Folha de S. Paulo


Após Olimpíada, 14 arenas estão fechadas no Rio de Janeiro

Seis meses depois da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, 14 arenas envolvidas no evento estão fechadas. A maioria não tem nem um calendário de eventos definidos.

Depois dos bilhões gastos para erguer as modernas instalações esportivas, os governantes ainda não conseguiram articular uma programação esportiva sequer. Duas arenas, que vão se transformar em escolas e centros aquáticos, não tiveram nem a licitação lançada para o desmonte da estrutura.

Uma das maiores promessas de legado para os moradores da cidade, o Parque Radical de Deodoro é um exemplo da dificuldade para manter as instalações abertas.

Segunda maior área de lazer da cidade, o parque fechou os portões em dezembro, quando o contrato com a empresa que administrava o local acabou, e não tem data para reabrir.

Transformado num piscinão, o circuito de canoagem slalom era a principal atração. Palco também das provas de BMX e mountain bike, o local foi aberto antes dos Jogos após pressão dos moradores, que chegaram a invadir a piscina em 2015.

Com o encerramento do contrato no final de dezembro, os vizinhos do parque ficaram do lado de fora no verão.

"É uma tristeza. Agora, que tudo está pronto, o povão não pode entrar", diz Luiz Carlos da Silva, 50, que improvisou uma vendinha em sua casa, em frente ao parque. Ele afirma que faturou quase R$ 1.500 por semana durante os Jogos. Hoje, não consegue R$ 200 no mesmo período.

Responsável por administrar o parque, a prefeitura diz que trabalha para reabrir o local o mais rápido possível.

Deodoro também conta com outras cinco arenas (os centros de hipismo, de hóquei, de tiro, aquático e a Arena da Juventude), que estão fechadas desde os Jogos.

O Exército comanda as instalações e informou que estão programados quatro torneios e quatro sessões de treinamentos no local neste ano. Mesmo assim, não divulgou as datas das competições. No calendário, o principal evento previsto é o Carioca de judô.

No Parque Olímpico, coração do megaevento, o cenário é de cidade fantasma. Sem um gestor privado para administrar o espaço, com custo anual de cerca de R$ 17 milhões, a prefeitura repassou as Arenas Cariocas 1 e 2, Velódromo e Centro de Tênis para o Ministério do Esporte.

O primeiro evento pós-Jogos foi realizado no último dia 5, quando o Centro de Tênis abrigou um torneio de vôlei de praia. Não há nenhum outro evento planejado para este ano.

Apesar de vazio desde então, o Velódromo mantém ligado o sistema de refrigeração para evitar danos na pista de madeira siberiana. De acordo com o Ministério do Esporte "estima-se que o custo com energia deva ser de R$ 3,5 milhões" neste ano.

No Parque Olímpico, a prefeitura ficou apenas com a Arena Carioca 3, que será transformada numa escola voltada para o esporte, o Ginásio Experimental Olímpico, com capacidade para mil alunos. O município não diz quando a escola será aberta.

Erguidas com a previsão de ser desmontadas após os Jogos, o Estádio Aquático e a Arena do Futuro, estão de pé.

A prefeitura aguarda recursos federais para o lançamento dos editais de licitação que irão definir as empresas responsáveis pelo desmanche. Ainda não há previsão para o final da empreitada.

A Arena do Futuro vai ser transformada em quatro escolas públicas. Já as piscinas do Centro Aquático serão doadas ao Exército. Inicialmente, o ex-prefeito Eduardo Paes queria construir dois centros aquáticos em bairros populosos, como Madureira e Campo Grande.

Do outro lado da cidade, o Maracanã e o Maracanãzinho seguem com o futuro indefinido. Na próxima semana, a Odebrecht, principal acionista do consórcio que administra os dois espaços, pretende fechar negócio com o novo operador. A decisão está sendo adiada desde o ano passado.

"É um sentimento de ressaca. Mas a esperança é que tudo volte a funcionar", disse a paulista Maria Vargas, 36, ao olhar do lado de fora o Parque Olímpico na quarta (8). Em agosto, ela assistiu com parentes a jogos de basquete e handebol da Olimpíada.

ACORDO PARA PARQUE OLÍMPICO E DEODORO

A Prefeitura do Rio informou que está "trabalhando para reabrir o Parque Radical de Deodoro o mais rápido possível".

Para isso, o órgão disse, em nota, que "precisa resolver questões contratuais que foram deixadas pela administração anterior".

No dia 11 de janeiro, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) dissera que o parque seria reaberto logo.

Segundo a Prefeitura, "o calendário de eventos esportivos ainda será definido em conjunto com as confederações de cada modalidade".

De acordo com Crivella, o antigo contrato era de cerca de R$ 20 milhões.

Para reabrir as arenas do Parque Olímpico e de Deodoro, o Ministério do Esporte assinou neste mês dois "acordos de cooperação". Um foi fechado com o COB (Comitê Olímpico do Brasil), o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) e o CBC (Comitê Brasileiro de Clubes) e contempla o Parque Olímpico.

Sem dar muitos detalhes sobre o futuro do parque, a pasta informou que o objetivo do acordo "é prover às entidades que formam o Sistema Nacional do Desporto estruturas esportivas adequadas à realização de competições, treinamentos e intercâmbios, nacionais e internacionais".

O COB pretende fazer da Arena Carioca 2, do Velódromo e do Centro de Tênis espaços de treinamento de atletas.

O outro acordo foi fechado com o Exército. Nele, também sem se aprofundar, o ministério do Esporte "prevê fluxos e critérios para uso compartilhado das instalações esportivas de Deodoro". Segundo o contrato, o objetivo é dar oportunidades para diferentes atores (...) utilizarem as instalações de forma facilitada e reconhecida pelo ministério.

As autoridades alegam que definir o futuro de instalações olímpicas necessitam de tempo. Eles citam que o Parque Olímpico de Londres-12 só foi reaberto em 2014. Já o estádio olímpico foi reinaugurado neste ano.

Elefantes brancos - Seis meses após os Jogos, maioria das arenas segue com futuro incerto


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