Folha de S. Paulo


Torneio de nadador olímpico vira alternativa à fuga de eventos de base

Divulgação
O nadador Guilherme Guido premia atletas em campeonato que leva seu nome, em Limeira
O nadador Guilherme Guido premia atletas em campeonato que leva seu nome, em Limeira

A crise que acomete o esporte aquático brasileiro fez com que a confederação nacional redimensionasse o calendário de eventos, sobretudo de base. Em meio a essa contração, alguns nadadores têm tomado iniciativas próprias para realizar campeonatos.

Neste sábado (1º), por exemplo, o nadador Guilherme Guido, 30, que disputou os Jogos Olímpicos de Pequim-2008 e do Rio-2016, promove em Limeira (a 151 km de São Paulo) a terceira edição de torneio que leva seu nome –para participantes com idades entre 6 e 18 anos. O formato é de apenas disputas em provas de 50 m.

A competição, que ocorre em piscina de 25 m (não olímpica), tem 618 nadadores inscritos, aumento de 6% em relação ao ano anterior –em 2015, foram menos de 400.

Como comparação, o Troféu Chico Piscina, um dos mais tradicionais da natação de base do país, teve 370 competidores inscritos em 2016.

"A ideia do campeonato surgiu como um incentivo para a base do nosso esporte. Para que o atleta da base tenha contato diretamente com o atleta olímpico e dali possa extrair dicas para seguir com os seus treinamentos. Quando eu era atleta de base, não conseguia esse contato próximo a um atleta de ponta", afirmou Guido, que é recordista sul-americano dos 100 m costas.

Quando se refere a contato com atletas, ele se refere a Cesar Cielo, único campeão olímpico da natação brasileira, que tem presença aguardada no evento em Limeira neste sábado.

O recordista mundial dos 50 m e 100 m livre voltará a competir em maio, no Troféu Maria Lenk, após ter ficado fora dos Jogos do Rio –Guido também nadará a competição, que é classificatória para o Mundial de Budapeste, em julho.

Nos anos anteriores, Etiene Medeiros e Thiago Pereira também participaram do campeonato em Limeira.

Guido afirmou que a primeira edição de seu campeonato, em 2015, quase não chegou a ser realizada pela falta de patrocinadores.

"A primeira edição foi a mais difícil. Corremos muito para captar patrocinadores e parcerias que acreditassem no nosso evento. O custo da primeira edição foi de R$ 80 mil", comentou.

Passados dois anos, a situação melhorou um pouco, com apoios da prefeitura local e de uma empresa. Sua intenção é consolidar o evento e superar a barreira dos mil inscritos.

A CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), que gere a modalidade no país, tem vivido período turbulento.

Primeiro, manteve apenas pouco mais de 20% do que recebia dos Correios, seu principal patrocinador, para os próximos dois anos –também perdeu o apoio do Bradesco.

O arrocho orçamentário fez com que a entidade já avisasse que vai enviar somente de oito a dez nadadores, de acordo com os índices técnicos em provas olímpicas, para o Mundial de Budapeste.

Além disso, desde setembro a confederação está às voltas com problemas judiciais.

Chegou, por exemplo, a ser alvo de uma investigação do Ministério Público Federal em São Paulo que resultou no afastamento de sua cúpula, o que posteriormente foi derrubado.

Atualmente, as eleições para a sua presidência, que já deveriam ter ocorrido, estão suspensas e um interventor foi nomeado para atuar.

"Em meio a tanta confusão isso mostra o quanto somos carentes em iniciativas como esta. Precisamos investir no esporte da base. Se não fizermos por nós mesmos, ninguém fará. Todos os atletas olímpicos têm e devem usar todo o aprendizado e o nome para incentivar novos talentos. Eu encontrei a minha maneira de fazer", concluiu Guido.


Endereço da página:

Links no texto: