Folha de S. Paulo


Vôlei do Brasil prevê liberação em maio e faz plano para ter Leal em 2019

A seleção masculina de vôlei, atual campeã olímpica, deve contar com o cubano naturalizado brasileiro Yoandy Leal a partir de maio de 2019.

O ponta, que atua desde 2012 pelo Cruzeiro e se converteu em um dos melhores jogadores do planeta, terá sua liberação para defender a equipe brasileira apreciada em reunião do conselho de administração da FIVB (Federação Internacional de Vôlei) em Marrakech, no Marrocos, nos dias 3 e 4 de maio.

O processo do jogador será um dos temas da pauta a ser discutida pela cúpula da entidade. É ela quem dá ou não aval para que um atleta que tenha defendido um país possa atuar por outro.

A cúpula da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) já dá a liberação como certa e traça planos de usar o atacante como trunfo neste ciclo olímpico que culmina nos Jogos de Tóquio, em 2020.

Leal, 28, já é naturalizado brasileiro desde o fim de 2015. Entretanto, para poder jogar pelo Brasil, há exigências mais rígidas. Como o atacante defendeu Cuba no início desta década, a CBV teve de submeter à federação documentação na qual fica estabelecido o vínculo.

Aí entram questões como possuir passaporte, morar há mais de dois anos no Brasil e comprovar residência.

Segundo o diretor-executivo da CBV, Ricardo Trade, acertar a situação de Leal foi sua "missão" nos últimos meses. O dirigente afirmou que a costura do acordo para acelerar a tramitação envolveu lobby com a Norceca (entidade máxima da modalidade nas Américas do Norte e Central e no Caribe), com a federação cubana, que precisa dar anuência, e com a FIVB.

A federação internacional é dirigida desde 2012 pelo brasileiro Ary Graça, ex-presidente da CBV. No ano passado, ele acabou reeleito para cumprir mandato até 2024.

"Acredito que haverá uma decisão bacana sobre o Leal", disse Trade à Folha. "Está tudo muito bem amarrado."

Dada permissão, Leal ainda terá de ficar dois anos em um período de carência, a contar do aceite de sua documentação pela FIVB.

Ou seja, Leal só poderia de fato atuar pela seleção brasileira em maio de 2019. Assim, ele perderia o Campeonato Mundial de 2018, que será sediado na Itália e na Bulgária.

A CBV, porém, não quer esperar tanto. Trade disse que já conversou com o novo treinador da seleção masculina, Renan dal Zotto, para que Leal se junte à equipe em 2018 para treinamentos na preparação para a temporada.

"É claro que precisamos conversar com o Leal e o Cruzeiro, mas a intenção é essa."

A estreia do ponta ocorreria em maio de 2019, por ocasião do início da Liga Mundial. Ele poderia disputar outros torneios, como os Jogos Pan-Americanos de Lima.

O trunfo da CBV será vê-lo com as cores do país nos Jogos de Tóquio. "O Leal passa a ser mais um ídolo para a seleção. Eu tenho a certeza de que os jogadores vão recebê-lo muito bem", disse Trade.

O ingresso de Leal na seleção brasileira era um desejo de Bernardinho, que deixou o cargo de técnico da equipe em janeiro após indefinição que se arrastou após a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio.

Com o Cruzeiro, o atacante foi tricampeão mundial de clubes (2013, 2015 e 2016) e tri da Superliga. Pela seleção cubana, medalha de prata no Mundial de 2010, na Itália.

"Espero representar a seleção brasileira nos Jogos de Tóquio. Tenho uma bandeira cubana tatuada no punho direito, mas carrego muito de Brasil no meu sangue", disse Leal à Folha em outubro.

CHEGADA DIFÍCIL AO BRASIL

Leal brilhou com a seleção cubana que conquistou a medalha de prata no Mundial da Itália, em 2010, mas foi no Brasil que ele realmente adquiriu uma condição de astro do vôlei.

Descontente com a falta de reconhecimento da federação cubana depois da campanha em 2010, ele decidiu desertar em busca de dinheiro e oportunidade.

Ao chegar a Belo Horizonte para se apresentar ao Cruzeiro do técnico argentino Marcelo Mendez, em agosto de 2012, tinha 118 kg, quase 20 kg acima do seu peso ideal. Ele fora impedido até de treinar por abandonar a seleção.

Em pouco tempo, no entanto, Leal transformou-se em uma máquina de pontuar na equipe mineira, que passou a dominar o vôlei em âmbito nacional e internacional –é tricampeão mundial de clubes.

O agora brasileiro vive na capital mineira com a mulher, Sheyla, e o filho mais novo, Ian Carlos.

O Cruzeiro caminha para mais títulos sob sua batuta. A equipe lidera a fase de classificação da Superliga com folga em relação ao segundo colocado. Leal é o atacante mais eficiente da competição.

CRONOLOGIA
Leal na seleção

Out.2010
Com a seleção cubana, Yoandy Leal termina com a prata no Mundial da Itália. Meses depois, ele e outros jogadores decidem abandonar a equipe e tentar a carreira no exterior

Ago.2012
Leal chega ao Brasil para defender o Sada Cruzeiro com 20 kg acima do peso

2013
Em sua primeira temporada no Brasil, ajuda a equipe a conquistar a Superliga e o Mundial de Clubes

2015
Recebe a nacionalidade brasileira, mas não pode disputar os Jogos do Rio porque não há tempo para obter liberação da federação internacional

2016
Já com o passaporte brasileiro em mãos, reafirma desejo de defender a seleção

Mai.2017
Reunião do conselho de administração da FIVB define liberação de Leal para atuar pelo Brasil. Depois disso, jogador precisa cumprir período de carência de dois anos

2018
CBV pretende que o ponta participe de treinamentos com a equipe nacional durante preparação para o Mundial

Mai.2019
A CBV tem expectativa de que Leal estreie na equipe principal na Liga Mundial daquele ano e dispute outros torneios


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