Folha de S. Paulo


Caixa-preta deve desvendar lacunas da queda de avião da Chapecoense

Aeronáutica Civil/Xinhua
(161129) -- ANTIOQUIA, noviembre 29, 2016 (Xinhua) -- Vista de las dos cajas negras del avión accidentado que transportaba al equipo de fútbol brasileño Chapecoense, en el municipio de La Unión, cerca de Medellín, en el departamento de Antioquia, Colombia, el 29 de noviembre de 2016. El accidente del avión en el que murieron al menos 75 personas y que trasladaba al equipo brasileño Chapecoense, implica
As caixas-pretas do avião da LaMia que caiu com o time da Chapecoense

Uma sala com isolamento acústico e profissionais técnicos com pulseiras capazes de equilibrar a tensão elétrica entre o corpo e os equipamentos com que trabalham.

Será em um laboratório assim, em Farnborough, a aproximadamente 70 km de Londres, que a partir desta semana deverão ser decodificadas as duas caixas-pretas retiradas dos destroços do voo da LaMia que transportava a equipe da Chapecoense e caiu na última terça (29), antes de chegar ao aeroporto de Medellín, matando 71 pessoas.

Embora existam fortes indícios de que a aeronave não cumpriu as regras sobre a quantidade adequada de combustível e de que tenha sofrido uma pane seca, as informações obtidas a partir das caixas poderão explicar lacunas ainda não preenchidas sobre a tragédia.

O plano de voo apresentado antes da decolagem apontava que a aeronave tinha quantidade de combustível no limite para se deslocar entre a Bolívia e a Colômbia, sem nenhuma margem para riscos, como prevê a regra.

Editoria de arte/Folhapress
Onde fica a caixa-preta
Onde fica a caixa-preta

No caso da caixa que grava o áudio da cabine do avião, será possível, por exemplo, ouvir o que o piloto, Miguel Quiroga, disse à sua tripulação e aos passageiros durante o voo -revelando até que ponto ele poderia ter ciência dos riscos.

A caixa que grava os dados de desempenho do avião ao longo do voo poderá mostrar se os indicadores no painel dos pilotos sofreram alguma avaria, o que impediria de avaliar o consumo de combustível, por exemplo. Ou ainda se houve algum problema que resultou em maior gasto de combustível.

O trabalho é apenas uma parte das investigações feitas pelas autoridades colombianas sobre o acidente, que devem demorar mais de seis meses para serem concluídas.

O especialista em aviação Lito de Sousa aponta que o foco da investigação é sempre entender que fatores, humanos ou mecânicos, podem ser aprimorados.

"Não basta saber se foi pane seca. Deve-se saber por que a pane seca ocorreu. E quando se chegar a essa resposta, outras perguntas serão feitas", explica. "Dizer que um avião caiu por pane seca não acrescenta em nada à segurança da aviação."

EXTRAÇÃO DOS DADOS

A cidade de Farnborough foi escolhida por ser sede dos laboratórios da Comissão Britânica de Investigação de Acidentes Aéreos (AAIB).

Como o avião da LaMia que caiu, um Avro RJ 85, foi fabricado no Reino Unido, técnicos locais teriam maior familiaridade com características específicas do avião.

A comissão britânica, por exemplo, participou da decodificação das caixas-pretas do voo MH17, abatido em 2014 por um míssil na Ucrânia.

Feita para suportar grandes impactos, o fogo e a água, as caixas-pretas foram recuperadas aparentemente sem danos. Ainda assim, técnicos terão de desmontar os aparelhos com cuidado para preservar a placa central, que contém a memória dos dados.

Caso a placa esteja danificada, a depender da intensidade, é possível recuperá-la.

O fato de o acidente da LaMia ter ocorrido em baixa velocidade, e com o avião com pouca altitude, deve facilitar o trabalho dos técnicos.

No caso da extração do áudio, deverão ser seguidas regras internacionais de sigilo.

Para fazer a transcrição dos áudios, por exemplo, só podem estar presentes os investigadores. Por isso, as salas do AAIB são isoladas acusticamente, impedindo que alguém não autorizado tenha contato com o que foi gravado nos minutos finais do voo.

Ruídos produzidos pelo próprio avião também poderão indicar anormalidades.

A análise das caixas de dados tem várias etapas. A primeira é a captação dos dados gravados em código binário.

As informações são levadas a outro computador, que converte o código em milhares de parâmetros sobre o avião, como aceleração, nível de combustível, ângulo em relação ao solo e altitude.

Os investigadores, então, devem buscar nessas informações quais são relevantes para explicar o acidente.

Um erro ao longo das diversas etapas do processo pode danificar permanentemente os dados registrados e, assim, perde-se o conteúdo.

ARQUIVOS VAZIOS

Corre-se ainda o risco de, depois de muito trabalho, os especialistas perceberem que as caixas-pretas não estavam ativas durante o voo.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o equipamento do avião que levava o candidato à presidência Eduardo Campos, em 2014. Na queda, em Santos, o político e mais seis pessoas morreram.

A caixa responsável por armazenar a conversa da cabine não funcionou como deveria, e a Força Aérea Brasileira não conseguiu recuperar os arquivos de áudio.

Segundo especialistas, no caso do avião da LaMia, a pane elétrica total declarada pelo piloto pode ter feito com que os últimos segundos do voo não fossem registrados.


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