Folha de S. Paulo


Com salário atrasado, Mogi não entra em campo e deve abandonar a Série C

Diego Ortiz/O Popular
Arbitragem se reúne no gramado do estádio Vail Chaves para decretar o rebaixamento do Mogi Mirim
Arbitragem se reúne no gramado do estádio Vail Chaves para decretar o rebaixamento do Mogi Mirim

Um dos clubes mais tradicionais do interior de São Paulo, o Mogi Mirim protagonizou mais um vexame, o que se tornou comum nas duas últimas temporadas.

Com os salários atrasados, os jogadores da equipe se recusaram a entrar em campo e perderam por W.O. para o Ypiranga-RS, em jogo marcado para este sábado (13), no estádio Vail Chaves, em Mogi Mirim, pela Série C do Campeonato Brasileiro.

De acordo com os jogadores, o tempo de atraso dos salários variava de um a seis meses, a depender do caso de cada atleta.

Os jogadores do Mogi Mirim até compareceram ao estádio neste sábado e se reuniram com o presidente do clube, Luiz Henrique Oliveira.

De acordo com o meia Cristian, 37, ex-Palmeiras, o dirigente ofereceu um cheque para os jogadores correspondente ao valor de um salário de cada atleta, o que não foi aceito. A equipe queria receber o valor em dinheiro.

"Estou no clube há dois meses e não vi a cor do dinheiro até agora. Porém, não tomei a frente desta decisão por mim. Temos jogadores no elenco que estão aqui desde o início do ano e receberam no máximo um salário. Ele [Luiz Henrique de Oliveira] prometeu pagar na semana passada, mas não cumpriu. Pagou apenas parte de um mês do salário de quatro atletas", disse Cristian à Folha. ´

O jogador afirmou que até a alimentação oferecida aos atletas é inadequada. "Na semana passada, tomamos a decisão de não enfrentar o Bragantino, mas atendemos ao pedido da cozinheira e do roupeiro e decidimos jogar. Porém, almoçamos na estrada em uma churrascaria três horas antes do início do jogo. Há três semanas, não tínhamos carne para comer na véspera do jogo contra o Botafogo-SP", relatou.

A reportagem apurou que os jogadores Emerson, Rodrigo, Vinícius, Régis e Vitinho estão com cinco meses de salários atrasados.

De acordo com o meia, o elenco chegou a contar com 30 jogadores há dois meses. "Pelo menos dez atletas abandonaram o clube em virtude desta situação."

O treinador Marcelo Veiga confirmou a debandada dos jogadores durante a Série C. Ele foi contratado pelo clube em janeiro para a disputa da Série A2 do Campeonato Paulista, mas deixou o clube em março. Três meses depois retornou para a competição nacional, mas ficou pouco tempo.

"Chegava para treinar e recebia informação que um determinado jogador foi embora. Contra o Bragantino, tinha apenas 15 jogadores para colocar em campo. Quando você tem um mês ou até dois meses de salários atrasados, a gente conversa com o grupo e tenta contornar a situação. Porém, chega um momento em que não tem mais o que fazer", disse o treinador, que deixou o cargo antes do jogo contra o Bragantino.

No total, Veiga dirigiu a equipe por quatro meses e não recebeu. "Pelo contrário, coloquei dinheiro para ajudar os meninos e comprar gasolina para a máquina de cortar grama", comentou.

Antes de decidir que não entrariam em campo, os jogadores notificaram o Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo.

Diego Ortiz/O Popular
Cristian e outros jogadores do elenco deixam o estádio Vai Chaves após reunião com o presidente do Mogi Mirim
Cristian e outros jogadores do elenco deixam o estádio Vai Chaves após reunião com o presidente do Mogi Mirim

ABANDONO

O presidente Luiz Henrique Oliveira negou que ofereceu um cheque, supostamente sem fundo, para os atletas. Ele afirmou que pretendia quitar parte dos salários dos jogadores com a venda do ônibus do clube, o que não conseguiu.

"Estava tentando pagar com a venda do nosso ônibus. Eles aguardaram essa semana. Infelizmente, não conseguimos fazer a venda do ônibus e eles decidiram não entrar em campo", disse o dirigente, que admite abandonar a competição por falta de recursos.

"Não tenho como saber quais serão os próximos passos. Durante a semana, vou conversar com o jurídico e tomar uma medida mais concreta. Venho fazendo a manutenção do clube com recursos próprios, mas achei por bem não colocar mais recursos próprios no Mogi Mirim."

Segundo o Regulamento Geral de Competições da CBF, o time que decidir abandonar um torneio fica suspenso automaticamente de qualquer outra competição coordenada pela CBF pelo prazo de dois anos. Ainda de acordo com o regulamento, caso o clube dê dois W.O também sofre a mesma punição.

Atualmente, o Mogi Mirim ocupa a última colocação do Grupo B da Série C, com 10 pontos —cinco a menos do que o Bragantino, primeiro fora da zona da degola. A equipe ainda tem mais quatro jogos para disputar até o final da primeira fase.

Diego Ortiz/O Popular
Luiz Henrique Oliveira, presidente do Mogi Mirim, durante entrevista
Luiz Henrique Oliveira, presidente do Mogi Mirim, durante entrevista

DESMANDO E REBAIXAMENTOS

O desmando no Mogi Mirim começou em julho de 2015, quando o pentacampeão Rivaldo renunciou à presidência do clube. Ele deixou o clube nove meses após conseguir o seu objetivo, que era chegar à Série B do Brasileiro.

O ex-jogador da seleção brasileira repassou a equipe para o empresário português Victor Manuel Simões, que assumiu uma dívida do time com o próprio Rivaldo no valor de R$ 11,9 milhões. No acordo, Simões deveria pagar para o pentacampeão R$ 500 mil mensais até atingir o valor da dívida.

Simões assumiu como vice-presidente e colocou Luiz Henrique Oliveira na presidência. A parceria, porém, não durou dois meses. Após um desentendimento, Simões deixou a vice-presidência. No final de 2015, Luiz Henrique Oliveira se reelegeu com mandato até o final desta temporada.

Desde que assumiu o clube, Oliveira acumulou três rebaixamentos consecutivos. Ainda em 2015, o clube foi rebaixado para a Série C do Brasileiro.

No ano passado, caiu para a Série A2 do Campeonato Paulista e, neste ano, para a Série A3. Agora, o time está perto do rebaixamento para a quarta divisão do campeonato nacional.

Sem dinheiro para disputar a Série C, o atual presidente do Mogi Mirim tentou durante dois meses (maio e junho) uma parceria com o empresário Mário Teixeira, ex-executivo do Bradesco e proprietário do Grêmio Osasco, do Osasco FC, do Audax Rio e do Audax paulista.

A equipe até treinou e realizou o primeiro jogo em Osasco mas, como as negociações não evoluíram, retornou para Mogi Mirim.


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