Folha de S. Paulo


LaMia já havia descumprido regra de combustível em voo com Messi

No início de novembro, o voo da empresa boliviana LaMia que transportava a seleção da Argentina, com o astro Lionel Messi, chegou a Buenos Aires com tanque de combustível quase vazio.

Segundo o sistema de monitoramento de voos FlightRadar 24h, o trajeto realizado no dia 11 de novembro, na noite após o clássico com o Brasil, válido pelas Eliminatórias da Copa de 2018, durou 4 horas e 4 minutos.
Esse tempo é apenas 18 minutos a menos do que o indicado pela própria LaMia como a capacidade de voo do avião Avro RJ85.

A aeronave é a mesma que transportava o time da Chapecoense, além de jornalistas, que caiu na última terça-feira (29) na Colômbia antes de chegar em Medellín.

A hipótese mais provável para o acidente é a de que a avião não era preparado para trechos tão longos e caiu por falta de combustível.

SEM MARGEM

De acordo com regras aeronáuticas argentinas, o avião que levava a seleção deveria ter combustível suficiente para voar de Belo Horizonte até Buenos Aires, alterar o local de pouso para um aeroporto secundário e ainda ter sobra de 45 minutos.

Entre Belo Horizonte e Buenos Aires, o voo durou 4 horas e 4 minutos. Se a esse tempo fosse acrescentado os 45 minutos de combustível reserva, a viagem ultrapassaria as 4 horas e 22 minutos de autonomia que o avião tem com tanque cheio.

Com essas condições, tanto pelas regras brasileiras quanto argentinas, a viagem estaria fora das normas.

Até o momento, o plano de voo da LaMia entre o Brasil e a Argentina não foi divulgado por nenhum dos países.

Procuradas, as autoridades aeronáuticas não deram detalhes sobre as informações passadas pela LaMia.

Em ao menos duas ocasiões, a empresa boliviana havia voado além de sua autonomia declarada.

Uma entre Cochabamba, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia (em viagem de 4 horas e 27 minutos), e a segunda entre Medellín e Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia (em 4 horas e 32 minutos).

O voo da Chapecoense durou 4 horas e 42 minutos. Segundo especialistas, questões como vento e peso podem alterar o consumo de combustível da aeronave.

A Associação do Futebol Argentino (AFA) teria contratado o fretamento do voo sem saber qual era a empresa e a aeronave que prestaria o serviço.

De acordo com Miguel Hirsch, porta-voz da federação, a associação precisou escolher no mercado o voo fretado que levaria a seleção ao Brasil, porque o avião da companhia argentina Andes, que eles normalmente usam, estava em manutenção.

A agência de notícias Associated Press teve acesso aos orçamentos levados em consideração pela AFA para o transporte aéreo.

O negócio foi fechado por US$ 99 mil. Das seis cotações avaliadas a AFA teria optado pela mais barata.

"Isso passou a ser avaliado desde que a AFA começou a ter problemas financeiros", disse Hirsch à agência.

No entanto, à Folha, a assessoria de imprensa da AFA nega essa versão.

"O procedimento foi igual ao de sempre. Pedimos os orçamentos das viagens a uma agência que sempre trabalha com a AFA, e essa empresa [LaMia] foi analisada como as outras. Mas o fator econômico não foi o principal, até porque, de fato, essa empresa não era a mais barata. Havia outras empresas com cotações mais baratas. Mas vimos que a empresa já trabalha na América do Sul, que transportava outras seleções, e confiamos que era uma empresa séria como as que haviam mandado orçamentosº, diz Francisco Nabais, chefe de comunicação da AFA.

"Também consideramos muitas vezes a disponibilidade de horários das empresas de fretamento. Às vezes não coincidem os horários que a seleção precisa viajar com os horários que as empresas disponibilizam. Não se trata, então, somente de um fator econômico na hora de escolher, mas também de disponibilidade e de condições gerais dos voos", completa.

Tragédia em voo da Chapecoense


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