Folha de S. Paulo


Surfe e skate divergem sobre entrada na Olimpíada

Historicamente, o surfe e o skate tiveram diversos pontos de intersecção. Desde seu nascimento na Califórnia, o skate teve relação umbilical com a modalidade aquática.

Hoje, no entanto, a inclusão de ambos os esportes na Olimpíada de Tóquio-2020 tem gerado opiniões divergentes entre os praticantes.

Os surfistas profissionais mostram empolgação com a novidade, ao passo que os skatistas são reticentes.

"Ainda está muito longe. Hoje eu não me preocupo com a minha participação, mas eu tenho uma certeza: eu estarei lá, como atleta ou como torcedor", disse à Folha Adriano de Souza, o Mineirinho, brasileiro campeão mundial de surfe em 2015.

"Significaria muito para mim participar da Olimpíada em 2020", afirma Gabriel Medina, vencedor do Mundial em 2014. "Seria um sonho."

Maior surfista da história, o norte-americano Kelly Slater, 45, fez campanha para a inclusão do surfe nos Jogos Olímpicos e já manifestou desejo de participar do evento.

"Se eu estiver bem fisicamente, sem lesões e se for escolhido pelos EUA, seria uma grande honra participar, ainda mais com a minha idade", disse o onze vezes campeão mundial ao programa "In Depth With Graham Bensinger", em março de 2016.

Altamente profissionalizado e com projeto grandioso de cobertura dos eventos por parte da World Surf League, organizadora do principal campeonato do mundo, o surfe ganhou uma faceta mais "mainstream" que a do skate nos últimos anos, especialmente no Brasil, com o surgimento da popular geração da "Brazilian Storm".

A despeito de também ter competições de sucesso internacional e contar com investimento forte, o skate se manteve como elemento da contracultura urbana, carregando uma noção de rebeldia contra o que é tradicional ou representa autoridade.

"Quando comecei a andar de skate, eu o fiz porque as pessoas à minha volta não gostavam. A sociedade via como algo só para vagabundos, o que me instigava mais ainda. Tinha vontade de fazer parte dessa cultura que era pequena, fechada e nossa", afirma o skatista brasileiro Bob Burnquist, 40.

Alguns skatistas profissionais têm visto a entrada da modalidade na Olimpíada como algo que contrasta com a história da modalidade.

"É uma oportunidade de crescimento, mas não é a nossa identidade. Está muito longe de ser. Competição e skate como estilo de vida não batem", afirma Burnquist.

"O skate existe independente do que se chama de esporte. É um estilo de vida. A maioria dos skatistas começa a andar de skate como brincadeira, sem vontade de competir", completa.

Para Burnquist, a vantagem da entrada nos Jogos está na possibilidade de promoção do esporte para um público mais amplo.

"Vejo mais como uma oportunidade de promover o skate, de as prefeituras do mundo inteiro construírem mais pistas a partir do argumento da Olimpíada. Se isso acontecer, será ótimo."

No final de 2015, mais de 5.000 skatistas assinaram petição pedindo para o COI (Comitê Olímpico Internacional) não aprovar a entrada do skate nos Jogos de 2020.

Tony Alva, 59, um dos pioneiros do esporte, é duro em suas críticas: "O skate é uma arte e precisa se dissociar da corrupção política e da ganância do COI. A Olimpíada tem a ver com os ricos ficando mais ricos e os mais pobres como vítimas do chamado progresso. A lista é longa: Grécia, China, Rússia e recentemente Brasil", disse ao site especializado Highsnobiety.

REJUVENESCIMENTO

O COI (Comitê Olímpico Internacional) aprovou em 3 de agosto passado, no Rio, a entrada de novas modalidades no programa do evento a partir dos Jogos de Tóquio, em 2020.

Além do surfe e do skate, foram incluídos beisebol/softbol, caratê e escalada na lista de eventos.

O ingresso de todos eles está dentro de um contexto de investimento para rejuvenescer os Jogos Olímpicos, o que tem se intensificado desde 2014.

Essas modalidades são identificadas como de substancial apelo global.

No mês passado, o COI também anunciou a adição de outras provas em modalidades que já constavam do programa olímpico. A intenção foi ao encontro do espírito jovem que quer dar à Olimpíada.

O atletismo e natação terão disputas mistas e o basquete terá modalidade de três contra três.


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