Folha de S. Paulo


Gols podem render a Cristiano troféus e igualdade com Messi

Javier Soriano/AFP
Real Madrid's Portuguese forward Cristiano Ronaldo celebrates his second goal during the UEFA Champions League semifinal first leg football match Real Madrid CF vs Club Atletico de Madrid at the Santiago Bernabeu stadium in Madrid, on May 2, 2017. / AFP PHOTO / JAVIER SORIANO ORG XMIT: JS1410
Cristiano Ronaldo comemora gol na partida contra o Atlético de Madri, pela Liga dos Campeões

Zinedine Zidane nem respirou antes de responder qual time venceria o duelo entre o Real Madrid do início do século, em que era titular no meio-campo, e o atual.

"O atual. Porque tem Cristiano Ronaldo. Ele faz gols", disse.

Astro do título da Copa do Mundo da França de 1998 e campeão da Liga dos Campeões da Europa pelo Real Madrid em 2002, Zidane é um dos maiores meias da história do futebol. A resposta arrancou alguns sons de escárnio na sala de imprensa.

"Vocês têm ideia do quanto é difícil fazer um gol?", questionou.

Gols são o ofício de Cristiano Ronaldo, 32, atual dono do título de melhor do mundo e candidato a repetir o feito.

Especialmente se o Real Madrid derrotar a Juventus neste sábado (3), em Cardiff, pela final da Liga dos Campeões. Nem sempre foi assim. Entre 2003, quando foi contratado aos 18 anos pelo Manchester United (ING) a 2006, quando explodiu no futebol, o atacante não foi unanimidade. Tinha flashes de talento, mas acumulava críticas pelo excesso de firulas e egoísmo em campo.

Contratado em 2009 pelo Real Madrid, ele é o maior artilheiro da história do clube, com 404 gols marcados. Com 118, está em 18º no ranking de goleadores do time inglês.

Uma vitória sobre a Juventus no País de Gales apagaria uma das poucas mágoas que ele guarda na carreira. No mesmo Millennium Stadium da decisão da Liga dos Campeões, o Manchester United perdeu nos pênaltis a final da Copa da Inglaterra para o Arsenal em 2006. Cristiano Ronaldo definiu como um dos piores dias da sua carreira.

Desde então, ele não teve muitos iguais àquele. Ganhou três vezes a liga europeia (2008, 2014 e 2016. Perdeu a final de 2009). Foi três vezes campeão inglês, ganhou três campeonatos espanhóis, duas copas do rei e três mundiais de clubes. Venceu quatro vezes o prêmio de melhor jogador do mundo.

"Ele é o melhor jogador com o qual você pode querer trabalhar. Nunca está cansado. Sempre quer melhorar mais e mais. Ele é um exemplo. Em 2009, quando se tornou inevitável ele ir para o Real Madrid, eu lhe disse: 'vá lá e não se preocupe em se tornar o melhor do mundo porque você já é'", disse à Folha, por meio de mensagem da assessoria, o ex-técnico do Manchester United, Sir Alex Ferguson.

Foi com Ferguson que Cristiano Ronaldo se tornou, a partir de 2006, uma máquina de fazer gols. Convenceu o jogador de que ele precisava ser mais objetivo em campo.

O mais importante era o gol, não o drible. Adotou-o quase como um filho. Para os demais jogadores, o atacante era um bicho de estimação do treinador, a quem tudo era permitido. O principal motivo para o clube ter vendido Ruud van Nistelrooy, artilheiro do elenco, em 2005, foi a relação ruim com Ronaldo.

Editoria de Arte/Folhapress
Final champions
Números de Cristiano Ronaldo

Para Madri, ele levou a incansável prática de faltas e finalizações. Apurou o faro de gol, virou maior referência ofensiva e se tornou ainda mais vaidoso.

A diretoria do clube teve de esconder o valor correto da negociação por Gareth Bale em 2013 para não melindrar Ronaldo, que deixaria de ser o jogador mais caro do elenco. O português foi comprado por 80 milhões de libras (R$ 334 milhões em valores atuais). O galês chegou à Espanha por 85 milhões de libras (R$ 355 milhões).

"Ronaldo é o jogador que precisa se sentir querido. Ele tem de ser o centro das atenções e o foco das jogadas de ataque. Se isso não acontece, começam os problemas. Mas o poder de finalização que tem beira o inacreditável", afirma o holandês René Meulesteen, que trabalhou com o artilheiro em Old Trafford.

E ele criou problemas em alguns momentos no Real Madrid. Chegou a incentivar os boatos de que poderia deixar o clube, apenas para ouvir que continua o nome mais importante do elenco.

Reclamou por ser vaiado no estádio Santiago Bernabéu. Cultiva com zelo a imagem, o cabelo sempre impecável, gosta de tirar fotos em que mostra o abdômen definido. As entrevistas de Cristiano Ronaldo que não sejam em eventos oficiais ou coletivas de imprensa obrigatórias, são raras.

Em Cardiff, sua imagem nas ruas como atração da final no Millennium Stadium só perde para Gareth Bale. Mas não teria como ser diferente, já que o galês jogará em casa.

O título da Liga dos Campeões colocará Ronaldo de novo como favorito para ser escolhido melhor do mundo. A quinta conquista seria o bastante para igualar a marca de Lionel Messi, com quem vive uma disputa particular que, pela intensidade e duração, é a maior da história do futebol entre dois jogadores.

Vitória em Cardiff seria mais uma festa para Cristiano Ronaldo postar nas redes sociais, se orgulhar por alguns dias e depois partir para a próxima.

Como no dia em que chegou a Carrington, no centro de treinamento do Manchester United, mostrando aos brasileiros Rafael e Fabio da Silva a Ferrari novinha em folha que havia comprado naquele dia.

Horas depois, a enfiou no muro de um túnel nas redondezas de Manchester.

"No outro dia, ele chegou sorrindo, como se nada tivesse acontecido", lembra Rafael.


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