Folha de S. Paulo


Relatório pedido por Corinthians diz que clube foi omisso no Itaquerão

Para a Molina & Reis Advogados, empresa contratada pelo Corinthians para coordenar a auditoria do Itaquerão e produzir um relatório, o clube foi omisso na fiscalização do estádio. Assinado por Guilherme Molina e Zoe A. dos Santos Molina, o documento foi entregue à diretoria em 26 de janeiro de 2017.

O proprietário do escritório contratado é Paulo Molina, amigo de infância do ex-presidente Andrés Sanchez.

O texto questiona o interesse do Corinthians em fiscalizar a construção da arena.

A contratação da Molina & Reis foi uma resposta do clube aos conselheiros que criticavam aspectos da obra, como a possibilidade de o estádio ter sido entregue incompleto.

Por contrato, o valor total da construção foi de R$ 985 milhões. O custo somado com os juros chegará a R$ 1,64 bilhão.

"Deveria o clube, por meio dos seus representantes, órgãos e demais conselhos (...) ter procedido o acompanhamento de todas as fases e etapas da execução da obra pela construtora Norberto Odebrecht, devendo ser garantido o acesso irrestrito a tudo que a envolvesse, viabilizando melhores avaliações de seus reflexos econômicos, financeiros, contratuais, societários, entre outros", afirma o texto do documento. A conclusão é que se o acompanhamento acontecesse durante as obras, o clube "teria fiscalizado as atividades da construtora de maneira mais produtiva e eficaz".

A supervisão do estádio já foi motivo de discussão no conselho deliberativo.

Andrés Sanchez sugeriu a montagem de comissão para fiscalizar o estádio e acompanhar o seu funcionamento diário. O Corinthians assumiu o controle da arena em 15 de abril de 2014.

A Molina & Reis pede que o clube examine com mais cuidado os documentos (apesar de já tê-los assinado) para "proteção do clube."

O relatório não aborda aspectos de engenharia, que é responsabilidade da Claudio Cunha Engenharia, com escritório no Rio de Janeiro.
dívida

A Molina & Reis reclama da escolha da Claudio Cunha, que estaria postergando a entrega de seu relatório, e a omissão do Corinthians em pressionar por uma resposta. A empresa teve um prazo de seis meses a partir de 1º de junho de 2016, para concluir os trabalhos. Não aconteceu.

A atual previsão é que o documento seja entregue até o final de maio deste ano.

"Passados aproximadamente quatro meses da contratação da CCEC [Claudio Cunha Engenharia] (...) de forma inexplicável, o comportamento [da empresa] passou a ser de retardamento, ausência de respostas de e-mails e solicitações...", afirma o texto, completando que foram "raros" os relatórios apresentados pela Claudio Cunha.

Em entrevista à Folha em março, o conselheiro Carlos Antonio Luque disse que o clube tinha dificuldade para conversar com Claudio Cunha. "O Corinthians não consegue falar comigo? Mas você conseguiu", disse Cunha, ao atender telefonema da reportagem na época.

Encomendado pelo Corinthians, o documento diz que o clube não avaliou bem a composição da Arena Fundo de Investimentos, a dona do estádio. Por causa disso, teria pequeno poder de decisão nos rumos da Arena.

"O clube possui pouca representatividade e poder de decisão nas deliberações do Fundo, ao passo que a OPI [Odebrecht Participações e Investimentos], dispõe de maior potencial de definição", diz, lembrando que o Corinthians tem um voto nas decisões. Os outros dois são da OPI e da Arena Itaquera S/A, que também tem participação da Odebrecht.

OUTRO LADO

A Folha entrou em contato com a assessoria de Roberto de Andrade, presidente do Corinthians e pediu por escrito uma resposta para as críticas feitas no relatório. Não obteve resposta até o fechamento desta edição.

O mesmo aconteceu com a a Claudio Cunha Engenharia. A reportagem telefonou para o escritório, localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, mas o engenheiro não retornou o telefonema ou respondeu ao recado deixado.

Citada e também criticada no relatório, a Odebrecht afirma não considerar o documento uma "auditoria" e questiona abrangência das análises, que abordam questões financeiras, estruturais e contratuais.

A Folha apurou com pessoas envolvidas na obra que o desejo da empresa era entregar a auditoria a uma empresa multinacional do setor, que pudesse fazê-la de forma independente. Algo que a Odebrecht considera
não ter acontecido no trabalho encomendado pelo Corinthians e escrito pela Molina & Reis.

Neste ano, dois funcionários da Odebrecht compareceram a reuniões do conselho deliberativo do Corinthians para esclarecer dúvidas dos conselheiros sobre os custos da obra e eventuais mudanças no projeto.

Os técnicos levaram planilhas das mudanças que aconteceram na obra durante a construção, a pedido do Corinthians.

A construção do Itaquerão é investigada pela Operação Lava Jato. Em delação, Marcelo Odebrecht falou que a obra estimada em R$ 400 milhões saltou para mais de R$ 1 bilhão.

Funcionários da construtora também disseram em delação terem pago caixa dois para a campanhas dos deputados Andrés Sanchez (PT-SP) e Vicente Cândido (PT-SP). Ambos negam ter cometido qualquer irregularidade.

CRONOLOGIA DO ITAQUERÃO

3 setembro de 2011
Odebrecht e Corinthians assinam contrato para a construção do estádio. O valor seria de R$ 820 milhões

15 de abril de 2014
Odebrecht passa o controle do estádio para a administração do Corinthians antes da Copa do Mundo

15 de maio de 2014
Na assinatura do quinto aditivo do contrato, o valor da construção passou a ser de R$ 985 milhões

18 de maio de 2014
É realizado o primeiro jogo no estádio, entre Corinthians e Figueirense, pelo Campeonato Brasileiro

30 de setembro de 2014
Odebrecht anuncia o fim das obras no estádio. Na época, clube alegou ainda existirem coisas a serem feitas


Endereço da página:

Links no texto: