Folha de S. Paulo


'Sem combustível', diz piloto do voo da Chapecoense, segundo rádio

Matt Varley/Reuters
An Avro RJ85 operated by Lamia which crashed on approach to Medellin while carrying 81 passengers and crew including Brazilian football team Chapecoense is seen in a file picture taken in Norwich, Britain on September 25, 2015. Only 5 people are known to have survived the crash. REUTERS/Matt Varley NO ARCHIVES. NO SALES. FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. ORG XMIT: LON108
Modelo do avião Avro RJ85, que se acidentou com a delegação da Chapecoense na terça (29)

Uma gravação divulgada na tarde desta quarta (30), pela rádio colombiana "Bluradio", indica supostamente o que aconteceu nos últimos instantes do voo que levava o time da Chapecoense para Medellín, na Colômbia.

Nela, o piloto e um dos sócios da LaMia, empresa boliviana que fazia o transporte dos jogadores, declara que está com falha elétrica e sem combustível.

"Pane elétrica total, sem combustível", disse o piloto ao controle aéreo de Medellín. Segundos depois, a controladora chama pela aeronave (Avro RJ85) perguntando sua localização exata, mas já não obtém respostas.

Ouça

Na mesma gravação (veja a transcrição do diálogo abaixo), é possível ouvir uma controladora de voo gerenciando a aterrissagem de outras aeronaves no mesmo aeroporto.

A Folha encaminhou uma cópia do áudio a um representante do Sindicato Nacional dos Aeronautas, que representa pilotos brasileiros, e a um especialista em segurança de voo. Ambos disseram que o áudio parece ser verdadeiro e que reforçam a tese de queda por pane seca.

"A pane seca pode ter ocorrido por diversos problemas que deverão ser investigados: erro de cálculo, vazamento de combustível, erro de gerenciamento do consumo de combustível ao longo do voo, manutenção da alimentação de combustível no motor", diz Mateus Ghisleni, piloto e diretor de segurança do sindicato dos aeronautas.

SEM ESCALAS

A tese de falta de combustível já vinha sendo discutida no meio da aviação desde as primeiras informações do acidente. A agência de notícias AFP informou que o plano de voo do avião da Chapecoense deveria fazer uma escala em Bogotá, meio do caminho entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia.

"O avião deveria ter reabastecido em Bogotá", mas seguiu até Medellín, afirmou ao jornal boliviano "Página Siete" Gustavo Vargas, representante da LaMia.

"O piloto é quem toma a decisão de não pousar, porque pensou que tinha combustível suficiente", insistiu Vargas.

De acordo com o funcionário, "no plano de voo havia a opção da aeronave parar em Cobija (fronteira boliviana com o Brasil), mas logo se falou da opção de Bogotá para reabastecer".

O acidente com o Avro RJ85 deixou 71 pessoas mortas, incluindo 19 jogadores do Chapecoense e 20 jornalistas.

COMUNICAÇÃO ENTRE PILOTO E TORRE DE COMANDO DO AEROPORTO DE MEDELLÍN

Piloto LaMia: Em aproximação e solicitando prioridade para a aproximação. Estamos com um problema de combustível.

Torre de controle: Solicita a prioridade para aterrissagem com problemas de combustível. Então lhe darei vetores [direcionamento] para localizador, para iniciar aproximação em aproximadamente sete minutos.

Piloto Avianca: É possível continuar nosso distanciamento cinco milhas mais, até as 15 mil.

Torre de controle: Não capitão, necessito que inicie a aproximação já. A aeronave adiante de você está a uma milha.

[Controladora de voo do aeroporto de Medellín organiza a aproximação e aterrissagem de duas aeronaves de duas aeronaves. Uma delas é a em que estava a delegação da Chapecoense, identificado como piloto da companhia LaMia. O outro voo é da companhia Avianca, da Colômbia.]

Piloto LaMia: Tenho uma emergência de combustível, por isso peço curso final.

Piloto Avianca: Iniciando aproximação agora

Piloto LaMia: Solicito decisão imediata

Torre de controle: Avianca Colômbia cancele a autorização de aproximação, vire para a sua esquerda com rumo 0-1-0 agora [código que identifica ângulo para direcionar aeronave].

Torre de controle: LaMia, pode agora efetuar a virada para a direita para iniciar a descida, tenha os trânsitos a uma milha para abaixo de vocês.

[Controladora de voo orienta que voo da Chapecoense tenha prioridade para pousar]

Piloto LaMia: Senhorita, LaMia 933 está em falha total, falha elétrica total, sem combustível.

Torre de controle: Pista livre e espere chuva sobre a superfície LaMia 933, bombeiros alertados.

Piloto LaMia: Vetores senhorita, vetores na pista

Torre de controle: O sinal do radar se perdeu, não tenho, notifique rumo agora.

Piloto LaMia: Estamos com rumo 3-6-0, com rumo 3-6-0

Torre de controle: Vire pela esquerda 0-1-0 proceder ao localizador de bordo Rionegro uma milha a frente del Bora [ponto de referência em relação à pista de Medellín]

Piloto LaMia: A esquerda 3-5-0, senhorita

Torre de controle: Sim, correto. Você está a uma milha do bordo Rionegro [ponto de referência]

Torre de controle: Não tenho a altitude LaMia 933

Piloto LaMia: 9 mil pés, senhorita

Piloto LaMia: vetores, vetores

[Piloto pede uma rota direta até o aeroporto, sem que tenha que passar pelo ponto de referência indicado pela controladora.]

Torre de controle: Vocês estão a 8,2 milhas da pista

Torre de controle: Que altitude tem agora?

Piloto LaMia: Jesus

Torre de controle: LaMia 933 posição?

[A partir deste momento, a torre de Medellín perde o contato com o voo da Chapecoense]

Tragédia com voo do Chapecoense


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