 kg) em busca de reconhecimento.

Não apenas perante o grande público como também entre seus pares. Antes de despontar nesta temporada -é hoje a sexta colocada no ranking mundial de seu peso-, a atleta não estava no radar do esporte dentro do país.

Simplesmente porque ligação com o Brasil, a não ser pela origem familiar, ela tem bem pouca. Stefannie nasceu em Gunma, a pouco mais de 100 km de Tóquio, no Japão.

Seus pais, Ricardo e Sanlay, migraram para o país na década de 1990 e por lá permaneceram até hoje. À parte o contato caseiro, quase nada de Brasil ficou impregnado na formação da judoca.

Na mais breve conversa fica evidente como não domina o idioma português. Também não possui grandes referências do país a não ser de viagens que fez na infância.

A ligação se intensificou por meio do esporte. Judoca promissora, Stefannie se projetou entre as melhores do Japão, principal potência da modalidade. Chegou a ser terceira colocada no campeonato nacional no ano passado.

A CBJ (Confederação Brasileira de Judô) começou a importar seu talento justamente no final de 2016. Durante o Grand Slam de Tóquio, ela se aproximou de integrantes da comissão técnica da seleção brasileira e perguntou como poderia competir no Brasil.

Foi aconselhada a lutar na seletiva nacional que ocorreria no mês seguinte, em Osasco, e formaria a equipe para a temporada de 2017.

Stefannie aceitou a proposta, deixou em segundo plano a faculdade de letras que cursava em Tóquio e veio.

Venceu a categoria ligeiro contra oponentes que já frequentavam o time brasileiro e se inseriu como uma novidade em meio a tantos nomes tarimbados da seleção.

A bem-sucedida empreitada na seletiva também deu à nipo-brasileira um posto que há tempo tinha uma proprietária cativa. Desde o início da década, a categoria 48 kg era dominada por Sarah Menezes, campeã na Olimpíada de Londres. Mas a piauiense subiu para a faixa até 52 kg.

Rapidamente a novata provou que está à altura do desafio. Em março, levou medalhas de ouro no Grand Slam de Baku (Azerbaijão) e no Grand Prix de Tbilisi (Geórgia).

No mês seguinte, terminou com o bronze na categoria ligeiro no Pan-Americano da modalidade, no Panamá.

A sequência de bons resultados fez com que a CBJ a visse como uma das principais apostas para os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio.

O primeiro grande teste em relação às suas capacidades vem agora em Budapeste.

"Treinei bem. Estou ajustando alguns detalhes, mas me sinto preparada", disse.

Apesar de estar entre as dez melhores do ranking e integrada ao circuito internacional, a estreia em um Mundial causa apreensão. "Estou confiante, mas também pouco ansiosa. Quero que chegue logo o dia", complementou.


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