Mais do que treinos e preparações, Bernardinho se diferenciou na seleção pelo modo como liderava os atletas. Fora das quadras, sabia conduzir equipes ao sucesso com a sua facilidade em gerir grupos, afirmam atletas que trabalharam com o técnico.
Nos jogos, ele tinha o seu jeito explosivo que assustava aqueles que não conhecem sua personalidade.
"No Brasil nós temos bons técnicos, mas poucos líderes. Bernardinho era um deles. A maior e melhor qualidade dele era a liderança", disse André Heller, que conquistou o ouro em Atenas-2004 sob o comando do treinador
Heller, inclusive, revelou à Folha que essa característica de Bernardinho mudou sua vida para sempre. Foi em 2002, quando a seleção se preparava em Belo Horizonte para o Mundial daquele ano, na Argentina, e o então meio de rede foi cortado do time.
A sua frustração foi enorme, mas ao invés de culpar o técnico pela sua saída do time ele o questionou sobre o que era necessário fazer para retornar um dia.
O treinador foi claro e pediu para que ele fizesse o seu trabalho para a equipe. Se capacitasse para trabalhar para o grupo. E foi o que ele fez.
Durante um ano ele se preparou e voltou em 2003 para ficar até 2008. No período foram inúmeros títulos conquistados entre Olimpíada, Jogos Pan-Americanos, Copa América e Copa do Mundo.
"Aquele exemplo que tive lá atrás, hoje eu levo para qualquer coisa que faço na vida, e passo para os meus filhos", declarou o ex-jogador.
ERA BERNARDINHO - Principais conquistas do treinador à frente da seleção masculina de 2001 a 2016
POLÊMICAS
O seu jeito não ganhou somente admiradores. Também o fez viver polêmicas.
Em 2007, cortou o levantador Ricardinho do time que jogou o Pan do Rio. O então melhor do mundo na posição disse que se sentia traído pelo corte, sobre o qual não havia sido avisado. Sem explicar muito bem o motivo de sua decisão, Bernardinho convocou seu filho Bruninho para a vaga. Ele foi reserva de Marcelinho. Em sua biografia, Giba conta que o problema teria decorrido após atos de indisciplina.
"Aquilo foi uma coisa fora do normal do Bernardinho. Mas muita coisa influenciou. Aquele ano [2007] foi muito complicado, as coisas não estavam dando certo e acabou acontecendo o desentendimento", afirmou Rodrigão, que também esteve presente na conquista de Atenas.
A atitude revelou outra característica que trilhou o caminho de Bernardinho nos 16 anos à frente da equipe masculina do Brasil.
"Ele não era refém de nenhum atleta", definiu o ex-levantador Maurício, que vê a mudança como o "fim de uma era vitoriosa" na seleção.
No Mundial de 2010, nova polêmica. Já classificado para a terceira fase do torneio e sabendo que uma derrota para a Bulgária deixaria o Brasil em uma chave teoricamente mais fácil na próxima etapa, o técnico poupou jogadores e "entregou" a partida.
A torcida na Itália, local em que era disputado o torneio, não perdoou e vaiou a seleção durante todo o jogo.
"Estou me sentindo horrível", disse à época. "A torcida tem todo o direito [de vaiar], mas tem que ver tudo o que está acontecendo", completou, criticando o regulamento da competição.