Folha de S. Paulo


Confederação de judô corta R$ 1,5 milhão em prêmios para atletas

A CBJ (Confederação Brasileira de Judô ) interrompeu a distribuição de verba de um fundo destinado a premiar judocas ranqueados ou medalhistas em Jogos Olímpicos ou Campeonatos Mundiais.

Até 2016, a entidade repartia R$ 1,5 milhão entre os principais atletas do país por ano. Os recursos vinham, sobretudo, do patrocínio da Petrobras, que lhe repassou R$ 20 milhões entre 2013 e 2016 pelo Plano Brasil Medalhas.

Com a saída da empresa estatal como apoiadora da modalidade, a divisão da bolsa foi paralisada.

"Estamos sem receber os recursos que tínhamos antes. Isso acabou depois da Olimpíada", disse Mayra Aguiar, duas vezes medalhista olímpica de bronze (2012 e 2016).

"Disseram [a CBJ] que estavam esperando o retorno da Petrobras para voltar com esse recurso aos atletas."

A estatal deixou de aportar dinheiro na CBJ em janeiro -a exemplo do que fez com as confederações de boxe, esgrima, remo, levantamento de peso e taekwondo.

Em entrevista à Folha, em março, pouco antes de deixar o posto, o ex-presidente da CBJ, Paulo Wanderley Teixeira, afirmou que o fundo seria mantido para os judocas. Ele foi substituído por Sílvio Acácio Borges, em março.

A promessa, porém, não foi mantida. A CBJ ainda tenta renegociar com a Petrobras a extensão do patrocínio -ainda sem sucesso.
negociação

Mayra, campeã mundial no peso meio-pesado (até 78 kg) em 2014, ressalva que a confederação "nunca deixa faltar nada em viagens ou em competições" e que sempre providencia estrutura para os judocas. Entretanto, reconhece que a verba lhe faz falta.

"Acredito que a bolsa deve voltar, porque foi uma luta conseguir. Ela é muito importante e necessária", afirmou a medalhista olímpica.

A questão voltou a ser debatida entre os dirigentes e os atletas na semana passada, às vésperas do embarque para o Mundial de Budapeste, principal competição do ano. O evento vai do dia 28 próximo até 3 de setembro, e o Brasil terá 18 atletas na disputa.

A direção da CBJ chamou para discussão representantes de sua comissão de atletas -da qual Mayra e as campeãs olímpicas Rafaela Silva e Sarah Menezes, entre outros, fazem parte- e disse que tinha dinheiro para retomar o pagamento da bolsa. Porém, que preferia investi-lo nos preparativos finais da seleção para o Mundial.

Sob condição de que no futuro a bonificação seria retomada ou rediscutida, os judocas concordaram em destinar os recursos para a equipe nacional.

"Explicamos que poderíamos distribuir novamente os recursos aos atletas, porque recurso a CBJ tem. Mas, com isso, a preparação geral para o Mundial seria mais difícil", afirmou Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ.

"Dinheiro tem, mas eu prefiro investir no todo, até porque existe o momento de crise pelo qual o país inteiro está passado", complementou o dirigente.

À exceção da Petrobras, a CBJ manteve seus principais patrocinadores: Bradesco, Infraero, Cielo e Scania. Sem o dinheiro da estatal, a entidade tem enxugado seus gastos.

Segundo Wilson, para Budapeste a confederação reviu o processo de chegada da seleção. Se até 2015, ano do último Mundial, os convocados chegavam ao local de competição e dele saíam juntos, agora haverá escalonamento.

Os judocas das categorias mais pesadas, que são disputadas nos últimos dias, chegarão à Hungria apenas nas véspera de seus combates. E os mais leves, conforme terminarem suas participações, viajarão de volta ao Brasil.

"Acreditamos que, assim, vamos economizar muito em diárias. Buscamos mecanismos de fazer economias para que pudéssemos, por exemplo, levar reservas em algumas categorias", concluiu o dirigente.


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