Folha de S. Paulo


Corinthians supera erro da arbitragem e, com um a menos, ganha o clássico

Cem anos depois de se encontrarem pela primeira vez, Corinthians e Palmeiras fizeram o 353º dérbi da história. Na Arena, a equipe da casa buscou forças na mitologia que construiu de se superar nas adversidades, ultrapassou falha gritante da arbitragem e conquistou a 121ª vitória sobre o seu maior adversário. O gol da vitória saiu dos pés do centroavante Jô, aos 42 minutos do segundo tempo, formado no início do século no "terrão" corintiano e hoje com 29 anos.

Desacreditado após ter perdido a titularidade para Kazim, ele havia acabado de entrar em campo quando fez o tento de tintas épicas.

O encontro histórico foi manchado por um erro bisonho do árbitro Thiago Duarte Peixoto, que deu cartão amarelo para o volante Gabriel, do Corinthians, por um lance do qual ele nem ao menos participou. Como já tinha uma advertência, o jogador foi expulso e o Corinthians ficou com um a menos.

O lance aconteceu aos 45 minutos do primeiro tempo. Maycon puxou a camisa de Keno. No entanto, ao ver Gabriel perto do lance, Peixoto o expulsou, para desespero dos corintianos. O volante ficou alguns minutos em campo, recusando-se a sair.

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Antes da lambança, o clássico mostrou mais uma vez sua capacidade de igualar as equipes independentemente das turbulências políticas pelas quais passam, das crises financeiras ou das qualidades de seus elencos.

Recheado de jogadores badalados, o Palmeiras começou o jogo acuado pelo dono da casa, cuja forte marcação na saída de bola, executada por Romero, Kazim e Rodriguinho, mantinha o jogo na área adversária.

Desfalcado de Camacho, que perdeu o pai, e Marlone, com virose, o treinador Fábio Carille decidiu apostar nas categorias de base corintianas, que ao longo dos cem anos de história do dérbi forneceram nomes como Neco, Rivellino e Casagrande. Desta vez, os representantes foram Maycon, Guilherme Arana e Léo Jabá, que tiveram ótima participação.

Aos 2 minutos de jogo, o Corinthians chegou perto de abrir o placar com Gabriel, que acertou o travessão do goleiro Fernando Prass com chute de longa distância.

Desde antes o início do jogo, o volante era um dos protagonistas. Ele faz parte da longa linhagem de jogadores como o zagueiro Bianco Gambini, que antes do primeiro dérbi, em 1917, trocou o Corinthians pelo Palestra Itália e passou a ser visto como traidor pelos torcedores alvinegros. Em janeiro, Gabriel fez o caminho inverso, magoando os alviverdes.

Pressionado pela equipe bem organizada por Carille, o Palmeiras só encontrava espaços em contra-ataques.

No segundo tempo, a vantagem numérica fez com que a equipe visitante partisse para o ataque. O Palmeiras trocou muitos passes e finalizou poucas vezes. Faltou ao time de Eduardo Baptista a agudez de Oswaldo Brandão ou de um Vanderlei Luxemburgo dos tempos áureos.

Uma das principais ameaças saiu dos pés de Willian, que já passou pelo Corinthians. Aos 14 minutos, ele chutou de longa distância e acertou o travessão. Pouco depois, Guerra cruzou, Keno cabeceou e Cassio fez grande defesa, mantendo o empate.

Quando a força do Palmeiras parecia insuportável, os garotos do Corinthians resolveram. Maycon ganhou disputa de bola e passou para Jô, que em 2003 se tornou o jogador mais jovem a vestir a camisa profissional do Corinthians e também a marcar um gol, que tocou por baixo de Prass e garantiu a vitória.

"Nesses momentos que a gente fica feliz porque cada dia que passa sei que deus está comigo na minha vida, sempre aprendendo. O professor optou por outra pessoa, mas penso no grupo, não fiquei chateado. Aprendi muito com a vida, muitas vezes pensei só em mim e só eu fui prejudicado. Grupo maravilhoso, com dois toques fiz o gol e dedico a toda a torcida, o time está crescendo. Vamos colher muitos frutos neste ano", disse Jô.

Cem anos do Derbi

FIM DO JEJUM

Na partida que marcou 100 anos do clássico Corinthians e Palmeiras, a equipe alvinegra quebrou a sequência de seis jogos sem ganhar do rival.

A última vitória sobre o time alviverde havia sido em fevereiro de 2015, quando venceu por 1 a 0, no Allianz Parque, pelo Campeonato Paulista.

Desde então, foram quatro vitórias do Palmeiras e dois empates até a vitória corintiana desta quarta.

Neste século, a melhor sequência corintiana sobre o Palmeiras são de dez jogos de invencibilidade. A partir de dezembro de 2011, quando empatou por 0 a 0, e faturou o título do Brasileiro, o Corinthians ficou invicto diante do rival até maio de 2015, quando o time alviverde venceu por 2 a 0.

PROTESTO

Antes do início da partida, a torcida organizada Gaviões da Fiel acendeu sinalizadores vermelhos, o que fez com que o estádio ficasse cheio de fumaça. A torcida exibia uma faixa que dizia "pelo fim da proibição". A FPF não permite o uso desse tipo de equipamento nas arenas.

A fumaça dispersou-se rapidamente e não chegou a atrapalhar a partida. No ano passado, a torcida foi suspensa por 60 dias por ter acendido sinalizadores em jogo da Copa São Paulo.


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