Folha de S. Paulo


Sem gol após mais uma final, Higuaín tem nova ameaça na seleção argentina

Marco Bertorello/AFP
Higuaín ao lado de Dybala e Daniel Alves em treino da Juventus
Higuaín ao lado de Dybala e Daniel Alves em treino da Juventus

Gonzalo Higuaín, 29, era o objeto de desejo da imprensa italiana após a derrota da Juventus para o Real Madrid, na final da Liga dos Campeões da Europa, no último sábado (3). Repórteres discutiam sobre a melhor maneira de perguntar ao jogador o que aconteceu em campo. O artilheiro da equipe na temporada, com 32 gols, quase não tocou na bola nos 90 minutos.

O único momento em que apareceu foi ao deixar a bola bater em seu peito para que fosse para Mandzukic fazer o que se esperava de Higuaín: o gol.

Os jornalistas ficaram a ver navios. Com a expressão abatida, ele e seu parceiro de seleção argentina, Paulo Dybala, 23, saíram sem atender aos chamados para falar. Os dois não terão tempo para descanso, apesar do encerramento da temporada europeia. Enfrentam o Brasil na próxima sexta (9), na Austrália, em amistoso. Será a estreia do técnico Jorge Sampaoli.

"Não foi um jogador específico. Não foi a defesa. Não foi o ataque. Ninguém jogou bem [contra o Real Madrid]. Que sentido faz buscar culpados?", questionou Gianluigi Buffon, goleiro da Juventus.

O problema é que Higuaín foi a contratação mais cara feita pela Juventus no início da temporada. O clube de Turim pagou ao Napoli cerca de 90 milhões de euros (R$ 332 milhões pela cotação atual).

Transformou o centroavante no quarto jogador mais caro da história do futebol. Perde para Paul Pogba (da Juventus para o Manchester United), Gareth Bale (do Tottenham Hotspur para o Real Madrid) e Cristiano Ronaldo (do Manchester United para o Real Madrid).

Na coletiva após a derrota, Massimiliano Allegri não foi questionado sobre a promessa feita antes da decisão:

"Higuaín fará uma grande partida", disse o técnico.

Foi uma tentativa manjada de dar confiança para um dos seus principais jogadores. Mas por que alguém questionaria a possibilidade de o atacante, artilheiro da equipe e autor de dois gols na semifinal, não brilhar na decisão?

Porque Higuaín tem um histórico de passar em branco em partidas que valem taça, especialmente pela seleção argentina.

Na Copa de 2014, perdeu a melhor chance da sua equipe na final diante da Alemanha, quando a partida ainda estava 0 a 0. Ele só fez um gol em toda a competição.

Em duas finais de Copa América (em 2015 e 2016, ambas contra o Chile), teve nos pés oportunidades que poderiam ter mudado a história da competição. Desperdiçou-as e a Argentina saiu derrotada todas as vezes.

À espera pelos jogadores após a derrota, jornalistas italianos comentavam que a Juventus está interessada em Belotti, goleador do Torino e um dos melhores jogadores do último Campeonato Italiano.

O assunto persiste, mesmo após Allegri tê-lo descartado. Não é provável que aconteça a transferência porque são rivais de cidade e a multa rescisória do jogador é de 100 milhões de euros.

Continuar passando em branco pela seleção pode lhe trazer problemas. Higuaín tem característica parecida com a de Mauro Icardi, goleador da Internazionale.

Este não era ameaça para a posição de Gonzalo porque não era chamado. Os demais jogadores não veem Icardi com bons olhos, já que ele era amigo do também atacante argentino Maxi Lopez e "roubou" a mulher dele: a ex-vedete Wanda Nara. Mas na primeira convocação de Sampaoli, o renegado foi incluído na lista. O que é um risco para Higuaín a um ano da Copa do Mundo.

Na Juventus, ele lidera uma panela de jogadores sul-americanos que estão sempre juntos: o brasileiro Dani Alves, Dybala e o colombiano Cuadrado.

Na seleção não acontece a mesma coisa, até porque Higuaín tem desafetos como o volante Fernando Gago (não chamado para enfrentar o Brasil) e ainda vê o fantasma de outros jogadores que não costumam jogar bem na seleção, mas que possuem aliados.

Sergio Aguero, por exemplo, é o melhor amigo de Lionel Messi, que conviveu com a persistente história na imprensa argentina de que escalava a equipe quando Edgardo Bauza era técnico. Algo que sempre foi negado.

Pela Juventus, Higuáin fechou a temporada com os títulos do campeonato e da Copa da Itália. Mas como não marcou (e jogou mal) em mais uma final, vê os questionamentos retornarem.


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