Folha de S. Paulo


Rival do São Paulo na Copa do Brasil, PSTC foi criado para revelar jogadores

Em duas casas em Uraí, cidade de 11 mil habitantes no norte do Paraná, moram 27 jogadores do PSTC Procopense, time da primeira divisão do futebol paranaense e rival do São Paulo na segunda fase da Copa do Brasil, nesta quarta-feira (1º), às 19h30.

Manter todos os jogadores, inclusive os casados, alojados na mesma casa foi uma forma de a diretoria do clube reduzir gastos. A média salarial do elenco é de R$ 2 mil.

Esse é só um dos exemplos da disparidade entre as equipes. Enquanto o clube do Morumbi tem um dos centros de treinamentos mais completos do país, os treinamentos do PSTC são realizados no estádio municipal Ubirajara Medeiros, e os exercícios de musculação são feitos em uma pequena academia de ginástica. Em uma área do refeitório foi instalada uma maca, para a fisioterapia.

O PSTC foi criado em 1995 pelo ex-pecuarista Mario Iramina, que vendeu os bois e a fazenda que tinha para investir em um sonho antigo: revelar jogadores de futebol.

Juntou a outros 12 investidores da cidade de Londrina, fez contatos no Japão e bolou um nome em inglês, visando facilitar as negociações.

"Paraná Soccer Technical Center (PSTC) foi o nome que julgamos mais adequado, pois japoneses e americanos entendiam o que era 'soccer' naquele tempo", recorda ele.

Entre os jogadores revelados desde então estão o volante Kléberson, campeão mundial em 2002 com a seleção brasileira, o atacante Dagoberto, o meia Jadson e o volante Fernandinho.

Hoje o clube tem 14 investidores e aloja, em Londrina, 50 garotos de 14 a 17 anos de idade. Toda a estrutura consome R$ 300 mil por mês.

O time profissional só foi criado em 2010, quando a federação paranaense determinou que clubes que não disputassem alguma das divisões do Estadual não poderiam disputar também os torneios das categorias de base.

"Entramos na terceira divisão para cumprir tabela. Mas subimos para a segunda e, em 2015, para a primeira. No ano passado ficamos em quarto. Agora não queremos mais cair", diz Iramina.

Sergio Ranalli/Folhapress
José Aparecido, 71 anos, zelador do Ubirajara Medeiros desde 1984, ficou frustrado com a mudança do local da partida
José Aparecido, 71 anos, zelador do Ubirajara Medeiros desde 1984, ficou frustrado com a mudança do local da partida

LONGE DE CASA

Desde o ano passado o clube adotou o sobrenome Procopense e passou a mandar suas partidas em Cornélio Procópio, onde a prefeitura investiu R$ 400 mil na reforma do estádio municipal para acolher a equipe.

Quando o time paranaense venceu em casa o Ypiranga-RS por 2 a 1 na primeira fase da Copa do Brasil e se concretizou a possibilidade de receber o São Paulo, houve agito entre os procopenses. Mas a timidez do estádio, que tem capacidade para 2.228 torcedores, levou a diretoria do PSTC a procurar uma praça esportiva maior.

A primeira opção seria a Arena Pantanal, em Cuiabá. O estádio que sediou jogos da Copa do Mundo de 2014, porém, não tem todos os laudos necessários para receber uma partida de futebol.

A CBF chegou a confirmar o jogo para o Ubirajara Medeiros. No entanto, uma recomendação da Polícia Militar (PM) à Federação Paranaense de Futebol (FPF), considerando arriscado realizar o jogo em um estádio pequeno, contribuiu para que a partida fosse transferida para o estádio do Café, em Londrina, onde cabem 27.500 torcedores.

"É importante ressaltar, no entanto, que não vetamos a partida aqui. Apenas recomendamos a mudança por entender que faltariam lugares para a grande torcida são-paulina na região", enfatiza o capitão da PM Juarez Saldanha Machado.

A mudança de local frustrou José Aparecido, 71 anos, zelador do Ubirajara Medeiros desde 1984. "Eu iria deixar tudo um 'brinco'. Seria emocionante ver o Rogério Ceni de perto", lamenta.

Em redes sociais, muitos torcedores do time também reclamaram –Londrina fica a 60 quilômetros e é necessário pagar pedágio de R$ 21 para chegar à cidade.

"Eu considero um descaso com a população da cidade. Sinto-me apunhalado pelas costas", afirma o torcedor Luiz Gustavo Dib Canônico.

Quem também preferia jogar em Cornélio Procópio é o treinador do PSTC, o ex-volante Reginaldo Vital. "As nossas chances de vencer seriam maiores. Nunca escondi isso. Mas entendo que a estrutura da praça esportiva deixa a desejar", comenta.

Autor do gol que garantiu a classificação do PSTC para enfrentar o São Paulo, o atacante Carlos, 21, que já passou por Figueirense-SC e Luverdense-MT, é outro que já sonhava em marcar mais gols decisivo pela Copa do Brasil em Cornélio Procópio. "Ali, conheço os atalhos", ressalta, em bom linguajar de boleiro.

Mario Iramina, presidente do PSTC, contemporiza ao afirmar que "o momento é importante para conseguirmos uma renda melhor".

NA TV
PSTC x São Paulo
19h30 Fox Sports


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