Folha de S. Paulo


Avião da Chapecoense voava abaixo da velocidade normal antes da queda

A aeronave Avro RJ85, da LaMia, que caiu na Colômbia deixando ao menos 71 mortos e que transportava o time da Chapecoense, estava em baixa velocidade pouco antes da queda.

Segundo o sistema de acompanhamento de aeronaves FlightRadar, no momento em que a aeronave deixou de emitir sinais, ela voava com velocidade de 142 nós (263 km/h).

Tragédia da Chapecoense
Voo que levava delegação de time brasileiro mata 71 pessoas em acidente na Colômbia
Destroços de acidente na Colômbia

Segundo o consultor em aviação Lito Sousa, uma velocidade tão baixa só é compatível com uma grande aproximação da pista de pouso, o que não era o caso. O avião estava a cerca de 30 km do aeroporto Internacional José Maria Córdova, em Rio Negro, ao lado da cidade de Medellín.

Segundo informações do sistema, antes da queda, a aeronave fez duas voltas no sentido anti-horário, o que pode indicar que o avião estava aguardando autorização para pousar. Um vídeo (Confira abaixo) feito da tela do FlightRadar indica o momento em que a aeronave desaparece do radar.

A aeronave Avro RJ85 partiu de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, às 22h18 (horário de Brasília), com destino a Medellín. O voo chegou a passar pelo espaço aéreo brasileiro, na região do Amazonas.

À 0h37, depois de passar por grande parte da Colômbia, a aeronave faz uma curva para a direita, encaminhando-se para o aeroporto de Medellín. À 0h42, a aeronave começa a voar em círculos, no sentido antihorário. O trajeto do avião não aponta para anormalidades. A manobra costuma ser feita quando uma aeronave aguarda a autorização para o pouso.

Editoria de arte/Folhapress
Trajeto do avião - Chapecoense
Trajeto do avião - Chapecoense

Durante a manobra, a velocidade da aeronave é constantemente reduzida, mas ainda não há indícios de problemas. Após realizar a segunda volta, a aeronave reduz ainda mais a sua velocidade: de 409 km/h para 263 km/h. À 0h55, a aeronave emite seu último sinal antes da queda.

Editoria de Arte/Folhapress

O time disputaria nesta quarta (30) a primeira partida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional.

COMBUSTÍVEL

Ao longo da tarde desta terça-feira (29), a tese que ganhou mais força no meio aeronáutico é a de que o Avro RJ85, de fabricação britânica, possa ter tido problema de combustível. A suposição se baseava no fato de esse tipo de aeronave sai de fábrica com tanques de combustível capazes de cumprir apenas médias distâncias.

A rota entre a cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia, num total de 2.900 km, estava, dessa forma, perto da capacidade de voo do Avro.

Ainda assim, no último mês a mesma aeronave realizou dois voos semelhantes entre a Bolívia e a Colômbia. A mais longa destas viagens durou quatro horas e 32 minutos. Já o voo que vitimou o time da Chapecoense durou quatro horas e 42 minutos.

Para analisar o gasto de combustível de uma aeronave em pleno voo, devem ser levado em conta ainda outros fatores como condição do vento e o peso de carga.

"É uma possibilidade que está sendo muito aventada. Se esses parâmetros forem realmente próximos [autonomia da aeronave e distância entre as cidades], um voo desses não poderia ser feito sem uma escala para reabastecimento", diz Rodrigo Spader, piloto e presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

Para o especialista em aviação Lito Sousa, a falta de combustível pode ser uma das causas contribuintes para o acidente a serem investigadas. Para ele, no entanto, dificilmente um piloto apresentaria um plano de voo que previsse uma margem de segurança tão pequena.

Para um oficial da Força Aérea Brasileira, acostumado a investigações de acidentes no país, a falta de combustível parece crível diante das informações disponíveis até agora. "É possível ter ocorrido uma falha na alimentação do motor, ou um entupimento, ou o uso de um combustível de baixa qualidade. Dificilmente uma pane elétrica ou de motor teria causado o acidente", afirmou ele, que não quis se identificar.

A AERONAVE

A aeronave Avro RJ85, de fabricação inglesa, da LaMia Bolívia, estava em seu segundo voo do dia. Na primeira viagem, fez o trecho curto, de cerca de 40 minutos, entre Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra, ambas na Bolívia.

O segundo trecho, partindo de Santa Cruz, teria como destino a cidade de Medellín, na Colômbia, numa distância de cerca de 3.000 km. A mesma aeronave já havia sido utilizada para voos fretados do Chapecoense e carregava uma pintura especial com o símbolo do clube brasileiro.

Segundo a Aviation Safety Net, a aeronave tinha 17 anos e 8 meses, e há três anos ela era utilizada pela companhia aérea boliviana. Antes de atuar na Bolívia, a aeronave teve passagens pelo mercado americano e francês, chegando a ser operado pela Air France.

"Esse avião, desde que tenha boas condições de manutenção, é seguro", afirma Marcus Reis, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Estácio.

O modelo Avro RJ85 já foi utilizado no Brasil pela regional TABA Amazônica, sob o nome de BAE-146.

Acidente em voo da Chapecoense


Endereço da página:

Links no texto: