Folha de S. Paulo


Catimbeiro e bancado por Telê, Waldir Peres tirou até ídolo alemão do sério

Paul Breitner, titular da Alemanha, jamais havia perdido um pênalti. Contra Waldir Peres, desperdiçou dois seguidos. O goleiro da seleção brasileira defendeu o primeiro. O árbitro mandou voltar. Na segunda cobrança, nova defesa.

"Eu gritei que ele ia perder. Em português mesmo", relembrou Peres, anos depois.

A catimba e a malandragem no futebol foram duas características marcantes do goleiro que morreu neste domingo (23), aos 66 anos. Ele sofreu infarto no início da tarde, após almoço com familiares em Mogi Mirim (160 km de São Paulo).

Um dos jogadores mais importantes da história do São Paulo, atuou 617 vezes pela equipe (o segundo com mais partidas pelo clube, só superado por Rogério Ceni). Foi campeão brasileiro de 1977 e paulista em 1975, 1980 e 1981.

Em campo, era uma presença inconfundível pela calvíce precoce e eterna tentativa de conversar com os adversários para desconcentrá-los. A tática que deu certo contra o alemão Breitner.

"Além de ser um grande goleiro, ele tinha essa característica de catimbar. Era bom jogar com ele e ruim jogar contra ele", afirma Serginho Chulapa, que atuou com Peres no São Paulo e depois foi adversário no Santos.

A catimba na disputa de pênaltis contra o Atlético-MG ajudou a dar ao São Paulo o primeiro título brasileiro da história do time, em 1977. Entregava a bola para os batedores rivais, sorrindo e garantindo que eles não acertariam. Deu certo. Erraram todos os chutes.

Mas ele era mais do que isso, tanto que Telê Santana enfrentou os críticos para colocá-lo como titular do gol brasileiro na Copa de 1982. Em 1978, havia sido reserva.

Waldir Peres falhou na estreia contra a União Soviética, mas depois teve um torneio sem problemas. O consenso na imprensa era que a primeira escolha deveria ser Emerson Leão, então campeão nacional com o Grêmio. Ele sequer foi convocado.

CARREIRA

Nascido em Garça (405 km de São Paulo), Peres foi vice-campeão no Mundialito de 1981, no Uruguai, com a seleção. A última partida das 39 que fez pelo Brasil foi a derrota para a Itália que causou a eliminação da Copa. Depois, não foi mais chamado.

Ser titular da seleção que é considerada uma das maiores da história do futebol foi o auge e começo da queda na carreira do goleiro. Ele não voltou a conquistar títulos também por clubes.

Em 1983, deixou o São Paulo após brigar com a diretoria. Passou por América-RJ e Guarani. Em 1986, foi contratado pelo Corinthians. Fez parte da reação do time no Paulista de 1987, que terminou o 1º turno na lanterna, mas disparou no returno e chegou à final. Passou também por Portuguesa, Santa Cruz e Ponte Preta.

Após parar de jogar, tentou ser treinador, mas não conseguiu ter destaque e passou apenas por times pequenos. Temperamental, continuava dando declarações polêmicas, como a opinião de que o goleiro Dênis, do São Paulo, não poderia ser titular.

Waldir Peres deixa dois filhos, que moram na capital paulista, e uma filha, atualmente residente na Malásia.

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