Folha de S. Paulo


Mais longo e com equipes 'grandes', Brasileiro feminino começa hoje

Thiago Lopes / AGFF
Patricia Gusmão orienta jogadoras do Grêmio durante treino
Patricia Gusmão orienta jogadoras do Grêmio durante treino

Considerada ainda uma modalidade amadora e sem o apoio financeiro necessário da grande maioria dos clubes do país, o futebol feminino no Brasil pretende começar uma nova era neste sábado (11), quando tem início o Campeonato Brasileiro.

Pela primeira vez, a competição será disputada em duas divisões, com acesso e rebaixamento, e terá número recorde de participantes. No total, serão 32 agremiações, 16 em cada divisão.

O torneio também será mais longo. Disputado durante no máximo quatro meses desde 2013, o campeonato terá agora duração de quase seis meses. Além disso, cada equipe disputará no mínimo 14 jogos –antes eram quatro.

Por outro lado, a Copa do Brasil feminina, disputada em mata-mata, deixou o calendário da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Mesmo com estruturas longe do ideal, três equipes da Série A do Brasileiro masculino vão debutar no torneio.

O objetivo é obedecer o novo regulamento de Licença de Clubes, elaborado pela CBF, que determina que os times da Série A precisam ter uma equipe principal feminina, mesmo que seja por parceria, até 2018, e as exigências da Conmebol de que agremiações que disputarem a Libertadores e a Copa Sul-Americana a partir de 2019 também tenham times femininos.

Thiago Lopes / AGFF
Jogadoras do Grêmio durante treino em preparação para o Brasileiro
Jogadoras do Grêmio durante treino em preparação para o Brasileiro

Outro fator que contribuiu é a adesão ao Profut (programa de refinanciamento das dívidas dos clubes com a União), que estabelece padrões de investimento no esporte.

Grêmio e Ponte Preta são dois exemplos que já estão se adequando às novas regras. Há um mês, o clube gaúcho iniciou a montagem de seu time e fará sua estreia no Brasileiro neste domingo (12), quando enfrenta o Vitória-PE.

"Foi um pedido do presidente [Romildo Bolzan Júnior], que já está pensando em ter uma equipe feminina própria para atender as exigências da Conmebol e da CBF. Fizemos uma parceria com a Associação Gaúcha de Futebol Feminino e peneiras no interior do Estado para montamos a equipe", afirmou Júlio Titow, coordenador geral do departamento feminino.

CAMPEONATO BRASILEIRO FEMININO - Série A1

"É um passo pequeno que estamos dando hoje, mas vai ser gigante em breve. O futebol feminino no país vai explodir", acrescentou Titow. As atletas do clube recebem ajuda de custo de R$ 500.

Já a Ponte Preta fez uma parceria com a equipe da Secretaria de Esportes de Valinhos, cidade que fica a cerca de 70 quilômetros de São Paulo e a dez de Campinas.

"Essas novas exigências pesaram muito na nossa decisão de formar uma equipe feminina. Como decidimos montar em janeiro optamos pela parceria com a equipe de Valinhos. A indicação partiu da CBF e do Vadão [ex-treinador da seleção feminina]", disse Edu Porto, diretor de marketing da Ponte Preta.

O clube, que estreia no Brasileiro contra o São José-SP no domingo, anunciou a parceria na última quinta-feira (9).

A Ponte cederá o uniforme, além de ficar responsável pela parte médica das atletas, a infraestrutura e a captação de patrocínios. Já o dinheiro repassado pelas empresas que promovem o torneio (SportPromotion e Klefer) em parceria com a CBF será gerido pela Prefeitura de Valinhos.

No ano passado, o time fez um acordo similar com o Guarani, rival da Ponte Preta, para a disputa do Paulista.

O Sport também reativou sua equipe feminina. O clube havia disputado um torneio nacional (a Copa do Brasil) pela última vez em 2014.

Além de Sport, Ponte e Grêmio, outros quatro times que disputam a Série A do Brasileiro estão no torneio feminino: Vitória, Santos, Corinthians e Flamengo. O Estado de São Paulo ainda conta com o Audax, Rio Preto, São José e Ferroviária. Com exceção do Audax, as outras equipes são vinculadas a prefeituras.

Em 2014, o time de Araraquara levantou o troféu. No ano seguinte, o São José foi campeão. O último título ficou com o Flamengo, que fez parceria com a Marinha do Brasil. O clube é responsável por ceder o seu uniforme, que recebe o brasão da Marinha. As jogadoras são militares.

O time abre o torneio neste sábado, às 16h, quando pega o Vitória, no Barradão.

Em 2016, Santos, Corinthians, América-MG, Vitória e Flamengo, além do Vasco, que estava na Série B, participaram da competição.

CAMPEONATO BRASILEIRO FEMININO - Série A2

PRECONCEITO DIMINUIU, DIZ CBF

O coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, afirmou que o preconceito com a modalidade no país está perto do fim.

De acordo com o dirigente, um dos fatores é o grande número de atletas do país (40) que jogam no exterior e conseguem viver hoje do futebol.

"Passou o grau do preconceito. É uma mudança de comportamento. As famílias estão felizes com essa oportunidade que as meninas estão tendo. Atualmente, as jogadoras que atuam fora do país conseguem viver do futebol feminino", disse Cunha.

"O Brasileiro feminino vai servir para mostrar nossa renovação. Outras meninas estão surgindo e mirando as atletas do exterior assim como acontece no masculino".

A opinião do dirigente da CBF é compartilhada por clubes e jogadoras. "O preconceito não existe mais em casa porque o futebol feminino pode ser um modo de vida", afirmou Pedro Cruz, diretor de futebol da parceria Corinthians/Audax, atual campeão da Copa do Brasil.

A volante Jéssica, 35, do Rio Preto, também segue o discurso. Treinadora da escolinha de futebol feminino da Secretaria de Espotes de São José do Rio Preto, a jogadora afirmou que os pais levam e incentivam as crianças a praticarem.

"Não aguentamos mais esse discurso [preconceito]. O preconceito é da sociedade. Temos que combater, mas não inventar desculpa", disse Jéssica, que dá aula para meninas entre 12 e 18 anos.

CAMPEONATO BRASILEIRO FEMININO - Equipes e regulamento da competição


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