Folha de S. Paulo


Crítica

Biografia conta história de superação de Serginho no vôlei

"Chegou um magrelo, perninhas finas, shortinho, camisetinha branca. Não tinha a menor postura de jogador. Eu me perguntei: 'Será que isso joga, meu Deus?'. Mas como era a última seletiva e não tinha ninguém para jogar, eu o vi bater bola e falei: 'Acho que pode dar certo'."

São as impressões da professora Sílvia Souza Lima registradas no recém-lançado "Degrau por Degrau - A Trajetória de Serginho, de Pirituba ao Olimpo", de autoria de Daniel Bortoletto, jornalista do diário "Lance!".

Sílvia foi a responsável por dar a primeira chance no vôlei ao menino Sergio Dutra Santos, e logo no Palmeiras -ele é corintiano fanático e hoje, aos 41 anos, joga no Corinthians/Guarulhos.

Àquela altura, o garoto já havia tentado a peneira de clubes como Banespa e Pirelli, sem sucesso.

Um dos méritos do livro, aliás, é narrar com clareza e fluência os anos de sacrifício de Serginho antes de se tornar o maior medalhista em esportes coletivos da história olímpica do Brasil, com dois ouros (Atenas-2004 e Rio-2016) e duas pratas (Pequim-2008 e Londres-2012).

Nascido em Diamante do Norte (PR), ele se mudou com a família para São Paulo quando tinha só nove meses. Na adolescência em uma área carente do bairro de Pirituba, na zona norte paulistana, ele trabalhou como empacotador e vendedor ambulante, entre outro bicos.

"Não passávamos fome, mas às vezes a quantidade não dava pra todo mundo. Se alguém estava com mais fome, o outro dava um pouco da sua parte", conta Nei, irmão caçula de Serginho, no primeiro capítulo.

Zanone Fraissat/Folhapress
Escolhido o melhor jogador de vôlei da Olimpíada do Rio, Serginho lança biografia
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Outro trunfo do livro é a descrição de momentos memoráveis. Em detalhes, o autor mostra como uma fala de Serginho antes da disputa contra a França, na Rio-2016, foi determinante para que a equipe, enfim, ganhasse ímpeto rumo ao título.

O líbero lançou mão de uma imagem forte, uma UTI, para lembrar os problemas pulmonares que seu segundo filho, Matheus, havia tido logo após o nascimento. Também recorreu a UTI como símbolo do fim que estava próximo -uma derrota para a França eliminaria a seleção brasileira e seria a despedida olímpica de Serginho.

A emoção dos atletas após a fala dele contribuiu para o time se reerguer até alcançar o ápice, a vitória na partida final, contra a Itália.

Há, contudo, problemas evidentes no livro. O autor reitera conceitos genéricos, como garra e resistência, mas pouco explora aspectos técnicos. Quais os métodos de treinamento levaram Serginho a lapidar o passe a ponto de alcançar a precisão que acostumamos a ver? Não é um detalhe em se tratando do maior líbero da história.

Degrau Por Degrau
Daniel Bortoletto
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"Degrau por Degrau" aborda conflitos que tumultuaram a seleção, como o que levou à saída do levantador Ricardinho. Mas não expõe detalhes, como era de se esperar em uma obra de fôlego.

Por fim, um índice onomástico viria bem a calhar.

DEGRAU POR DEGRAU
AUTOR Daniel Bortoletto
EDITORA Planeta (254 págs.)
QUANTO R$ 36,90
CLASSIFICAÇÃO bom


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