Folha de S. Paulo


Zidane vai de técnico tampão a melhor do mundo no Real

A camisa mais popular entre os torcedores do Real Madrid em Cardiff era de Cristiano Ronaldo. Claro. Como seria diferente? Mas a segunda mais vista tinha o número cinco às costas e o nome "Zidane". Era o uniforme usado pelo hoje técnico Zinédine Zidane quando era jogador da equipe, entre 2001 e 2006.

Como meia, fez o gol do título da Liga dos Campeões em 2002. Como técnico inexperiente, levou o Real Madrid a dois títulos europeus.

"Zidane pode ficar no Real Madrid pelo resto da vida, se quiser", disse o presidente do clube, Florentino Pérez, durante a festa do título.

A reação de Zidane após a conquista não foi de exultação. Não saiu em disparada e socou o ar. Não era assim como jogador, por que seria como técnico? Distribuiu sorrisos e abraços. Foi discreto.

"Muita gente duvidou dele, como se alguém como ele tivesse de provar alguma coisa no futebol", disse Gareth Bale, que pode ter feito os últimos 15 minutos com a camisa do Real Madrid neste sábado (3). Zidane prefere um esquema com dois atacantes e estes são Benzema e Cristiano Ronaldo, cada vez mais centroavante de finalização.

Em junho de 2017, pode parecer estranho que Zidane tenha sido visto com dúvidas. Mas foi isso o que aconteceu.

Em janeiro de 2016, ele foi o escolhido para substituir Rafa Benítez, um treinador ranzinza que não conseguiu ter empatia com jogadores e torcedores. Foi uma escolha polêmica e vista como de transição. Ao final da temporada, um nome mais experiente seria contratado.

Seu único trabalho havia sido no Real Madrid Castilla, a equipe B. Falhou na tentativa de levá-la para a segunda divisão da Espanha. Como teria sucesso na principal?

Zidane estabilizou o barco. Sua maior virtude foi perceber a característica de cada jogador. Quem reagia melhor a uma bronca e quem precisava de um ombro amigo. Compreendeu também que Cristiano Ronaldo, para estar concentrado em campo, precisava ter o ego massageado.

Na Liga dos Campeões, já tem mais conquistas como técnico do que como jogador (apenas uma). O Real Madrid comandado pelo francês foi o primeiro time a levantar o troféu em dois anos seguidos depois do Milan de 1990.

"Eu joguei aqui por muitos anos. Este clube está no meu coração. Claro que vou ficar. Vamos nos preparar para a próxima", disse minutos após o 4 a 1 sobre a Juventus.

Um resultado construído no vestiário do Millennium Stadium, no intervalo da partida. Com o placar em 1 a 1 e a Juventus com o controle da final, ele exigiu que a bola ficasse mais no ataque, com menos erros de passes. Se aquilo não acontecesse, o Real Madrid perderia.

"Ele não disse aquilo bravo. Não é do estilo dele brigar o tempo todo. Mas todos o escutam", disse Sergio Ramos.

O treinador tem mais um ano de contrato em Madri. É difícil imaginá-lo saindo em 2018, a não ser que a qualidade dos resultados e atuações caiam de forma aguda. Algo que não parece provável.

No calor do momento, Florentino Pérez chegou a afirmar que o ex-meia é o melhor do mundo na nova profissão.

"Quando ele chegou na equipe, em 2001, era o melhor jogador do mundo. Hoje é o melhor treinador", disse.


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