Folha de S. Paulo


Exibição e clínica para crianças motivaram Cesar Cielo a voltar a nadar

Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Cesar Cielo sorri após disputar prova no Troféu Maria Lenk
Cesar Cielo sorri após disputar prova no Troféu Maria Lenk

Em outubro, quando enfim falou sobre a frustração de não disputar os Jogos do Rio, Cesar Cielo, 30, estava reticente quanto a voltar para a natação competitiva.

Sete meses depois, ele encara o Troféu Maria Lenk, no Rio, com ambição de disputar o Mundial de Budapeste, em julho e, se os planos saírem como o planejado, esticar a carreira até 2020, para tentar a redenção nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Ele estreou no evento nesta terça (2), no revezamento 4 x 50 m. Cielo foi o último a nadar pelo Pinheiros, que venceu a prova, e fez marca que não lhe agradou : 21s32.

Dois episódios fizeram com que a incerteza que dominava o único nadador do país campeão olímpico -ouro nos 50 m livre em Pequim-2008- terminasse.

O primeiro foi em dezembro. Com a situação competitiva indefinida, Cielo dirigiu seu foco para os negócios.

Entre as apostas, estava a consolidação de uma clínica que leva seu nome, cuja primeira edição ocorreu em Aracaju (SE). "Alguns momentos na clínica me deram vontade de voltar. Principalmente o dia a dia com a criançada e as dinâmicas", afirmou.

Apesar da empolgação, o evento no Sergipe colidia com outro sentimento: o de temor.

Exigente, Cielo ainda carregava dúvidas sobre seu desempenho. Se ainda tinha potência, vitalidade e técnica depois de ser superado por Bruno Fratus e Italo Duarte na seletiva olímpica dos 50 m livre, prova da qual é recordista mundial (20s91).

Foi essa insegurança que o fez deixar de treinar nos meses subsequentes à falha para se classificar para a Rio-2016 e também recusar convites para participar do evento, seja como condutor da tocha ou na abertura.

Durante a fase reclusa, abatido, o nadador dedicou-se a cuidar do filho Thomas, nascido em setembro de 2015.

As desconfianças sobre si só caíram por terra em janeiro, e de uma forma curiosa.

Cielo havia combinado de participar de exibição com o ex-nadador argentino José Meolans, um ex-campeão mundial dos 50 m livre em piscina curta (25 m).

Como seria a primeira aparição oficial desde abril de 2016, temeu passar vergonha. Nem tanto no cronômetro, mas no físico. "Eu não podia chegar lá gordinho, né?"

No primeiro treino, surpresa. "Imaginei que seria o pior dia da minha vida. Mas não foi nada disso. Na verdade, parecia que fazia só uma semana que eu não nadava."

A desenvoltura intrigou Cielo. Passado o desafio, pediu ao biomecânico Augusto Barbosa, com quem trabalhou no Minas, uma avaliação. Na primeira aferição, o especialista achou que seu aparelho para medir a força muscular estava quebrado. Cielo, parado por mais de oito meses, estava seis quilos mais forte.

Aquela constatação fez o velocista abandonar qualquer ideia de aposentadoria.

Na mesma semana, telefonou para o técnico Albertinho Pinto da Silva, que o havia treinado em outras ocasiões e com quem havia rompido de forma turbulenta em 2013, e pediu duas coisas: que se reconciliassem e se poderiam trabalhar novamente juntos.

No mês seguinte, Cielo foi anunciado como novo reforço do Pinheiros, onde Albertinho é técnico-chefe.

Agora, ele ingressa no Troféu Maria Lenk com a expectativa de nadar para marcas próximas das de 2014, a última temporada em que obteve grandes resultados.

"Estou me sentindo melhor, treinando melhor e sentindo meu corpo melhor do que nos últimos dois anos. Mas até isso se transferir em resultado é outra história."

O paulista vai nadar individualmente na competição nesta quinta (4), sexta (5) e sábado (6) –100 m livre, 50 m borboleta e 50 m livre. As provas dos dois últimos dias são suas prioridades e melhores chances de ir à Hungria. "Eu não estou pondo objetivo de tempo, mas sim de nadar bem, bater na borda e me sentir tranquilo porque deixei tudo ali. É uma coisa que não aconteceu nos últimos anos."

Ele mira um retorno consistente e gradativo, sem compromisso de medalhas.

"Em dezembro de 2018, devo pensar se vou fechar o ciclo olímpico em Tóquio", disse.

No mês passado, o anúncio da aposentadoria do também medalhista olímpico Thiago Pereira gerou uma espécie de pressão no velocista.

"A natação passa por um período muito difícil. Quando o Thiago anunciou a aposentadoria dele, eu achei que seria um golpe muito grande para todos eu também sair", concluiu nesta terça-feira após disputar o revezamento 4 x 50 m livre pelo Pinheiros.


Endereço da página:

Links no texto: