Folha de S. Paulo


Aprendiz de Mano e Tite, Carille mantém o perfil discreto como técnico

Daniel Vorley/Agif/Folhapress
Fábio Carille (c) comanda treino do Corinthians, no CT Joaquim Grava (zona leste)
Fábio Carille (c) comanda treino do Corinthians, no CT Joaquim Grava (zona leste)

"Quem é o Carille? Não sei quem é o Carille."

Em outubro de 2010, ao ser questionado se Fábio Carille teria autonomia em um dos jogos que assumiu interinamente o Corinthians, o então presidente do clube, Andrés Sanchez, não reconheceu o auxiliar do time profissional pelo sobrenome -era chamado apenas de Fábio.

Sete anos depois, todos os corintianos sabem muito bem quem é Fábio Carille. Ele é o treinador que pode dar ao Corinthians o seu 28º título paulista da história.

Neste domingo (7), às 16h, no Itaquerão, a equipe será campeã mesmo se perder da Ponte Preta por dois gols de diferença. O time de Campinas precisa de uma vantagem de quatro gols para conquistar o título. Se vencer por três, a decisão será nos pênaltis.

Carille não se incomodou com o desconhecimento de Sanchez. Não faz parte do seu perfil brigar. O técnico que pegou um elenco desacreditado no início de 2017 e está prestes a torná-lo campeão estadual não é uma pessoa que gosta de conflito.

O que faz parte do seu perfil é a obsessão pelo futebol.

"O conhecimento que ele tem é enorme. Isso está demonstrado agora no Corinthians, um time muito bem montado defensivamente. Quando você acha uma pessoa assim, tem de valorizar. Fábio é uma figura rara", afirma o treinador Márcio Araújo.

Ele foi o primeiro técnico a dar uma chance a Carille na comissão de um time profissional, em 2008, pelo Grêmio Barueri. O atual treinador do Corinthians trabalhava nas categorias de base do clube e esperava por uma promoção.

Não tinha pressa. Um ano antes havia encerrado a carreira como lateral esquerdo e zagueiro de clubes pequenos e médios, como Paraná, Santa Cruz, Coritiba, CRB, XV de Jaú, XV de Piracicaba e Juventus –teve rápida passagem pelo Corinthians, mas não chegou a jogar pelo clube.

"O Fábio sempre foi tranquilo. Desde garoto foi assim, um rapaz muito atencioso. Aprendeu bastante por estar desde os 16 anos no trecho [na estrada]", lembra Joaquim Araújo Carille, pai do técnico que até hoje vive em Sertãozinho (a 335 km de São Paulo).

Foi nesta cidade que o garoto começou a jogar nos torneios de futebol amador. Pequeno e franzino, atuava com a camisa dez por ter mais habilidade que os demais. Seus amigos ficaram surpresos ao descobrirem que ele se profissionalizara como zagueiro.

Ao saber da surpresa que causou em Sertãozinho por atuar como defensor, ele teve sua reação mais comum sobre a opinião alheia. Não deu importância.

A TRAJETÓRIA DE FABIO CARILLE NO CORINTHIANS - Treinador auxiliou cinco técnicos antes de assumir cargo

CORINTHIANS

Mano Menezes gostou do novato no período em que o teve como estagiário no Grêmio, em 2007. Dois anos depois, concordou com a sugestão de seu assistente Sidnei Lobo de levá-lo para o Corinthians. Lobo e Carille haviam atuado juntos no Paraná.

Antes do Grêmio, tinha passado por período de observação com Vanderlei Luxemburgo no Santos. Foi quando começou a compreender melhor como funciona a compactação da equipe.

Chegar ao Parque São Jorge foi uma experiência que marcou tanto o novo assistente que até hoje ele aponta o Corinthians de 2009, dirigido por Mano, como o exemplo de time a ser copiado. Naquele ano, fez parte da comissão técnica que conquistou os títulos paulista e da Copa do Brasil, com Ronaldo.

Carille passou sete anos observando. Mano gostava das ponderações que ele fazia e o designou para analisar futuros rivais. Carille também aparecia com possíveis reforços. Foi dele a ideia de contratar Jucilei e Edenílson. Ambos vendidos depois pelo Corinthians para o exterior.

Em 2010, quando Mano foi assumir a seleção brasileira, Carille pensou em sair.

"Se você quiser, pode ficar", lhe avisou o então diretor de futebol Mario Gobbi.

Ele ficou. Após a breve passagem de Adilson Batista, começou a trabalhar com Tite. O técnico logo notou o talento do auxiliar para montar defesas. Deixou-o encarregado dos treinamentos da zaga.

"[Carille] Merece o reconhecimento. É um ser humano de caráter e princípios éticos. Teve ricas experiências como ex-atleta associadas à ambição e humildade na busca do conhecimento e evolução. Merece!", afirma Tite.

As duas passagens do atual treinador da seleção pelo clube (2010-2013 e 2015-2016) terminaram de moldar a personalidade futebolística de Fábio Carille. Ele já estava pronto para assumir o comando da equipe. Faltava a chance. Até Cristóvão Borges, técnico do Corinthians por 18 jogos entre junho e setembro do ano passado, percebeu.

"Fábio participou da implantação de uma filosofia com o Mano e o Tite, e o Corinthians continua bebendo dessa fonte. Ele trilha um caminho muito interessante e com certeza vai dar certo."

"Dar certo" significa vencer e ser campeão. O que pode acontecer neste domingo.

Editoria de Arte/Folhapress
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