Folha de S. Paulo


Novo nº 1 do tênis, Murray vivenciou trauma e superou fama de perdedor

Christophe Archambault/AFP
Britain's Andy Murray reacts during his final tennis match against USA's John Isner at the ATP World Tour Masters 1000 indoor tournament in Paris on November 6, 2016. / AFP PHOTO / CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
Andy Murray celebra ponto contra o norte-americano John Isner na final do Masters de Paris

A vida de Andrew Barron Murray é marcada por dramas. Aos 9 anos, sofreu um trauma que ainda o persegue.

Ele o irmão Jaime sobreviveram à fúria de um assassino chamado Thomas Hamilton, que matou 16 crianças e uma professora em uma escola primária de Dunblane, cidade escocesa onde viviam.

Andrew, chamado no círculo familiar pelo apelido de Andy, que o tornou famoso, calou-se sobre o assunto durante anos até quebrar o silêncio e dizer, em 2013, o quanto o episódio o marcou.

"Na hora não foi possível ter ideia de quão doloroso foi aquilo", afirmou.

A tragédia moldou o perfil introspectivo de Andy, que se tornou, desde 2005, um dos tenistas mais bem-sucedidos de todo o circuito mundial.

Por mais que ganhasse, porém, o escocês penou até obter reconhecimento, simplesmente porque atuou na mesma geração de três ícones do tênis: o suíço Roger Federer, o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic.

Todos se tornaram líderes do ranking mundial e faturaram títulos de Grand Slam antes de Andy –que só venceu um Slam, o Aberto dos Estados Unidos de 2012, após ser vice-campeão quatro vezes e ganhar a pecha de perdedor.

Neste domingo (6), Andy Murray desfez qualquer drama restante, ao menos no que diz respeito à sua carreira.

Não deve mais nada a nenhum dos três. Ao bater o norte-americano John Isner por 2 a 1 (6-3, 6-7[4] e 6-4), coroou uma semana de sonho.

Levantou o troféu do Masters 1.000 de Paris, que ainda não tinha em sua galeria, e chegou à marca de 43 taças como tenista profissional.

Abrilhantou o status de novo número 1 do ranking mundial, feito que nunca antes havia conseguido e será ratificado na lista divulgada nesta segunda (7), com 1.005 pontos de vantagem sobre Djokovic –eliminado nas quartas de final na capital francesa.

Ele se torna o primeiro britânico e o 26º jogador na história a liderá-lo. Eram sete anos de espera, já que chegou a ser número 2 do mundo pela primeira vez em 2009.

Com 29 anos, cinco meses e 23 dias, também é o segundo mais velho na história a alcançar ser número 1. À sua frente, só o australiano John Newcombe, líder com 30 anos e 11 dias em junho de 1974.

Com oito títulos, dos quais um em Wimbledon e outro nos Jogos Olimpícos do Rio-2016 –ele já vencera em Londres-2012–, Andy consolida a melhor temporada da vida.

"Às vezes, depois de uma grande conquista, é fácil ter uma queda e sentir-se relaxado. Hoje [neste domingo] antes da partida [da final] estava realmente nervoso", disse o britânico, que está invicto há 18 partidas.

Em seus 11 anos de carreira, Andy já soma três títulos de Grand Slam (Wimbledon em 2013 e 2016 e o Aberto dos EUA de 2012) e uma conquista da Copa Davis, em 2015.

Agora, o tenista parte em busca de algo que ainda lhe falta, que é terminar uma temporada como número 1.

A disputa com Djokovic está em aberto e só será definida a partir do próximo domingo (13), quando se iniciam as Finais da ATP, em Londres, que reúnem os oito melhores tenistas da temporada de 2016.

Como quem já viveu tanto drama, ele não se pressiona. "Seria bonito terminar como número um, mas estou feliz pelo que obtive até agora".


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