Folha de S. Paulo


Nobre mudou rotinas no Palmeiras, ganhou títulos e fama de vaidoso

Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube.

No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso.

Confira abaixo algumas histórias de bastidores e curiosidades que marcaram a passagem de Paulo Nobre pela presidência do clube.

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Carlinhos Muller
Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube. No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso. Carlinhos Muller

A taça é nossa

Tanto na conquista da Copa do Brasil, em 2015, como na comemoração do título do Campeonato Brasileiro deste ano, após vitória sobre a Chapecoense, o presidente do Palmeiras rompeu o protocolo na hora de levantar a taça.

No ano passado, ele dividiu o momento apoteótico com Zé Roberto, capitão do time treinado por Marcelo Oliveira. Desta vez, repartiu as atenções com o meia Dudu, de apenas 1,67 m.

Não é comum a participação de dirigentes nessas ocasiões, o que desagradou alguns membros da comissão técnica e também jogadores.

À Folha, um funcionário do clube relatou que o ato desagradou os jogadores. Eles se queixaram do que viram como uma intromissão num momento que tradicionalmente é dos atletas. As reclamações chegaram aos ouvidos do cartola, que retrucou.

Em entrevista à TV Gazeta, Nobre disse ter sido convidado para levantar a taça.

"Nunca pedi nada. Quando o Zé [Roberto] me chamou em 2015, eu não iria recusar. Assim foi com o Dudu neste ano. Eles falaram: 'Presidente, vem com a gente'. E quem não gostou que vá reclamar com o papa no Vaticano".

Carlinhos Muller
Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube. No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso. Carlinhos Muller

O olho do dono engorda o boi

Historicamente, os presidentes do Palmeiras ficam instalados na sede social do clube, ao lado do Allianz Parque. Paulo Nobre decidiu adotar postura diversa em sua gestão e montou sua sala no centro de treinamento do clube, na Barra Funda.

No CT, o cartola conseguia ficar isolado dos conselheiros palmeirenses, tidos como "corneteiros", e de quebra podia acompanhar a rotina dos treinadores e jogadores da equipe profissional.

O presidente descia com frequência de sua sala para entrar no gramado e assistir aos treinos do dia. Frequentemente era acompanhado por Maurício Galiotte, então vice e atual presidente, Genaro Marino Neto, segundo vice, e Alexandre Mattos, diretor de futebol do Palmeiras.

O novo presidente já decidiu que sua sala ficará na sede social, como acontecia antes de Nobre. A decisão também é movida por pressão de conselheiros: diplomático, Galiotte se elegeu com o apoio de diferentes chapas e deseja agradar a todos.

Carlinhos Muller
Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube. No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso. Carlinhos Muller

Carona

Nobre é dono de dois jatos para particulares. Ele pediu para que fossem customizados com as cores e símbolos do Palmeiras. Um deles é o Palmeirinha Fly, avaliado em R$ 4 milhões, cujo nome busca inspiração no time de futebol que ele criou em sua infância, o Palmeirinha, e que então assumiu como apelido durante seus tempos de piloto de carros de rali. Nessa época, ele andava com os cabelos e o cavanhaque tingidos de verde.

Outro deles, o Air Pork One, avaliado em R$ 20 milhões, tornou-se coadjuvante relevante na campanha do Brasileiro. Quando o zagueiro Mina ou o atacante Gabriel Jesus foram convocados para as seleções colombiana ou brasileira, respectivamente, o dirigente disponibilizou seu jato para buscar os jogadores nos lugares em que estavam e voltarem ao Brasil o mais rapidamente possível para iniciarem a recuperação para a partida seguinte do time, sem custos para o clube.

Em 16 de novembro, Jesus enfrentou o Peru em Lima pela seleção brasileira, fez um gol e saiu do vestiário para o Air Pork One. No trajeto até Belo Horizonte, onde o time enfrentaria o Atlético-MG no dia seguinte pelo Brasileiro, ele foi acompanhado de equipe de fisioterapia que fez trabalho de regeneração.

O investimento do cartola deu retorno: o atacante marcou o único gol do Palmeiras no empate com o time de Minas Gerais.

Carlinhos Muller
Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube. No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso. Carlinhos Muller

Foca em mim

O corredor que leva do vestiário ao gramado do Allianz Parque tem paredes decoradas com fotos de grandes ídolos da história alviverde, como Ademir da Guia, César Sampaio, Evair, entre outros.

Nas palestras motivacionais, Cuca costumava dizer que os jogadores deixariam seus nomes na história do Palmeiras e as fotos deles estariam espalhadas para as gerações posteriores, apontando para imagens no vestiário.

Com o tempo, jogadores e membros da comissão notaram um "intruso" na galeria de heróis: um cabeludo com uma faixa na cabeça, comemorando um título. Tratava-se de um jovem Nobre celebrando uma das conquistas do clube no início da década de 1990. É o único dirigente contemplado no local.

A imagem do agora ex-presidente palmeirense também está presente nas paredes na famosa foto da careta à Ricardo Oliveira após a final da Copa do Brasil de 2015.

Tendo se sentido provocados por comemoração do santista, os palmeirenses posaram para fotos imitando-o. Nobre se juntou ao grupo e aparece na careta coletiva.

A onipresença do cartola irritou jogadores e conselheiros do clube. A crítica de ambos é que havia uma necessidade do dirigente de aparecer publicamente de maneiras nem sempre adequadas.

Por fim, segundo reportagem da revista "Veja", Nobre chegou a cogitar dirigir o time do banco de reservas na última rodada do Campeonato Brasileiro, contra o Vitória, em Salvador. Acabou sendo dissuadido da ideia de aparecer na rodada final sentado ao lado dos jogadores.

Carlinhos Muller
Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube. No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso. Carlinhos Muller

Salário em dia

Assim que assumiu o comando do Palmeiras, Nobre se espantou com a naturalidade com que eram tratados os atrasos no pagamento dos salários dos jogadores. Para ele, essa era uma das facetas mais abomináveis da situação financeira das gestões anteriores, de Belluzzo e Arnaldo Tirone.

O dirigente, então, assumiu como prioridade quitar os valores atrasados. Prometeu que isso não voltaria a acontecer enquanto estivesse à frente do Palmeiras.

Nos primeiros dois meses de sua gestão, em 2013, o clube ainda deveu para atletas. Depois, nunca mais isso aconteceu na era Nobre.

Entre 2013 e 2014, o cartola enxugou a folha salarial da equipe. Promovendo, por exemplo, a troca de um jogador mais caro, como Barcos, por quatro atletas do Grêmio. Em 2014, as negociações com Alan Kardec pararam na definição do salário do jogador, que se incomodou com o prolongamento da situação -Kardec declarou à época que a diretoria queria reduzir em R$ 5 mil a sua pedida- e acabou indo para o São Paulo.

Ao fim do primeiro ano de seu mandato, no entanto, uma convicção sua teve que ser infringida para que os salários fossem pagos em dia : Nobre havia prometido que não colocaria dinheiro do próprio bolso no clube. Diante das dificuldades financeiras, seus empréstimos chegaram a R$ 200 milhões.

Carlinhos Muller
Nesta quinta-feira (15), Maurício Galiotte assumiu oficialmente o cargo de presidente do Palmeiras, encerrando a gestão de Paulo Nobre no clube. No período em que foi presidente do clube, Nobre ganhou títulos (Copa do Brasil, em 2015, e Brasileiro, em 2016), mudou rotinas, brigou com parceiros e ganhou fama de vaidoso. Carlinhos Muller

Brigas com patrocinadores

Todos os parceiros que se aproximaram do Palmeiras ao longo do período são unânimes em dizer que Paulo Nobre é uma pessoa de difícil trato. O diagnóstico passa por membros da construtora WTorre, da patrocinadora Crefisa e, inclusive, da emissora Esporte Interativo, que na terça-feira (12) oficializou acordo pelos direitos de transmissão em TV fechada.

Com a construtora, os desentendimentos giraram em torno da exploração comercial das cadeiras do Allianz Parque e as condições do gramado depois de shows. A empresa entendia que tinha o direito de comercializar todas as cadeiras do estádio, ao passo que o clube interpretava que a WTorre só tinha direito a 10 mil delas. O clube venceu em arbitragem.

Após diversos problemas com o gramado depois de eventos no Allianz Parque, Nobre decidiu vistoriar o local. Segundo ele conta, teve a entrada barrada por mais de meia hora.

Com a Crefisa, ele e Leila Pereira, proprietária da empresa, pararam de se falar depois de desentendimentos sobre a exibição da marca nas camisas. A relação só foi retomada depois de atuação intensa de Galiotte, o "diplomata" da gestão Nobre.

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