Folha de S. Paulo


Com Bernardinho como mentor, Renan inicia nova era na seleção

Às 12h desta sexta-feira (2) se inicia uma nova era na seleção brasileira masculina de vôlei. Após 16 anos, a equipe não terá no banco Bernardinho, que a liderou na conquista de quatro medalhas olímpicas e outras quatro em Campeonatos Mundiais.

O duelo contra a Polônia, na abertura da Liga Mundial, em Pesaro (ITA), marca a estreia de Renan Dal Zotto, 56, no comando da equipe.

Atacante de renome e expoente da seleção que obteve a prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984, Dal Zotto não é calouro no comando de times de vôlei.

Foi, por exemplo, técnico do Florianópolis campeão da Superliga na década passada. Também dirigiu a equipe italiana do Sisley Treviso.

Mas é a primeira vez que treina um selecionado nacional. Até por isso, quer manter o padrão do antecessor.

Precavido, fez questão de manter o ex-treinador próximo. Bernardinho atua como consultor e participa de reuniões referentes à equipe.

"Não existe essa sombra [do Bernardinho]. Sombra é algo que perturba ou incomoda, e o que acontece é o contrário disso. É bom tê-lo ao nosso lado. É uma pessoa inspiradora, que agrega e que tem muito ajudar", afirmou, em entrevista à Folha.

Marcio Fernandes/Divulgação CBV
SAQUAREMA (RJ) - 18.05.2017 - Treino da selecao brasileira masculina de volei com o treinador Renan Dal Zotto, Credito: Marcio Fernandes : MPIX / CBV ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O técnico Renan dal Zotto, durante treino da seleção brasileira de Vôlei

A amizade entre ambos tornou o processo mais suave, apesar de um entrevero. Bernardinho gostaria que seu assistente, Roberley Leonaldo, o Rubinho, tivesse assumido a direção do time, mas foi preterido pela CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).

Para não romper totalmente com a espinha dorsal montada pelo predecessor, convocou dez dos 12 medalhistas nos Jogos Olímpicos do Rio.

Os ausentes são o líbero Serginho, que se aposentou da equipe, e o levantador Willian, que pediu para não ser convocado para o torneio.

"Desde o início, deixamos claro que a proposta não é de mudanças. É de continuidade e, claro, com algumas coisas novas", disse Dal Zotto.

"O mais importante é manter a cara do vôlei brasileiro, que sempre foi bastante ofensivo, brilhante e com jogadas rápidas", emendou.

Caras novas foram chamadas, como o líbero Thales e o central Otávio, mas a tendência é manter a base de antes.

Dal Zotto sabe que não haverá período para testes e que a cobrança por resultados positivos será imediata.

"Sabemos da pressão e das dificuldades devido ao equilíbrio enorme gerado nos últimos anos. Mas a proposta de trabalho sempre foi essa: manter o Brasil entre os primeiros. Nós buscaremos o pódio sempre. O resultado é consequência", disse.

No sábado (3), a seleção de Renan retorna à quadra para enfrentar o Irã, às 12h. No domingo (4), encerra participação nesta primeira rodada contra a Itália, em repetição da final da Rio-2016, vencida pelo Brasil por 3 sets a 0.

As finais da Liga Mundial serão disputadas na Arena da Baixada, em Curitiba, entre os dias 4 e 8 de julho. O Brasil, recordista em troféus do torneio, com nove, não conquista o título desde 2010.
Indagado se pensa em manter-se no cargo tanto tempo quanto Bernardinho, Renan cortou pela tangente.

"O esporte é muito dinâmico. O mais importante é que, enquanto eu estiver aqui, vou dar a vida pela seleção."

CHANCE PARA CUBANO

Renan Dal Zotto afirmou que pode abrir exceções para que o cubano naturalizado brasileiro Yoandy Leal participe de ações de "ambientação" com a seleção nacional.

Apontado como um dos melhores jogadores do mundo, o ponta obteve no início de maio liberação para defender o Brasil em 2019, após dois anos de carência, como rege a regra determinada pela federação internacional.

Desta forma, ele poderá disputar a Liga Mundial de 2019 e os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.

Leal, que foi campeão brasileiro, sul-americano e mundial pelo Cruzeiro, poderia fazer treinos com a equipe antes do Campeonato Mundial de 2018, que ocorrerá na Itália e na Bulgária, por exemplo.

"No momento justo, vamos avaliar como trazer o Leal. Mantendo o nível de performance que tem hoje, nada impede de fazermos uma ambientação com ele aqui na seleção", afirmou Dal Zotto.

Leal chegou ao Brasil em 2012, após passar praticamente dois anos inativo. O motivo foi a deserção da seleção cubana. Como escolheu não defender a equipe de seu país natal, pela qual foi vice-campeão mundial em 2010, foi impedido até de treinar.

Com o passar dos anos, o jogador de 28 anos consolidou-se como principal arma do Cruzeiro, que iniciou período de hegemonia no cenário nacional e internacional que se mantém até os dias atuais.


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