Folha de S. Paulo


Crítica

Excelência de Telê falta à obra que relembra sua história no São Paulo

Um dos maiores técnicos que o futebol brasileiro conheceu, Telê Santana (1931-2006) treinava muito seus jogadores para que aprendessem a dar passes com exatidão. Ele gostava dos dribles a serviço do ataque. Opunha-se ao enfeite, ao desmedido.

Telê primava pela elegância. Não só ao cultivar movimentos harmoniosos em campo, mas também no respeito ao rival –segundo Zico, ele foi o seu único técnico de quem jamais ouviu ordens para bater no adversário.
Características que marcaram a trajetória do treinador mineiro –precisão, rigor, elegância– são justamente as que fazem falta ao livro "Ao Mestre, com Carinho - O São Paulo FC na era Telê", do publicitário Felipe Morais.

O período, de fato, merece ser revisto. O São Paulo de Telê –outubro de 1990 a janeiro de 1996– ganhou títulos como o Mundial (1992 e 1993), a Libertadores (nos mesmos anos) e o Brasileiro de 1992.

O time se transformava com frequência, principalmente por conta da saída de atletas para a Europa. Raí, por exemplo, foi para o PSG no início de 1993 –esteve no Mundial de 1992, mas não na edição do ano seguinte.

As reconstruções do time eram, em geral, bem-sucedidas graças às ousadias táticas de Telê. Como, por exemplo, jogar sem centroavante.

Após montar uma ótima seleção para a Copa de 1982, que perdeu da Itália, e uma boa equipe no Mundial de 1986, derrotada pela França, Telê atingiu nos anos 1990 um estado de excelência, que o autor não retrata plenamente.

O livro se enfraquece com uso excessivo de expressões como "paizão", "genial" e "futebol bonito". Há adjetivos e frases de efeito demais, e dúvidas ficam no ar.

Como eram organizados os treinos para que existisse tamanha fluência em campo? Quais eram as recomendações específicas aos principais jogadores? Nesses aspectos, "Ao Mestre, com Carinho" avança pouco.

Faz todo o sentido que o autor se estenda na descrição de um São Paulo x Milan, o bi mundial tricolor, em 1993. Mas dedicar uma página ao desempenho do time na Copa São Paulo de 1994 é dispensável.

Excessos, rodeios e dificuldade de definir prioridades atravancam a leitura. Uma revisão cuidadosa evitaria isso.

Reprodução/Site Oficial
Ao mestre, com carinho - o São Paulo FC da era Telê. Felipe Morais

O autor tem o mérito de se declarar um apaixonado pelo São Paulo. Que não se exija dele isenção, portanto. Recorrentes observações jocosas sobre o Corinthians são, no entanto, desnecessárias.

"Ao Mestre, com Carinho" reúne memórias interessantes, como as contadas por ex-jogadores como Raí, Zetti e Alemão. Mas se revelam insuficientes. Definitivamente, o livro não faz jus à importância de Telê e do São Paulo.

Ao mestre, com carinho - o São Paulo FC da era Telê
AUTOR: Felipe Morais
EDITORA: Inova (336 págs.)
PREÇO: R$ 35


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