Folha de S. Paulo


Reino Unido quer banir torcedor homofóbico dos estádios

Adriano Vizoni/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 30-06-2013: Futebol: dançarino exibe faixa contra homofobia na festa de encerramento antes da final da Copa das Confederações, 2013, entre a Seleção Brasileira e a Seleção da Espanha, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, ESPORTES)
Dançarino exibe faixa contra homofobia na festa de encerramento da Copa das Confederações, em 2013

Para barrar a homofobia nos estádios, a Fifa já apelou para multas, mandou seleções jogarem com portões fechados e ameaçou com perda de pontos. Nada vingou.

O Parlamento britânico sugere aos clubes do Reino Unido banir torcedores.

O Comitê de Cultura, Mídia e Esporte da Grã-Bretanha ouviu especialistas, atletas e pesquisadores em debates no final do ano passado.

A partir deles, documento com recomendações foi entregue à federação inglesa.

A principal conclusão é que os clubes devem proibir torcedores flagrados em atos homofóbicos de entrar em estádios de dois a três anos.

No ano passado, a CBF foi multada em 20 mil francos suíços (R$ 62 mil em valores atuais) pelos gritos de "bicha" para o goleiro Ospina em partida contra a Colômbia. Punições similares foram dadas às federações da Argentina, Peru, Paraguai, México, El Salvador e Honduras.

Como as condenações financeiras não deram efeito, a entidade mandou que Chile e Croácia façam dois jogos em casa pelas eliminatórias sem presença de público.

"As pessoas reagem melhor hoje a um atleta homossexual que há 20 anos. Estudos no Reino Unido mostram que 93% apoiariam um jogador declaradamente gay. Mas há uma minoria que deve ser combatida", diz James Cleland, da Universidade de Loughborough (ING).

Além do banimento dos torcedores, o parlamento produziu mais cinco recomendações. O relatório defende que árbitros têm dever de reportar e documentar qualquer tipo de abuso, mesmo em jogos das categorias de base. As federações devem adotar regime de tolerância zero.

A conclusão dos parlamentares é que há necessidade de algo ser feito de imediato para mostrar aos torcedores que homofobia é inaceitável.

"É uma tentativa louvável, só que vem de cima para baixo. Eu não acredito que se deva fazer uma caça às bruxas dentro do estádio sem antes realizar um debate sobre o que é esportivismo. Só a medida castrativa em si, não acredito", afirma Wagner Xavier de Camargo, pesquisador do departamento de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos.

No Brasil, os gritos de "bicha" quando o goleiro cobra tiro de meta se popularizaram com a participação de times mexicanos na Libertadores, na década de 1990.

A prática se tornou comum. Na vitória sobre o Paraguai, no último dia 28, pelas eliminatórias, as ofensas homofóbicas foram insistentes ao goleiro rival. A Fifa disse que pode punir a seleção.

Não é problema só do Brasil. O Chile foi punido oito vezes -levou R$ 330 mil em multas. A última sanção foi que os duelos contra Paraguai e Equador, em agosto e outubro, respectivamente, sejam com as tribunas vazias.

"Se preciso, vamos à Corte Arbitral do Esporte. É uma questão cultural que a Fifa não entende", diz o advogado Eduardo Carlezzo, que defende a federação chilena.

"Não é porque é cultural que é algo imexível. A punição do Chile foi até branda", opina Camargo.


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