Folha de S. Paulo


Ídolo na Arábia, brasileiro ganha iPhone de ouro e leão de verdade

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Carlos Eduardo do Al Hilal
Meia brasileiro Carlos Eduardo é ídolo no Al Hilal, time dos Emirados Árabes Unidos

Carlos Eduardo, 27, gosta de passar as férias em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), sua cidade natal, não apenas para estar perto da família. Tímido, prefere ser anônimo. Na Arábia Saudita, uma monarquia absolutista com xeques e príncipes, ele é rei. Em dois anos no clube mais popular do país e dono de uma das maiores torcidas na Ásia, o meia brasileiro foi o principal nome em quatro títulos nacionais.

Na cidade de Riyadh, onde fica a sede do Al Hilal, ele não pode sair à rua. Ou pelo menos é isso o que pedem os seguranças dos shoppings centers, uma das poucas diversões que ele se permite fora do condomínio onde mora.

"Toda vez os seguranças me escoltam porque a quantidade de pessoas é muito grande. Quando eu tento sair à rua com a minha mulher, alguém me reconhece: 'meu Deus, eu não acredito. É você', dizem. Eu fico com muita vergonha", afirma.

Revelado pelo Desportivo Brasil, clube do interior de São Paulo especializado em categorias de base, Carlos Eduardo passou por Ituano, Grêmio Barueri e Fluminense antes de chegar à Europa.

Jogou por Estoril e Porto, em Portugal, e foi emprestado ao Nice, da França. Queria voltar para o Porto, que era dono dos seus direitos, até aparecer a proposta do Al Hilal. Assim que começou a fazer gols e o time voltar a vencer, a adoração começou.

"Acontece da pessoa se ajoelhar na minha frente e dizer que precisa me dar um presente. Já aconteceu de o torcedor arrancar o relógio do pulso para me dar. Digo que não precisa, minha mulher fala para eu recusar, mas eles insistem e insistem até eu aceitar", completa.

Com 42 gols, Carlos Eduardo já superou a marca de outro brasileiro que fez história no clube: Rivellino. O campeão da Copa do Mundo de 1970 conta que, quando o xeque Nawwaf bin Abdulaziz, presidente da equipe e amigo do rei Abdullah, ia no vestiário após uma partida, o meia olhava para o braço do bilionário e dizia: "O relógio do senhor é muito bonito."

Abdulaziz tirava a joia do pulso e esticava para o jogador, grande nome da equipe: "Então é seu."

Rivellino jogou no Al Hilal entre 1979 e 1981. Carlos Eduardo constata que a maneira de agir dos dirigentes continua a mesma.

LEÃO

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Carlos Eduardo do Al Hilal
Atleta foi revelado em clube do interior de São Paulo

Logo que chegou ao clube, em 2015, ele ouviu a promessa de um xeque que quando fizesse o primeiro gol, ganharia 10 mil riads como prêmio (R$ 8,5 mil). Quando isso aconteceu, o brasileiro cobrou a promessa.
"Não, eu não vou te dar 10 mil riads", foi a resposta. "Vou te dar 110 mil".

Na cotação de hoje, são R$ 93,5 mil por uma jogada.

Pelo gol do título da Copa do Rei, marcado sobre o Al-Ahly, em maio, o presidente do clube, xeque Nawaf bin Saad, lhe deu de presente um iPhone de ouro com o nome do jogador grafado.

"Eu nem sei quanto vale isso! E nem procurei saber", se espanta ainda hoje.

Este presente ele aceitou com gosto. Não pôde fazer o mesmo quando outro príncipe, contente com seu desempenho, mandou entregar um leão em sua casa. Não de pelúcia. De verdade.

Pelo menos neste caso, não houve jeito. Carlos Eduardo teve de devolver o mimo, pedindo mil desculpas ao integrante da família real.

"Expliquei que não tinha onde deixar o animal. O que eu ia fazer com um bicho desses no meu condomínio?"

Na última temporada, a média de público do Al Hilal como mandante foi de 12 mil pessoas. Na final da Copa, foram 54 mil presentes.

Os torcedores também são capazes de perder a noção. Como a tarde em que o brasileiro saiu do treino e passou sem atender aos torcedores que esperavam autógrafos. Ele estava no trânsito quando sentiu o tranco.

Alguém havia batido no seu carro.

"Fiquei desesperado. Eu não falo árabe. O que ia fazer naquele momento?"

Quando olhou pela janela, estava o outro motorista pedindo perdão. Só havia feito aquilo para que o meia parasse o carro e pudesse tirar uma foto com o ídolo.

Carlos Eduardo está em processo de renovação de contrato com o Al Hilal. Ele diz não ter planos de mudar. Pelas histórias, o clube pensa o mesmo.


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