Folha de S. Paulo


Após beirar falência, Ponte Preta renasce com ajuda de mecenas

Alexandre Battibugli/Divulgação
Sérgio Carnielle abraçado com a bandeira da Ponte Preta no estádio Moisés Lucarelli
Sérgio Carnielle abraçado com a bandeira da Ponte Preta no estádio Moisés Lucarelli

Em 1996, a Ponte Preta vivia uma situação que beirava a falência. Com mais de 250 ações trabalhistas na Justiça, cinco meses de salários atrasados, disputando a Série A-2 do Campeonato Paulista e a Série B do Brasileiro, até os sofás do estádio Moisés Lucarelli estavam penhorados.

Nos últimos 20 anos, a Ponte Preta deixou de ser mais um time falido do interior para virar a quinta força do futebol no Estado. Chega agora pela quarta vez à semifinal do Estadual nesse intervalo.

A recuperação da equipe coincide com a chegada de um mecenas, o hoje presidente de honra, Sérgio Carnielli, 71. Ele assumiu a presidência do clube em setembro de 1996, logo após o antigo mandatário, Nivaldo Baldo, renunciar em virtude da crise que o clube atravessava.

"Peguei a Ponte Preta destroçada, em total abandono. Na época, não tínhamos cotas de televisão. Nos primeiros meses foram formadas filas em frente ao estádio para pagar os atrasados", disse Sérgio Carnielli à Folha.

Assim que assumiu, o dirigente usou dinheiro do próprio bolso para pagar os salários atrasados. A situação continuou por alguns anos e o presidente teve que cobrir todas as despesas da agremiação, inclusive na contratação de jogadores e nas reformas do estádio Moisés Lucarelli e do CT Jardim Eulina.

De acordo com o último balanço do clube campineiro, hoje Carnielle tem quase R$ 76,5 milhões para receber da Ponte Preta como pessoa física. Já com a empresa do dirigente, a Carnielle Investimento e Participações Ltda, o clube tem cerca de R$ 26 milhões em dívidas. No total, o clube deve pouco mais de R$ 102 milhões ao dirigente -o que representa 94,5% de todos os débitos da Ponte.

"Um dia vou receber de volta, mas não tem um prazo. Estou muito tranquilo em relação a isso. Nunca fez falta porque trabalho e ganho. Hoje, a Ponte é autossuficiente. Modernizamos e colocamos o time em uma situação interessante", disse Carnielle, que descarta o apelido de mecenas. "Sou apenas um torcedor. Fiz tudo pela Ponte."

Como comparação, o Palmeiras, adversário da Ponte Preta neste sábado (22), deve para seu ex-presidente Paulo Nobre cerca de R$ 65 milhões. A dívida já foi de cerca de R$ 180 milhões.

Quando assumiu a presidência da Ponte, Carnielli era dono e fundador da empresa Tecnol, fabricante de armações de óculos. A empresa foi comprada em 2011 pelo grupo italiano Luxottica por cerca de 110 milhões de euros.

No mesmo ano, ele foi afastado da presidência da equipe de Campinas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por ter contratado serviços de uma empresa de auditoria que tinha como um dos sócios o conselheiro da Ponte Preta Vanderlei Araújo, o que é proibido pela Lei Pelé.

Mesmo assim, recebeu do conselho deliberativo o título de presidente de honra. Foi sucedido na presidência por Márcio Della Volpe, que era seu vice e ficou até 2014. Agora, o mandatário é Vanderlei Pereira, que pertence ao mesmo grupo político. Carnielli continua como o homem forte no clube.

"O afastamento foi por motivo político e eu vou muito bem longe da presidência. Não tenho por que retornar. O atual presidente é de primeira linhagem", disse Carnielli, que antes de se tornar empresário chegou a vender groselha em circos, verduras que a mãe plantava e foi até engraxate na infância.

"O meu sonho é a Ponte Preta conquistar um título. Quem sabe é neste Paulista", concluiu.

OPOSIÇÃO

Sérgio Carnielle é visto até pela oposição como uma pessoa importante na história dos 107 anos da Ponte Preta por ajudar na salvação do clube, mas também é alvo de críticas.

"Ele foi importante em um passado, mas agora o que me preocupa é que o nosso patrimônio não paga essa dívida. Neste período, só ganhamos o título de endividamento", disse André Carelli, conselheiro e principal crítico da gestão de Carnielle. "Um clube social nosso já foi fechado e o outro está próximo de ser fechado", acrescentou.

Márcio Della Volpe, que já exerceu o cargo de vice-presidente na diretoria de Carnielle e ocupou a presidência entre 2011 e 2014, segue a mesma opinião.

"A Ponte tem uma dívida hoje com ele de R$ 102 milhões. Quando ele assumiu, a dívida total não chegava a cinco milhões. Naquela época, porém, não tínhamos a entrada de receita. A única receita era da parte social", disse Volpe, que hoje mudou de lado e faz parte da oposição.

GUARANI

Rival da Ponte, o Guarani também vivia uma situação caótica. Tinha quase R$ 250 milhões em dívidas e com o estádio prestes a ir a leilão em 2014.

Para dar a reviravolta, o clube contou com uma de suas mais tradicionais parceiras, a Magnum, que adquiriu o estádio Brinco de Ouro da Princesa por R$ 44,5 milhões e prometeu construir um novo estádio para a equipe. No local do Brinco de Ouro, o grupo construiria empreendimentos imobiliários.

Atualmente, o Guarani está na Série B do Campeonato Brasileiro e na Série A-2 do Campeonato Paulista. Faltando uma rodada para o fim da primeira fase do Estadual, o time tem que vencer o Batatais domingo para avançar à semifinal.

NA TV
Palmeiras x Ponte Preta
19h Pay-per-view


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