Folha de S. Paulo


Após investir R$ 80 mi, Petrobras corta patrocínio de cinco modalidades

A Petrobras decidiu cortar o patrocínio de cinco confederações esportivas olímpicas que apoiava desde 2011.

Em reunião no mês passado em sua sede, no Rio, a estatal anunciou aos líderes das entidades que não vai repassar dinheiro para o boxe, taekwondo, esgrima, remo e levantamento de peso na preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

O boxe e o taekwondo obtiveram medalhas nos Jogos do Rio, em agosto passado – Robson Conceição conquistou ouro e Maicon Andrade, bronze, respectivamente.

Em Londres-2012, já com o apoio da empresa, o boxe havia obtido três pódios.

De 2011 a janeiro de 2017, período de maior investimento para a Olimpíada carioca, a Petrobras destinou cerca de R$ 80,5 milhões ao seu projeto de esportes olímpicos.

PETROBRAS E O ESPORTE OLÍMPICO - Estatal investia desde 2011 em modalidades esportivas

Investimentos nas confederações (em milhões de R$)

Estava incluído neste montante, além do aporte às entidades, uma rubrica a esportistas de 15 modalidades chamada de "Time Petrobras".

Os medalhistas olímpicos no Rio Isaquias Queiroz, Serginho, Mayra Aguiar e o nadador paraolímpico Daniel Dias faziam parte do elenco.

À Folha, a companhia disse que o patrocínio a olímpico "continuará fazendo parte da estratégia de comunicação" (leia mais ao lado).

O presidente da CBE (Confederação Brasileira de Esgrima), Ricardo Machado, esteve presente à reunião no Rio em que foi informado da descontinuidade do patrocínio.

Segundo ele, o repasse da Petrobras representava 50% do orçamento anual da entidade. "Vivemos um cenário muito preocupante", disse.

"Para nós, é um horror, porque oferecemos tudo o que os atletas precisavam para a Rio-2016 e isso nos quebrou a perna. Não temos como manter o investimento em viagens para os atletas."

Na Olimpíada, o Brasil teve dois atletas entre os oito melhores pela primeira vez.

Machado afirmou que a alegação dada para o corte foi a "reestruturação" da companhia. "Falaram que há uma possibilidade futura de retomar, mas é impossível saber."

A Confederação Brasileira de Remo também confirmou a presença no encontro do mês passado, e que a Petrobras lhe repassou aproximadamente R$ 1,5 milhão em 2015 e 2016. O apoio da estatal era seu único além de convênio com o Ministério do Esporte e gerou consequências.

Ela teve de promover cortes em despesas e projetos.

A CBJ (confederação de judô), que levou R$ 20 milhões em quatro anos da petrolífera por meio do Plano Brasil Medalhas, foi a única que disse ainda discutir renovação.

Enrique Dias, mandatário da confederação de levantamento de peso, disse que o patrocínio proporcionou "ganhos efetivos em todas as áreas" e lamentou o corte.

A estatal anunciou apoio às cinco confederações em 2010, em evento com a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O investimento era feito pela lei de incentivo ao esporte, com os recursos administrados pela ONG Passe de Mágica, da ex-jogadora de basquete Paula, que posteriormente foi retirada do trâmite.

CRISE E CASTIGO

No epicentro da Lava Jato, a Petrobras fechou 2016 com prejuízo de R$ 14,8 bilhões.

Foi o terceiro ano seguido que a estatal registrou perdas bilionárias em seu balanço.

Em 2015, por exemplo, teve perda de R$ 34,8 bilhões.

Só atualmente a empresa, que no passado esteve entre as maiores do mundo, deu sinal de recuperação: fechou o primeiro trimestre de 2017 com lucro de R$ 4,44 bilhões.

A Petrobras e outras grandes estatais como Correios, Caixa, Banco do Brasil e Furnas injetaram cerca de R$ 650 milhões no esporte olímpico nacional entre 2012 e 2016.

Após a euforia dos Jogos do Rio, porém, a empolgação e o dinheiro desabaram.

A Caixa, por exemplo, cortou até 20% do que repassava à Confederação Brasileira de Atletismo e ao Comitê Paralímpico Brasileiro.

Os Correios reduziram em mais de 70% o valores de seus repasses às confederações de desportos aquáticos e tênis.

Mesmo com três medalhas, das quais duas de ouro, o Banco do Brasil cortou R$ 84 milhões da confederação de vôlei na comparação direta com o investido até 2016.

OUTRO LADO

A Petrobras confirmou que o vínculo com as cinco modalidades às quais repassava dinheiro desde 2011 acabou.

Os contratos se encerraram em janeiro passado "uma vez que o patrocínio às confederações em questão visavam o ciclo olímpico Rio-2016".

Apesar de não manter contrato com qualquer confederação no momento, a estatal disse que o "patrocínio ao esporte olímpico continuará fazendo parte da estratégia de comunicação da Petrobras, dentro de um novo formato pensado para os atuais desafios de imagem e reputação da marca", prosseguiu a petrolífera, em nota enviada por sua assessoria de imprensa.

A empresa afirmou que essa eventual revisão do projeto esportivo será anunciada "em breve", entretanto sem entrar em mais detalhes.

Criado no meio do ciclo rumo ao Rio para patrocinar atletas de renome, o Time Petrobras também está em xeque. Medalhistas em 2016, Serginho (vôlei), Mayra Aguiar (judô), Isaquias Queiroz (canoagem velocidade) e o nadador paraolímpico Daniel Dias faziam parte do programa, que tinha competidores de 15 modalidades.

"No momento, a Companhia avalia a continuidade do Time Petrobras, projeto que apoia atletas consagrados e de grande potencial para obtenção de resultados esportivos", complementou.

Em 2015, por exemplo, o Time Petrobras recebeu quase R$ 1,8 milhão de recursos da estatal, mais até do que a confederação de levantamento de peso no período.

O investimento da entidade já havia sido reduzido em 2015, devido aos consecutivos prejuízos registrados em seu balanço anual.

Em julho de 2016, pouco antes do início da Olimpíada do Rio, a companhia não garantia a manutenção do seu apoio aos esportes.

Ela dizia que faria revisão no investimento e só então tomaria uma decisão quanto ao repasse de recursos às confederações esportivas.


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