Folha de S. Paulo


Cavaliers e Warriors completam trilogia inédita pelas finais da NBA

Ezra Shaw/AFP
OAKLAND, CA - JUNE 13: Stephen Curry #30 of the Golden State Warriors drives to the basket against Kevin Love #0 of the Cleveland Cavaliers, J.R. Smith #5, and Tristan Thompson #13 during the second half in Game 5 of the 2016 NBA Finals at ORACLE Arena on June 13, 2016 in Oakland, California. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, User is consenting to the terms and conditions of the Getty Images License Agreement. Ezra Shaw/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
Jogadores do Cleveland Cavaliers bloqueiam ataque de Stephen Curry, do Golden State Warriors

No universo da NBA, é como se Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors estivessem numa galáxia muito, muito distante. A partir desta quinta-feira (1°), por uma série melhor de sete, as duas equipes se enfrentam pelo título pelo terceiro ano seguido –uma trilogia inédita na história das finais.

Em 70 anos de operação, a NBA já viu decisões se repetirem por dois campeonatos consecutivos em 12 ocasiões. Cavaliers e Warriors resolveram ir um passo além.

A trajetória de ambos os times durante os playoffs, aliás, foi tão fácil, que a liga agora tenta tirar de cartaz as críticas que alegam falta de competitividade.

O Golden State passou incólume pelas três primeiras séries, contra Portland, Utah e San Antonio, com 12 vitórias em 12 jogos. Tem, por isso, a chance de estabelecer um recorde: sair dos mata-matas com o troféu e invicto. Quem mais se aproximou dessa marca foram os Lakers de Shaquille O'Neal e Kobe Bryant em 2001, com 15 vitórias e apenas um revés.

Já o Cleveland Cavaliers tropeçou apenas uma vez ao perder o terceiro jogo da final do Leste contra o Boston Celtics. Antes, havia "varrido" Indiana e Toronto.

Chamada Especial NBA
Clique e veja especial sobre os finalistas da NBA

Só os finalistas teriam a força, então? Isso seria realmente um problema?

O ala-pivô Draymond Green, líder emotivo e desbocado dos Warriors, entende que não: "Acho que é importante para a liga, ao contrário do que sugere a crença popular. Dizem que é entediante. Mas está faltando às pessoas apreciarem a nossa grandeza".

Os números, de fato, impressionam. Juntos, os times tiveram 7 dos 24 jogadores convocados para o "All-Star Game": o armador Stephen Curry, os alas Kevin Durant e Klay Thompson e o ala-pivô Draymond Green pelos Warriors; o ala LeBron James, o armador Kyrie Irving e o ala-pivô Kevin Love pelos Cavs.

O triênio vivido pela equipe californiana pode até mesmo se equiparar ao que a dinastia do Chicago Bulls realizou nos anos 90. Nesse período, os Warriors acumularam 207 vitórias, média de 69 por campeonato. A histórica equipe de Michael Jordan computou 203 triunfos entre 1996 e 1998, média de 67,6. A diferença é que os Bulls ganharam o tricampeonato, enquanto os Warriors buscam o segundo título, depois de perderem a final do ano passado, de virada, após abrirem vantagem de 3 a 1, com mando de quadra.

No Leste, o imperador LeBron James representa também uma "estrela da morte" para a concorrência: seja pelos Cavaliers ou pelo Miami Heat, venceu a conferência pelo sétimo ano seguido "" não houve rebeldes que o depusessem na região.

"Tive essa sorte de poder levar duas franquias a quatro finais cada uma", disse o ala, que, aos 32 anos e em sua 14ª temporada, não dá sinais de arrefecimento. "Nunca ninguém havia feito isso."table(articleGraphic).

EVOLUÇÃO

Para LeBron, neste tira-teima, as atuais versões dos finalistas são ainda melhores que as dos anos anteriores. "O que essas mudanças significam? Não sabemos ainda. Vamos ver", disse.

Os Cavaliers reforçaram suas tropas reservas com a adição do armador Deron Williams e do ala Kyle Korver.

Do outro lado, os Warriors causaram um terremoto na liga quando fecharam com Kevin Durant, jogador mais valioso da liga em 2014, que tem média de 27,2 pontos na carreira. Como se já não tivessem Jedis o bastante.

Ao deixar o Oklahoma City Thunder, Durant foi amplamente criticado, por supostamente seguir a trilha mais fácil para conquistar o primeiro título de sua carreira. Além disso, sua contratação é vista como um fator de desequilíbrio para a liga.

"Por acaso sou a razão pela qual Orlando não chega aos playoffs há cinco anos? Fui o motivo para que o Brooklyn tenha entregado tudo a Boston [risos]? Não posso jogar por todos os times. Além disso, sozinho, não conseguiria fazer de qualquer um do Leste ou do Oeste um time forte", defendeu-se.

Segundo as bolsas de apostas norte-americanas, a aliança entre Durant e Curry também separaria os próprios finalistas. Um investimento nos Warriors gera lucro de 38%; nos Cavs, de 220%.

Essas contas e uma pendência da mídia norte-americana a favor do Golden State causam desconforto em Cleveland. "Engraçado que sejamos vistos como azarões, pois somos nós os defensores do título. Vamos usar isso como combustível", afirmou Kevin Love.

Se até mesmo os Cavaliers podem reclamar da atenção dada aos Warriors, imagine o ânimo dos demais 28 times da liga. Esses apenas sonham com uma nova esperança.

Editoria de arte\Folhapress
Quem é quem na trilogia CavALIERs x WarriorsAs equipes tiveram 7 atletas convocados para o All-Star

ANÁLISE

Tanto Cleveland como Golden State possuem artilharia pesada. Chegam à final com os sistemas ofensivos mais eficientes dos playoffs da NBA. Os Cavaliers fizeram média de 120,7 pontos a cada 100 posses de bola, enquanto os Warriors anotam 115,8.

Comparando, o ataque mais poderoso que a liga já viu - o "showtime" dos Lakers de Magic Johnson pela campanha 1986-87 - teve índice de 115,6.

Agora, o modo como os finalistas deste ano buscam a cesta não poderia ser mais diferente.

Os Warriors apresentam proposta solidária: 70,2% de suas cestas são assistidas. Consequência de um plano de jogo que valoriza frenética movimentação. Mesmo cestinhas temíveis como Stephen Curry e Kevin Durant são submetidos à engrenagem. A meta é a imprevisibilidade.

Por outro lado, tudo o que os Cavs praticam gira em torno de LeBron James e seu pacote inigualável de força, explosão atlética, recursos técnicos e visão de quadra, cercado por perigosos arremessadores. O astro controla a bola, enquanto seus companheiros abrem espaço.

Devido às peripécias de Curry, Durant e Klay Thompson, é comum classificar o chute de longa distância como a grande arma dos Warriors. Acontece que, em seus 13 jogos pelos mata-matas, os Cavs os superaram em aproveitamento, acertando 43,5% de seus disparos.

Outro trunfo dos atuais campeões são os rebotes. A presença física de Tristan Thompson, Kevin Love e James no garrafão já criou muitos problemas nos confrontos diretos.

Com exceção do fogoso Kyrie Irving, porém, falta a Cleveland jogadores criativos. A defesa dos Warriors, muito mais agressiva que a de seu rival, vai perseguir James.

Se conseguirem ao menos incomodar o astro - já que não há ninguém na NBA que possa anulá-lo -, ficarão próximos do título.

Resta saber se o ala Andre Iguodala, responsável por sua contenção em 2015, ainda tem fôlego para a missão. Ainda mais com o astro convertendo surpreendentes 42,1% de três pontos, quando o aproveitamento de sua carreira é de 34,2%. Devido ao poderio de fogo do time no perímetro, marcação dobrada não é estratégia muito recomendável.

Para os Cavs, as questões defensivas são mais contundentes. Sua temporada foi marcada por oscilações - ou desinteresse - na hora de marcar, a ponto de o time terminar com a oitava pior defesa. Nunca um time com rendimento tão baixo foi campeão.

De todo modo, depois de um início ainda dormente pelos playoffs contra Indiana, Cleveland despertou e agora tem a terceira melhor defesa. Contra os Warriors, deslizes básicos tendem a ser castigados.


Endereço da página:

Links no texto: