Folha de S. Paulo


Torcedores e dirigentes lembram 1977 com nostalgia e inconformismo

Comitê de Preservação da Memória Corintiana
Ex-presidente Vicente Matheus com a mulher, Marlene
O ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus ao lado da mulher, Marlene

"Hoje a cidade é do povo!", gritou Osmar Santos, pela Rádio Globo, assim que a bola chutada de Basílio entrou no gol de Carlos, da Ponte Preta.

As horas após a final do Paulista de 1977 formaram a grande noite da vida de Claudio Augusto Amaral do Valle Sobrinho, 61.

"Tinha certeza que seria demitido. Saí do trabalho às 15 horas para ir ao Morumbi, sem avisar nada. Cheguei no dia seguinte festejando com um monte de gente que encontrei na rua", relembra.

Não foi. Considera ter sido um presente de seus patrões.

"A Ponte era melhor que o Corinthians. Tinha grandes jogadores. Os do Corinthians atuavam com o coração. Eram craques só na nossa imaginação", completa.

Enquanto Sobrinho comemorava como se não houvesse amanhã, o presidente corintiano, Vicente Matheus, chorava no tapete de sua sala, pedindo para a mulher:

"Me belisca, Marlene! Me belisca para eu acreditar que o Corinthians foi campeão."

A lembrança de Marlene Matheus é ver o marido, morto em 1997, bebendo uísque no escuro, sorvendo a alegria.

Ele havia passado quase duas semanas sem dormir direito, aterrorizado pelo medo da derrota. Saiu do estádio com um lenço na cabeça, no banco de trás do carro dirigido por Marlene. Um arremedo de fantasia de mulher para não ser reconhecido.

Não adiantou. Arrancado do carro, recebeu centenas de cumprimentos. "Chegamos em casa às 2h da manhã", se recorda Marlene Matheus.

Peri Chaib também teve dificuldade para pegar no sono após a decisão. Mas por inconformismo. Quarenta anos depois, o ex-vice e ex-diretor de futebol da Ponte Preta tem certeza que a pressão sobre a equipe foi insuportável.

"Foi enorme e em todos os sentidos. Veio até da Polícia Militar. Era psicológica. Colocaram dez policiais apenas para acompanhar os jogadores até o vestiário. Os atletas pensavam: 'por que tem tanta polícia assim'?", afirma.

A lembrança do torcedor campineiro que estava no Morumbi também é de tristeza.

"Ficamos em um lugar pequeno no estádio. Éramos no máximo duas mil pessoas. A festa estava preparada para o Corinthians. A Ponte foi prejudicada dentro e fora de campo", se queixa Américo Zeferino Vissoto, 68, conselheiro da Ponte. Uma das queixas dos campineiros é pela expulsão de Ruy Rey, ainda no primeiro tempo por reclamação.


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