Folha de S. Paulo


Após Olimpíada, Nuzman vive anticlímax e pressão com dívidas

O carioca Carlos Arthur Nuzman, 74, esperava que 2016 lhe servisse como um ano de absoluta consagração.

Com a iminente realização dos Jogos Olímpicos do Rio, sob sua tutela, em agosto praticamente não lhe restariam mais missões relevantes a cumprir após o evento.

Desde 1975, quando assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Vôlei, adquiriu prestígio e poder até a ascensão, 20 anos depois, ao cargo de mandatário do Comitê Olímpico do Brasil.

Uma vez à frente do COB, pôde engendrar um projeto pessoal: tornou-se membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) em 2000 –em 2012, virou honorário devido à idade limite de 70 anos–, organizou os Jogos Sul-Americanos de 2002, o Pan do Rio-2007 e os Jogos Olímpicos.

A Rio-2016 seria a cereja do bolo, mas os quatro meses que se sucederam ao megaevento foram um anticlímax.

Segundo o COI, a Rio-2016 foi "a Olimpíada mais consumida na história", vista por mais da metade da população mundial e com uma cobertura televisiva e digital que dobrou os números da edição de Londres-2012.

Entretanto, até mesmo antes de seu fim, o Comitê Rio-2016, chefiado por Nuzman, teve dificuldades para viabilizá-la. A entidade ainda tem dívidas superiores a R$ 20 milhões com fornecedores contratados e sofreu para pagar contas de luz do Maracanã.

Contratos têm sido renegociados, mas diversas empresas têm acionado a Justiça para receber –houve ao menos dois bloqueios de valor decorrentes de processos.

Outro problema foi com o reembolso de ingressos a consumidores. O número de credores, que chegou a 140 mil, atualmente é inferior a 8.000. O comitê, que teve orçamento acima de R$ 8 bilhões para o evento, assegura que vai reembolsar os torcedores.

Um site especificamente criado para atender os credores (rio2016.com/reembolso), no entanto, estava fora do ar –era redirecionado para uma página da Rio-2016 ligada ao site oficial do COI.

Com o fim dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, o Rio-2016 dispensou milhares de funcionários e teve que mudar a sede da Cidade Nova para um prédio comercial na Rua da Assembleia, no Centro. A um dado momento, faltava servidores para lidar com os questionamentos dos consumidores, insatisfeitos com a demora para o reembolso.

O Rio-2016 contava com um repasse do COI da ordem de US$ 30 milhões, no começo de dezembro, para aliviar as contas e quitar dívidas –ainda não há previsão para que o custo total dos Jogos; a entidade tem de ser encerrada até dezembro de 2023.

COB

Em meio à corrida para sanar as contas do comitê, Nuzman concorreu ao sexto mandato para presidir o COB –está no comando desde 1995.

Na eleição no início de outubro, ganhou e ficará no cargo até 2020, mas viu sua maior oposição dentro da entidade. De 34 votos possíveis, recebeu 24: houve cinco sufrágios contrários e outras cinco ausências. Em 2012, ele só havia tido um contrário.

Na visão de presidentes de confederações esportivas ouvidos pela Folha, a impressão é a de que Nuzman relegou o COB por ter adquirido um status "grande demais".

Um presidente de confederação que pediu para não ser identificado disse que o cartola máximo do COB diminuiu sua atenção à entidade no último ano.

Outro mandatário afirmou haver um incômodo dentro do comitê devido ao que dirigentes avaliam como "ausência" de Nuzman. Reuniões de trabalho na entidade, que tinham frequência mensal, só foram realizadas em abril e em dezembro de 2016.

Segundo os cartolas, o motivo para pensar que Nuzman seguirá distante do COB advém do fato de que ele vai concorrer à presidência da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), cujo pleito ocorrerá em abril.

O favoritismo inicial do carioca pode cair por terra com o crescente interesse do atual interino da entidade, Julio Maglione, de se candidatar.

Maglione, uruguaio, também é membro honorário do COI e, além da Odepa, acumula o cargo de presidente da Fina (Federação Internacional de Natação).


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