Folha de S. Paulo


Por recorde no salto, Thiago Braz abre mão de pódios e foca treinos

Campeão olímpico do salto com vara, Thiago Braz, 23, e seu técnico, Vitaly Petrov, estabeleceram marca e data para tentarem a quebra do recorde mundial de 6,16 m, que desde 2014 está em poder do francês Renaud Lavillenie –a quem o brasileiro derrotou nos Jogos Olímpicos do Rio.

Petrov e Braz querem obter um salto de 6,20 m e estipularam a temporada de 2019 como ideal para realizá-la.

A obsessão pelo registro fez com que o treinador ucraniano estabelecesse uma nova rotina de treinos para Braz.

O foco passou a ser dirigido na parte física, principalmente no processo de fortalecimento muscular.

As ações já surtem efeito em duas vertentes: o saltador tem ganhado massa, mas também perdido a velocidade habitual, que deve ser readquirida mais adiante.

Provavelmente a partir da próxima temporada, o saltador deve adotar novo padrão de vara, maior e que permita transpor o sarrafo a 6,20 m.

A falta de explosão explica a temporada apenas razoável de Braz até agora. Sua melhor marca foi de 5,60 m, mais de 40 centímetros inferior àquela com a qual se sagrou ouro no Rio (6,03 m).

RECORDE NA MIRA - A progressão de Thiago Braz atrás da marca, em metros

Segundo o superintendente de alto rendimento da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), Antonio Carlos Gomes, a meta de bater o recorde e se concentrar especialmente nos Jogos de Tóquio, em 2020, é justificável.

"Nós queremos que o Thiago pense neste recorde, porque é possível, e tenha o foco nisso", afirmou o dirigente.

Até por isso, acrescentou, eventuais desempenhos ruins do atleta em torneios internacionais e no Mundial de Londres, em agosto próximo, devem ser relativizados.

"O Thiago deve fazer um polimento para ir bem, com certeza, mas o foco está lá na frente", complementou.

"O Petrov costuma dizer que os dois primeiros anos de um ciclo olímpico são para treinar, e os dois últimos para competir e obter o resultado desejado. É nisso que nós estamos apostando."

O efeito colateral é que, na condição de campeão olímpico, o saltador não quer passar por período como coadjuvante no cenário mundial.

Braz treina há dois anos e meio na cidade italiana de Formia, onde funciona centro administrado por Petrov, que era consultor da seleção brasileira antes de se dedicar exclusivamente ao pupilo.

O salário do treinador, de aproximadamente R$ 35 mil mensais, é pago pelo Comitê Olímpico do Brasil. A CBAt arca com despesas de viagem para treinos e competições.

Devido ao ouro nos Jogos do Rio, a confederação também repassou prêmio de R$ 100 mil ao atleta e de R$ 50 mil ao treinador –Braz também receberá anualmente cerca de R$ 350 mil da Caixa, que renovou acordo de patrocínio com a CBAt até 2020, para ação promocional.

Nas próximas duas semanas, o campeão olímpico disputará competições no país, ambas em São Bernardo. No sábado (3), haverá um Grande Prêmio internacional e, na outra semana, o Troféu Brasil, que definirá a equipe nacional para o Mundial.

Os dois eventos custarão cerca de R$ 1,1 milhão aos cofres da confederação.

A entidade tentou abrigar o Troféu Brasil no Engenhão, que foi palco do atletismo nos Jogos Olímpicos do Rio, mas o valor diário de R$ 350 mil inibiu a locação do estádio, que é gerido pelo Botafogo.

Ele já obteve classificação. A confederação espera levar cerca de 30 atletas para o campeonato em Londres.

Na última edição do Mundial, em Pequim-2015, o Brasil obteve só uma medalha. Justamente no salto com vara, com Fabiana Murer. Braz, promessa à época, nem sequer avançou para a final.


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