Folha de S. Paulo


Bernardinho optou por diminuir ritmo após câncer de técnico da canoagem

O diagnóstico de câncer no cérebro do espanhol Jesus Morlán, técnico da seleção brasileira de canoagem que lapidou o medalhista olímpico Isaquias Queiroz, foi um dos fatores que ajudaram Bernardinho a decidir por deixar o comando da seleção brasileira masculina de vôlei, na qual estava desde 2001. A saída do carioca, que é amigo do treinador espanhol, foi anunciada nesta quarta-feira (11) pela CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).

No início de novembro, um dia depois de se reunir com integrantes da direção esportiva do COB (Comitê Olímpico do Brasil) para alinhar estratégias para os Jogos de Tóquio, o espanhol se sentiu mal na casa da seleção brasileira de canoagem em Lagoa Santa, cidade mineira que serve de base para o time.

Por pensar se tratar de um mal qualquer, recolheu-se em seu quarto repleto de tonturas e dores de cabeça. Poucas horas depois, foi encontrado desacordado.

Uma sequência de telefonemas e movimentações –das quais Bernardinho participou– se seguiu até que ele fosse levado para exames em hospital de Belo Horizonte, onde foi diagnosticado um tumor na base do cérebro do espanhol.

O próprio Bernardinho já havia vivido uma experiência semelhante. Em 2014, após um exame de rotina, foi encontrado um tumor malígno no seu rim direito. O técnico teve de se submeter a uma operação às pressas em um hospital de São Paulo para retirá-lo.

Após reavivar a memória da sua doença com a experiência do amigo, o ex-técnico optou por diminuir o ritmo de trabalho, culminando no anuncio desta quarta.

"É um pouco do desgaste natural. Ele quer um tempo para cuidar da própria saúde e da família", disse o diretor de seleções da CBV, Radamés Lattari, sobre os motivos que levaram Bernardinho a deixar o cargo -ele não estava presente no anúncio.

Mais tarde, Bernardinho falou sobre sua saída ao "Jornal Nacional", da Rede Globo.

"Pela primeira vez em 23 anos eu pensei realmente em deixar [a seleção]. Para pensar um pouco, fazer outras coisas. E quando o Bruno [seu filho e levantador da seleção] me abraçou no final da Olimpíada, eu pensei: realmente, deu", disse, lembrando o momento logo após a conquista do ouro olímpico na Rio-2016.

Segundo Lattari, o treinador anunciou sua decisão para a CBV após o Natal.

"Ele ficou com o futuro mais claro e nos comunicou da decisão. Tentamos ainda mudar a ideia dele, mas não conseguimos", afirmou.

Bernardinho não se afastará do vôlei. Segundo Lattari, o ex-técnico será uma espécie de coordenador do time masculino e trabalhará com as divisões de base. Ele também foi convidado para ocupar um assento no Conselho Diretor da confederação.

Ele será substituído por Renan Dal Zotto, um dos protagonistas do time que conquistou a prata nos Jogos de Los Angeles, em 1984 -a chamada "geração de prata"-, e que ocupava o cargo de diretor de seleções na confederação brasileira desde 2015.

CARREIRA

Dentro de quadra, o carioca era conhecido pelo estilo obsessivo. Quase sempre era o último a deixar os treinos.

Em seus 16 anos à frente da seleção masculina de vôlei, Bernardinho acumulou muitos títulos. Conquistou dois ouros (Rio-2016 e Atenas-2004) e duas pratas (Pequim-2008 e Londres-2012) em Jogos Olímpicos.

Em Copas do Mundo, ganhou dois ouros (2003 e 2007). No Campeonato Mundial, foi ainda melhor. Foram três títulos em quatro participações da seleção.

Antes disso, ele colocou o time feminino no caminho das vitórias. Em 1994, Bernardinho assumiu o cargo de técnico da seleção. Naquele ano, a equipe foi vice-campeã no Mundial disputado no Brasil.

Pela equipe, também ganhou medalhas olímpicas: dois bronzes (Atlanta-1996 e Sydney-2000). Além disso, foi três vezes campeão do Grand Prix (em 1994, 1996 e 1998).

"Vocês não imaginam como foi sofrido para ele tomar essa decisão. Mas o Bernardinho estava aliviado na noite de ontem [terça]", disse Lattari.

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