Folha de S. Paulo


Capitão do São Paulo contesta 'fair-play' de Rodrigo Caio em clássico

Classificada como um "ato nobre" pelo diretor de futebol do São Paulo, José Jacobson, a atitude do zagueiro Rodrigo Caio no clássico do último domingo (16), que avisou o árbitro sobre um erro que resultaria na suspensão do atacante Jô, do Corinthians, não recebeu a mesma aceitação dentro do elenco.

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (17), o zagueiro Maicon, capitão do time, demonstrou respeito à atitude do companheiro, porém deixou claro que não faria o mesmo que o colega.

"Eu acho que é melhor a mãe dele [Jô] chorando do que a minha. Prefiro a mãe dos meus adversários chorando do que a minha", afirmou.

O lance que gerou grande repercussão nacional aconteceu aos 39 min do primeiro tempo. Jô tentou alcançar um passe longo e o goleiro Renan Ribeiro, do São Paulo, saiu para fazer a defesa, protegido por Rodrigo Caio. Após ver o goleiro reclamar de um pisão na perna, o árbitro Luiz Flávio de Oliveira mostrou cartão amarelo ao atacante.

Seria o seu terceiro no torneio, o que o deixaria suspenso do jogo de volta, que será disputado no domingo (23), no Itaquerão. Mas o zagueiro são-paulino disse a verdade para o juiz: fora ele o autor do pisão involuntário em Renan. O cartão foi anulado.

"Se foi certo ou não a consciência está com ele, e temos que apoiar. Estou do lado dele. Se achou que foi certo ter feito isso, ele fez. Da minha parte não posso dizer porque não aconteceu comigo. Não sei no calor do jogo o que aconteceria, então não tem como eu responder", disse.

Principal torcida organizada do clube, a Independente, apoiou o capitão são-paulino e disse que "não existe generosidade com quem nunca irá nos dar a mão".

A Folha apurou que alguns membros da diretoria também não gostaram da atitude de Rodrigo Caio, alegando que não receberiam o mesmo tratamento se a situação fosse inversa. Jacobson, no entanto, exaltou o atleta.

"Foi um gesto que é um marco divisor do futebol brasileiro. Ele não é um herói, mas foi um ato nobre que o futebol não está acostumado a ver", disse à reportagem.

A honestidade fez o atleta virar um dos principais assuntos em redes sociais. Em 24 horas, o seu nome foi citado 26 mil vezes no Twitter.

Após a partida, porém, o jogador se irritou com perguntas sobre o ocorrido.

"Eu não fiz nada de mais. Apenas disse ao árbitro que o Jô não tinha pisado no Renan", afirmou o defensor, mostrando impaciência.

Pela irritação com as perguntas, acreditou-se que ele havia sido cobrado pelos companheiros e pela comissão técnica no vestiário. Maicon, no entanto, disse que nada disso aconteceu.

"Não teve nada no vestiário, não adianta tentar achar algo que não aconteceu. A cobrança tem que ter, mas essa polêmica ou briga no vestiário não teve", afirmou.

Já o treinador Rogério Ceni não deu muita atenção ao fato e preferiu elogiar seu comandado após ser derrotado por 2 a 0 dentro de casa.

"Ele foi um 'gentleman' [cavalheiro, em inglês]. Teve uma atitude que terá de ser elogiada por vocês [jornalistas]", afirmou, sem dizer se teria a mesma atitude se ainda fosse jogador. "Eu já parei. Não vou responder isso."
O São Paulo não emitiu nota oficial sobre o caso.

Julia Chequer/Folhapress
SAO PAULO, SP, 04-08-2016: Maicon na partida SPFC x Atletico-MG, pelo Campeonato Brasileiro, realizada no estadio do Morumbi. (Foto: Julia Chequer/Folhapress cod-11001) *** EXCLUSIVO AGORA *** EMBARGADA PARA VEICULOS ONLINE *** UOL E FOLHA.COM CONSULTAR FOTOGRAFIA DO AGORA *** FOLHAPRESS CONSULTAR FOTOGRAFIA AGORA *** FONES 3224 2169 * 3224 3342 ***
O zagueiro Maicon disputa bola com Robinho em jogo pelo Campeonato Brasileiro, em 2016

'FAIR PLAY'

Desde 1987, a Fifa premia jogadores, clubes e seleções por gestos que promovem o espírito esportivo no futebol.

O último homenageado foi o Atlético Nacional (COL), em 2016, após pedir à Conmebol que reconhecesse a Chapecoense como campeã da Copa Sul-Americana. O time foi vítima de um acidente aéreo que deixou 71 mortos.

CONVITE RECUSADO

Em razão da atitude de fizer a verdade ao árbitro, Rodrigo Caio foi convidado para participar do quadro "Lance Limpo", do programa "Globo Esporte SP", da Rede Globo, nesta segunda (17). Ele, porém, recusou a homenagem.

A assessoria de comunicação da Globo confirmou que o convite foi feito por meio da assessoria de imprensa do clube, "mas como o São Paulo tem uma semana cheia, com jogos decisivos na quarta contra o Cruzeiro pela Copa do Brasil, e no domingo contra o Corinthians pelo Paulista, o jogador não conseguiu atender ao convite".

A reportagem apurou que o defensor não quis ir ao estúdio da emissora para falar sobre o caso e ser homenageado -o prêmio entregue é um bolo.

O São Paulo apoiou a decisão de Rodrigo Caio, que treinou nesta segunda.

Outro fator fundamental para a recusa do defensor foi a repercussão do caso entre os torcedores.

Muitos aprovaram o gesto, mas uma outra parte não a viu com bons olhos devido a rivalidade com o Corinthians. Para não criar mais polêmicas, ele preferiu se ausentar.

O atacante Jô, que foi beneficiado com a atitude do adversário, compareceu ao programa e, assim como fez após o jogo, voltou a exaltar o zagueiro rival.

"Foi fantástico. O que ele fez foi para poucos. Tem que ser enaltecido, tem que ser sempre frisado, porque ele teve uma atitude de homem e de honestidade. Isso daí não tem dinheiro no mundo que pague", afirmou.

Em nota, a Rede Globo disse que a iniciativa "Lance Limpo" seguirá valorizando e enaltecendo atitudes como a de Rodrigo Caio, que mostrou sua grandeza para além de sua capacidade técnica".


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