Folha de S. Paulo


Inspirada em Nuzman, Geração de Prata do vôlei permanece no esporte

A geração de prata, seleção masculina de vôlei vice-campeã da Olimpíada de Los Angeles-1984, ficou conhecida por alavancar a modalidade no país e dar início a uma era vitoriosa, que hoje acumula cinco ouros olímpicos.

Apresentado aos atletas como o primeiro planejamento estratégico do esporte brasileiro pelo então presidente da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), Carlos Arthur Nuzman, que preside o COB (Comitê Olímpico do Brasil) desde 1995, aquele ciclo também acabaria por influenciar a vida dos 12 jovens do time.

Para eles, à despeito das críticas que atualmente recaem sobre o dirigente -entre elas o desrespeito ao tempo máximo de 8 anos à frente de uma confederação e os problemas nas contas do Comitê Rio-2016, organizador dos Jogos-, foi Nuzman o responsável por injetar no DNA de toda a equipe a importância de se planejar.

"Oposição existe sempre, e as pessoas não são perfeitas. O parâmetro tem que ser o resultado. E se você comparar, com ele ganhamos muito mais medalhas", afirma Bernard, o criador do saque jornada nas estrelas.

Ele chegou a ser Ministro de Esportes e duas vezes deputado estadual de 1994 a 2002, quando passou a trabalhar no COB e, posteriormente, no Comitê Olímpico Internacional.

Entre os dirigentes, se sobressai também Marcus Vinicius Freire. Economista, ele chegou a se afastar do esporte para ser trabalhar na iniciativa privada. A partir de 1998, porém, também foi para o COB, onde ficou por 18 anos, sendo oito deles como diretor-executivo, incluindo o período da Rio-2016.

A geração de prata

O apoio ao polêmico dirigente também impera entre os que viraram técnicos.

"O Nuzman foi extremamente arrojado. Aquilo ficou enraizado. Se você for ver, muitos de nós acabaram virando técnico, gestor, dirigente esportivo", avalia o novo treinador da seleção masculina, Renan Dal Zotto, 54.

Fato. De todos eles, apenas Antônio Carlos Ribeiro, o Badalhoca, não se envolveu com esporte. Após deixar as quadras, ele abriu uma pousada em Visconde de Mauá, no interior do Rio de Janeiro.

Bernardinho obteve o maior sucesso entre todos nos anos em que esteve à frente de seleções (sete na feminina e 16 na masculina).

Além dele e de Dal Zotto, William também virou técnico, assim como Amauri, que começou no vôlei convencional e hoje preside a Confederação Brasileira de Vôlei para Deficientes (CBVD).

Xandó, 55, seguiu caminho parecido. Coordena as seleções brasileiras de vôlei para surdos, sendo treinador da masculina.

Para ele, aquele trabalho deu know-how à turma.

"Ganhamos uma noção fundamental de planejamento. Entendemos de fato que nada cai do céu, e depois buscamos nos aprimorar."

"Sempre tive em mente que o atleta possui todas as condições para seguir atuando no esporte. O voleibol, graças a essa interação, produziu inúmeros dirigentes, gestores e treinadores. É um legado inegável que cultivei e deu frutos", diz Nuzman.

Além dele, Domingos Maracanã, que hoje realiza projetos esportivos de inclusão social, lembra também da importância de Bebeto de Freitas, técnico daquela seleção, e seus auxiliares Jorge Borges de Araújo, o Jorjão, e José Carlos Brunoro -que depois exerceu cargo executivo em diversos esportes, sendo inclusive dirigente do Palmeiras da década de 1990.

"Vivenciamos o trabalho deles e sugamos um pouco de cada um", diz Maracanã.

Rui Nascimento vai além. "Definiu o nosso caráter", diz o ex-jogador, que gosta de chamar os antigos comandantes de "pavimentadores".


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