Folha de S. Paulo


Busquei impedir propina em obra olímpica, diz ex-prefeito Eduardo Paes

Ricardo Borges/Folhapress
Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, em seu antigo gabinete
Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, deixou o cargo neste ano

Um ano após os Jogos, o ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB) afirma que a Olimpíada contribuiu para melhorar a infraestrutura do município e nunca teve como ambição resolver todos os problemas da cidade.

Ele atribui a uma "confusão" a associação dos Jogos com a crise, e considera injustas as críticas à utilização das arenas após o evento.

Entrevistado na terça (1º) sobre a Olimpíada, ele foi ouvido novamente para comentar a prisão, na quinta (3), do ex-secretário municipal de obras Alexandre Pinto, responsável por parte dos contratos dos Jogos.
Questionado se, após o caso, o evento pode ser associado a corrupção disse: "Busquei sempre impedir que esse tipo de coisa acontecesse."

RAIO-X DO GASTO COM OLIMPÍADA - Total gasto, em R$ bilhões

RAIO-X DO GASTO COM OLIMPÍADA - Origem dos recursos, em R$ bilhões

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IMAGEM DO RIO
A imagem externa é excepcional, de um grande evento. Nos EUA, sempre ouço as pessoas falando: "Falaram que não ia acontecer e foi um sucesso". Mas é óbvio que os Jogos foram prejudicados pelos problemas dos últimos anos. Crise econômica, política, denúncias, escândalos. Isso tudo gera algum tipo de dano e muita confusão sobre as coisas positivas. Sob o ponto de vista de infraestrutura foi um avanço enorme para o Rio. Mas é um equívoco achar que a Olimpíada resolveria todos os problemas da cidade. Nunca foi o propósito.

JOGOS COMO MOTIVO DA CRISE
Há uma confusão. Não há nada mais esdrúxulo que dizer que a crise do Estado do Rio tem relação com a Olimpíada. É o típico do caso de colocar na conta da Olimpíada sem nenhuma razão.

MEGALOMANIA
Acho que a linha 4 do metrô [que custou R$ 10 bilhões e transporta metade do esperado] foi uma grande conquista para a cidade. Tem que se construir uma linha de metrô pensando para frente. A Transolímpica é uma das linhas do plano do Lacerda [dos anos 1960]. Foi feita com muito atraso. Hoje não está na capacidade máxima. Que bom! Em uma, as pessoas reclamam que está na capacidade máxima [referência à Transcarioca, que costuma ficar lotada]. Na outra, que está abaixo.

COBRANÇA DE R$ 120 MILHÕES
Era um convênio [com o comitê organizador] que abria a possibilidade de pagar até R$ 150 milhões [para cobrir os gastos com a organização da Olimpíada], não era obrigado. Até eu sair da prefeitura, não se tinha prestado contas dos R$ 30 milhões repassados. Acho que essa conta não deve ser paga pelo poder público.

ABANDONO DO PARQUE OLÍMPICO
O grande desafio é o legado esportivo. Executar o que a gente planejou. O mundo que eu planejei era justamente imaginando as deficiências do poder público. Seria uma PPP, mas, somados dois fatores
-uma crise econômica e um prefeito que estava saindo-, não teve interessado. O ministério [do Esporte] está fazendo um esforço grande. É injusta a cobertura [sobre a utilização do espaço]. Em janeiro já diziam que estava abandonado. Tenho foto de Londres, em 2014, com tudo em obra ainda. Isso demora um tempo.

PROPINA
Espero que não tenha acontecido pagamento de propina em obras da Olimpíada [segundo investigação da Polícia Federal, o ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto cobrou propina em obras de legado da Copa do Mundo e da Olimpíada]. Busquei sempre impedir que esse tipo de coisa acontecesse.


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