Folha de S. Paulo


Rosell teve portas escancaradas na seleção para obter lucros e vantagens

Juca Varella/Folhapress
Sandro Rosell (esq.) observa Teixeira abraçar Denílson em treino da seleção antes da Copa de 2002
Sandro Rosell (esq.) observa Teixeira abraçar Denílson em treino da seleção antes da Copa de 2002

Estar na seleção brasileira por mais de uma década é algo para raros jogadores de futebol. Um catalão que nunca disputou uma única partida oficial sequer teve esse privilégio por pelo menos 16 anos.

Como executivo da Nike e amigo de Ricardo Teixeira, Sandro Rosell foi figura influente e com acesso irrestrito ao time da CBF de 1996 a 2012.

Trânsito que o ajudou inclusive a ocupar o cargo que sempre sonhou ter: o de presidente do Barcelona.

Na campanha para chegar ao poder se jactava da influência que tinha no Brasil. Sua mensagem sempre foi de que com isso conseguiria levar os melhores jogadores do país para o clube catalão. Foi assim com Ronaldinho Gaúcho e, depois, com Neymar.

Popular programa de humor na Catalunha, o "Crackòvia" (uma espécie de "Casseta & Planeta" local), ironizava o personagem "Rosell brasileiro", então candidato na eleição do Barcelona em 2010. Um imitador do cartola aparecia fazendo caipirinha e cantando samba. Era o que ele teria aprendido no Brasil.

Em livro publicado na Espanha em 2009, "Bienvenido al Mundo Real" (sem publicação no Brasil), Rosell conta mais sobre sua relação com os brasileiros. Ele dedica um parágrafo à CPI da Nike e outro ao Mundial de 2002.

Entre outras coisas, afirma que após ter conseguido ajudar o então presidente da CBF Ricardo Teixeira a escapar da CPI foi chamado para ser seu padrinho de casamento.

Sobre a campanha de 2002, se vangloria de ter feito a intermediação entre Teixeira e Luiz Felipe Scolari para que o técnico gaúcho assumisse a seleção brasileira.

Segundo o ex-presidente do Barcelona, Felipão havia rejeitado um convite da CBF, mas após conversa com Rosell aceitou se encontrar com Ricardo Teixeira.

Em outro trecho, conta que organizou uma escapada da concentração com o jogadores da seleção na Coreia do Sul, e que serviu de cupido entre um então centroavante "que foi destaque na Copa" com uma moça na festa.

Em novembro de 2010, esteve com Ricardo Teixeira no hotel da seleção, no Qatar, para amistoso entre Brasil e Argentina. Foi seu primeiro encontro com Neymar.

Já em 2011, frequentou a concentração da seleção na Copa América. Foi flagrado pela Fox Sports da Argentina descendo do ônibus do Brasil antes do jogo contra a Venezuela ao lado de Mano Manezes, então técnico do time.

No período em que teve tanta influência e acesso, lucrou e obteve vantagens pessoais. Algumas indevidas, segundo autoridades espanholas que investigam a cobrança de comissões ilegais para venda de direitos de imagem da seleção brasileira. Até US$ 16,8 milhões (cerca de R$ 54,8 milhões) teriam sido lavados em esquema com participação do cartola catalão.

Com "acesso ao Brasil", como gostava de dizer, Rosell conseguiu muito mais do que aprender a fazer caipirinha e cantar samba.

ENTENDA O CASO

Quem é Sandro Rosell?
Nascido em 1964, foi responsável pelo marketing do Comitê Organizador de Barcelona-1992; diretor de marketing da Nike na Espanha e em Portugal e depois na América Latina; e presidente do Barcelona, cargo ao qual renunciou em 2014, acusado de fraude na contratação de Neymar

Por que ele foi preso?
É suspeito de ter ocultado comissões que teria recebido pela venda de direitos de amistosos da seleção brasileira. Os investigadores suspeitam que ele ganhou e repartiu cerca de R$ 50 milhões com o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira

Qual é a relação dele com Ricardo Teixeira?
Eles se aproximaram no período em que Rosell cuidava do patrocínio da seleção por parte da Nike. Desde então, o catalão já repassou pelo menos
R$ 23,8 milhões ao cartola mineiro e seus familiares

Como funcionava o esquema?
A ISE, empresa que adquiriu os direitos dos amistosos, assinou contrato pelo qual pagava € 8,3 milhões para a empresa Uptrends por serviços de intermediação. Rosell era um dos sócios dela. O dinheiro teria sido escondido em contas em Andorra e no Qatar


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