Folha de S. Paulo


Final feminina da Liga dos Campeões tem desorganização e erro de goleira

Javier Soriano/AFP
Jogadores do Olympique de Lyon celebram o título da Liga dos Campeões
Jogadores do Olympique de Lyon celebram o título da Liga dos Campeões

"Há algo errado."

A reportagem da Folha havia comprado um ingresso para o setor Canton, na arquibancada do Cardiff Stadium. Minutos depois, Paris Saint-Germain e Lyon (ambos da França) fariam a final da Liga dos Campeões da Europa de futebol feminino. Após empate em 0 a 0, o Lyon foi campeão na disputa de pênaltis.

Dentro do envelope estavam cinco ingressos. Três com preço cheio e dois meia-entrada. Após 15 minutos de debate com a funcionária do ticket office do estádio, ela se cansa e decreta:

"O sistema mostra que o senhor comprou cinco ingressos, seu cartão foi debitado e o gerente não está aqui. Tem certeza que não tem ninguém aí fora para quem possa doá-los?"

Foi a primeira amostra de que não é verdadeira a imagem que a Uefa tenta passar de que as finais masculinas e femininas do torneio recebem a mesma atenção da entidade.

Quando a partida começou, boa parte do público ainda tentava retirar o bilhete comprado antecipadamente ou adquiri-lo em quiosques montados para negociar as entradas no dia do evento. Algo impensável para este sábado (3), quando Real Madrid (ESP) e Juventus (ITA) se enfrentam pelo título masculino. Cada clube recebeu 18 mil ingressos e os restantes 30 mil foram distribuídos pela Uefa a patrocinadores ou vendidos por sorteio pela internet. A procura era muito maior do que a disponibilidade. Estão esgotados há mais de um mês e disputados a tapa pelo mercado paralelo.

Em Cardiff, pode ser encontrado com dificuldade por 2 mil libras (cerca de R$ 8,5 mil). O preço normal variava entre 60 e 390 libras (R$ 260 a R$ 1,6 mil).

O valor único para ver a final feminina da Liga dos Campeões era 6 libras (R$ 26).

A confusão para venda e entrega dos ingressos foi feita pela Federação Galesa, a quem a Uefa entregou a organização, algo que não acontece na decisão masculina. A entidade europeia controla com mão de ferro tudo o que se refere ao principal evento de clubes do planeta, mas delega à federação do país que vai receber o evento o papel de organizar a partida das mulheres.

Os dois eventos acontecem em Cardiff, mas em estádios diferentes. Real Madrid e Juventus vão se enfrentar no Millennium Stadium, o principal estádio local, com capacidade para 74 mil pessoas, mas o público máximo para a decisão foi reduzido para 66 mil. PSG e Lyon jogaram no Cardiff Stadium, que pertence ao Cardiff City, da segunda divisão da Inglaterra (alguns clubes galeses jogam a liga do país vizinho) e pode receber 33.280 torcedores.

O público total registrado nesta terça foi de 22.433 pagantes. Partes das arquibancadas permaneceram fechadas.

A não ser por um setor de cadeiras atrás de um dos gols, em que estavam integrantes de torcida organizada do PSG, o público foi diferente do que se espera na final de sábado. Para combater a falta de emoções do jogo, os torcedores começaram a fazer "olas" quando faltavam 15 minutos para acabar o tempo normal e apesar da indefinição quanto ao campeão. Amigos conversavam animadamente, sem olhar para o campo, enquanto a brasileira Cristiane tentava criar algum lance de perigo para o time de Paris. Famílias numerosas podiam ser vistas no Cardiff Stadium por causa do preço do ingresso. Para acontecer o mesmo no Millennium, o investimento financeiro tem de ser bem mais pesado.

Tecnicamente, a partida foi ruim. A não ser por uma chance de gol criada para cada lado, a final pouco ofereceu de emoção. O Lyon, que fez 103 gols na liga francesa nesta temporada, buscou o ataque. O PSG se defendeu e tentou acionar Cristiane no contragolpe que nunca veio.

A maior emoção foi quando, na oitava cobrança de pênalti do Paris Saint-Germain, a goleira Kiedrzynek chutou para fora. Bouhaddi, goleira do Lyon, acertou e deu o quarto título da Liga dos Campeões feminina para o clube, o segundo consecutivo.

Kiedrzynek saiu de campo chorando, inconsolável, amparada pelas companheiras, para mostrar que na essência, o futebol não depende do gênero.


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