Folha de S. Paulo


Com menos dinheiro, Nuzman afirma que Brasil voltou à década de 90

A fuga de patrocínios do esporte brasileiro e do próprio COB (Comitê Olímpico do Brasil) –que perdeu todos seus apoiadores privados, incluindo a Nike – fez o presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, dizer que o Brasil voltou no tempo.

"Era natural que eu enxergasse dessa maneira, um cenário mais difícil. O Brasil passou de 2002 a 2016 organizando grandes eventos, as origens de recursos eram diferentes. A partir de agora, a gente volta ao que era antes de Sydney-2000. Os patrocínios e recursos eram diferentes e menores", disse em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (29), antes da entrega do Prêmio Brasil Olímpico, no Rio de Janeiro. Nenhum banner com patrocinador foi exibido ao fundo.

"Não temos mais o ciclo de grandes eventos e investimentos. Por outro lado, temos os recursos da Lei Agnelo/Piva (proveniente das Loterias), algo que não tínhamos ali em 2000", completou. O mandatário afirmou que o COB está buscando soluções para driblar a falta de recursos, que abundaram no último ciclo olímpico.

"Temos uma equipe nova da área comercial. Não renovar alguns contratos é uma questão de apresentarmos novos projetos", justificou.

Nuzman admitiu também que a série de problemas e escândalos em confederações só pioram a percepção das pessoas em relação ao esporte olímpico. Neste momento, por exemplo, a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) está suspensa pela Federação Internacional por problemas financeiros, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) está com as eleições suspensas e a Confederação Brasileira de Taekwondo responde a uma série de denúncias.

"É natural que tudo que sai ruim afete a imagem... isso não tem a menor dúvida. Mas é bom lembrar que falamos de 30 confederações olímpicas e citamos problemas com duas, três. Lógico que não é o que gostaríamos que fosse", falou.

Nuzman, que também presidiu o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio, afirmou que não vê uma falha no legado.

"O legado esportivo não está comprometido. Nenhuma cidade tinha condição de fazer uma transformação como o Rio. Esse era o grande desafio. Nenhuma cidade em 120 anos teve uma transformação em benefício da população como aqui. Mais do que Tóquio, 19 anos após a guerra, ou Barcelona. O legado esportivo existe. O que ele precisa é ser pautado em termos de projetos e desenvolvimentos", disse.

"É natural que a gente queria logo ter tudo sobre o legado, mas é bom vermos o tempo que leva para ser montado isso. Londres teve seu parque olímpico fechado por um ano, nós ainda estamos fazendo alguns eventos lá. Sobre a poluição de lagoas e outros locais, Pequim também não cumpriu sua meta. A demora é algo normal, os problemas acontecem. Mas temos caminhos para resolver. Quanto mais rápido, melhor", justificou.

Ele comentou sobre a situação do Maracanã, que sofreu com o abandono após os jogos e tem sido pouco utilizado. "A relação não é boa com a concessionária, mas é com o Governo do Estado. Eles receberam o estádio e disseram que estava tudo bem. Consertamos o teto do Maracanãzinho e cuidamos do Maracanã. O que acontece é que querem [concessionária] desviar o foco diante de tantos problemas lá dentro. Nós fizemos a nossa parte".

Neste ano, haverá eleição para a presidência da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) e Nuzman brigará pelo posto contra outros quatro candidatos, sendo que seu principal rival deverá ser o dominicano José Joaquin Puello "Há uma crise de liderança na região. Minha ideia é transformar a Odepa. Vou rever também a questão de Odesur (Organização Desportiva da América do Sul)", disse.

"Mas a candidatura não atrapalha em nada minha atividade no COB", afirmou.

NOVA META

O chefe do COB afirmou também que a partir de agora a entidade não vai mais estabelecer uma meta de medalhas, como aconteceu na Rio-2016. O Objetivo era ficar no top 10 pelo total de pódios, algo que não se concretizou. Foram 19 medalhas ganhas (sete ouros, seis pratas e seis bronzes), o que rendeu a 13ª colocação geral.

"Falam muito em medalhas, mas o número de finais foram os melhores da história. São degraus que vamos subindo e nos dão uma perspectiva para frente. Vou ficar devendo sobre essa meta, será algo interno. Não vamos nem falar sobre isso para Tóquio. Se alguém falou sobre isso [Marcus Vinícius Freire, ex-superintendente de esportes do COB], cobre dele", disparou.

Nuzman evitou falar sobre problemas com Freire, que se desligou do COB semanas após o término dos Jogos .

"Isso é uma questão de foro interno do Comitê", desconversou


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