Folha de S. Paulo


Colômbia inicia repatriação de corpos da tragédia com voo da Chapecoense

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Os corpos das 70 vítimas do acidente aéreo na Colômbia, entre jogadores da Chapecoense, membros da delegação e jornalistas, iniciarão nesta sexta-feira (2) a viagem de volta para casa. O corpo de um cidadão paraguaio, Gustavo Encina, tripulante da aeronave, foi o primeiro a deixar a Colômbia, nesta quinta (1°), em um voo comercial da Avianca.

Às 8h, horário local, (11h, de Brasília) deve decolar do aeroporto José María Córdova de Rionegro, que serve a região de Medellín, um voo comercial da Avianca com o corpo de um cidadão venezuelano, que faleceu na queda da aeronave da empresa LaMia, proveniente da Bolívia, na última terça (29), em uma zona remota a 50 quilômetros da segunda maior cidade da Colômbia.

Uma hora depois, um Hércules da Força Aérea Boliviana vai decolar da base militar de Rionegro com os corpos de cinco cidadãos do país.

Às 16h (19h, de Brasília) terá início o traslado, em três voos diferentes, de 50 brasileiros mortos. No mesmo horário devem decolar, em voos privados, para o Brasil os corpos de 14 jornalistas que viajavam no avião da Chapecoense para cobrir a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional.

"O que mais queremos agora é voltar para casa, levar para nossa casa os nossos amigos e irmãos, porque a espera é a pior coisa que existe", disse Roberto Di Marche, primo do dirigente Nilson Folle Júnior, que faleceu na tragédia que comoveu o planeta.

VELÓRIO

Os cadáveres dos 71 mortos foram preparados para a repatriação por quatro funerárias de Medellín durante quase dois dias. A cidade de Chapecó, em Santa Catarina, se prepara para um grande velório em seu estádio, a Arena Condá, previsto para este sábado (3).

O local tem capacidade para 19 mil espectadores. O clube vai instalar telões nas proximidades do estádio porque as autoridades calculam a presença de quase 100 mil pessoas no funeral.

Os corpos serão levados de Medellín para Rionegro, onde estão internados em diferentes clínicas os seis sobreviventes da tragédia, em 35 carros fúnebres. "Fizemos um grande esforço para que em breve estejam com suas famílias", afirmou Juan Tavera, gerente de uma das funerárias responsáveis por preparar os corpos.

Uma missa organizada pela Funerária San Vicente, a principal de Medellín, foi celebrada nesta quinta (1°) em homenagem aos mortos. Parentes das vítimas compareceram à cerimônia. As autoridades colombianas, em coordenação com especialistas estrangeiros, prosseguem com a investigação, que aponta para a falta de combustível da aeronave. Mas as conclusões finais podem demorar até seis meses.

PLANO DE VOO

Nesta quinta (1°), o governo boliviano suspendeu a licença da companhia LaMia e destituiu altos funcionários do setor de controle aéreo do país. O representante da empresa, Gustavo Vargas, afirmou que a aeronave não cumpriu o plano de reabastecimento em Cobija, cidade boliviana na fronteira com o Brasil, ou em Bogotá.

O avião da Chapecoense não poderia ter decolado da Bolívia em direção à Colômbia, segundo as regras aeronáuticas. O plano de voo era falho e considerado "absurdo" por especialistas em aviação. E a liberação para a partida da aeronave abriu uma crise na Bolívia, que decidiu afastar os executivos dos dois principais órgãos aéreos do país.

O documento do plano de voo do avião da empresa LaMia foi revelado pelo jornal boliviano "El Deber". O piloto assinou um planejamento da viagem sem nenhuma margem extra de combustível para situações de imprevistos, como ocorreu na aproximação da cidade de Medellín.

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O plano apontava que a aeronave tinha capacidade de voar por 4 horas e 22 minutos –tempo exato do deslocamento previsto entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín. E ele não considerava escalas para abastecimento no meio do trajeto.

A principal hipótese para a tragédia é que a aeronave tenha ficado sem combustível após ser orientada a voar em círculos devido ao tráfego aéreo em Medellín.

A decolagem de uma aeronave nessas condições foi considerada esdrúxula por pilotos ouvidos pela Folha –mais do que simples erro, uma irresponsabilidade. "Ele não teve nem trabalho de mentir no plano de voo", disse um oficial de alta patente da Aeronáutica brasileira.

O acidente cortou as aspirações da modesta Chapecoense, clube fundado há 43 anos e que teve uma ascensão meteórica desde 2009, subindo da série D do futebol brasileiro até a série A em poucos anos, antes de alcançar a final da Copa Sul-Americana, o segundo torneio continental mais importante.

Acidente em voo da Chapecoense


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