Folha de S. Paulo


Ricardo Teixeira usou avião da CBF para fazer escala em paraíso fiscal

Tasso Marcelo - 16.ago.2016/AFP
Ricardo Teixeira deixou a presidência da CBF em 2012
Ricardo Teixeira deixou a presidência da CBF em 2012

Quase dois anos depois de renunciar à presidência da CBF, Ricardo Teixeira usou o avião privado da entidade para voltar dos Estados Unidos para o Rio. No caminho, a aeronave fez uma escala em um paraíso fiscal no Caribe.

As informações foram repassadas pelo FBI à Polícia Federal do Brasil neste mês. De acordo com o documento, Teixeira saiu do aeroporto de Opa Locka, na Flórida, no dia 10 de fevereiro de 2014, junto com a filha mais nova. Eles pararam em Barbados, paraíso fiscal, e, depois, seguiram para o Rio.

O FBI não precisou quanto tempo Teixeira ficou lá. Em dezembro de 2015, ele foi denunciado pelo FBI acusado de participar de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de torneios no Brasil e no exterior.

O ex-presidente da CBF renunciou ao poder em março de 2012 após mais de duas décadas no cargo. Mesmo assim, continuou influente e poderoso na confederação. O dirigente chegou a receber um aumento de José Maria Marin, seu sucessor, após deixar o cargo.

Marin está preso no exterior desde maio do ano passado acusado de cometer os mesmos crimes de Teixeira. Agentes do FBI e da Polícia Federal apuram os motivos para a CBF liberar o seu jato para o cartola fazer uma longa viagem internacional. Segundo cálculos de empresas do mercado, o fretamento de uma aeronave de Miami para o Rio custa pelo menos R$ 150 mil.

O Cessna 680 chegou a Orlando, na Flórida, no dia 31 de janeiro de 2014. Na viagem de ida, antes de seguir para os EUA, fez escala em Boa Vista, Roraima. Os agentes não entendem qual o motivo da aeronave não ter parado na mesma cidade no retorno.

O avião é um dos mais modernos do mundo. Seu valor no mercado é de aproximadamente US$ 9 milhões (cerca de R$ 30 milhões). As informações sobre a viagem serão anexadas ao relatório paralelo que o senador Romário (PSB-RJ) vai apresentar na CPI do Futebol.

Antes de ser denunciado pelo FBI, Teixeira morava em Miami. Em 2012, comprou por US$ 7,4 milhões (cerca de R$ 25 milhões) uma mansão de mais de 600 metros quadrados, mas vendeu a propriedade no ano passado. Ele voltou a morar no Brasil, após a investigação do FBI.

OUTRO LADO

A CBF classificou como uma "carona" o voo de Ricardo Teixeira de Miami para o Rio, com escala em Barbados, identificado pelo FBI. De acordo com a entidade, "a aeronave da CBF foi levada à Orlando no dia 31 de janeiro de 2014, com a única finalidade de ser submetida à revisão no Centro de Manutenção da Cessna".

Na nota (leia íntegra abaixo), a CBF acrescenta que "no retorno, em 10 de fevereiro, considerando que o avião voltaria somente com a tripulação e, provavelmente com autorização da administração da CBF à época, retornaram 'de carona', em caráter pontual e excepcional, apenas dois passageiros: o ex-presidente Ricardo Teixeira e sua filha".

Na época, a entidade era comandada por José Maria Marin. Atual chefe da CBF, Marco Polo Del Nero era o principal executivo da confederação. Segundo a confederação, "as informações fornecidas ao jornal não são verdadeiras".

No documento do FBI, um homem identificado como Murilo Ramos aparece como o terceiro passageiro. Para a entidade, "não há registro, conforme comprovam os documentos de embarque emitidos pelas autoridades aéreas, de qualquer outro passageiro".

Sobre a escala em Barbados, a CBF informou que "as rotas de voo foram definidas exclusivamente pelos pilotos, considerando a falta de autonomia do avião para um voo direto ao destino no Brasil e a disponibilidade de aeroportos na rota".

"Conforme consta do relatório de voo, a parada em Barbados durou 55 minutos e serviu apenas para o reabastecimento. Não houve embarque ou desembarque de nenhum passageiro", completou em nota.

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Leia íntegra da nota da CBF

"As informações fornecidas ao jornal não são verdadeiras. A aeronave da CBF foi levada à Orlando no dia 31 de janeiro de 2014, com a única finalidade de ser submetida à revisão no Centro de Manutenção da Cessna.

No retorno, em 10 de fevereiro, considerando que o avião voltaria somente com a tripulação e, provavelmente com autorização da administração da CBF à época, retornaram 'de carona', em caráter pontual e excepcional, apenas dois passageiros: o ex-presidente Ricardo Teixeira e sua filha. Não há registro, conforme comprovam os documentos de embarque emitidos pelas autoridades aéreas, de qualquer outro passageiro.

As rotas de voo foram definidas exclusivamente pelos pilotos, considerando a falta de autonomia do avião para um voo direto ao destino no Brasil e a disponibilidade de aeroportos na rota. Conforme consta do relatório de voo, a parada em barbados durou 55 minutos e serviu apenas para o reabastecimento. Não houve embarque ou desembarque de nenhum passageiro."


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