Folha de S. Paulo


Geração de jogadores criados em Cotia é alento do São Paulo em ano ruim

Em um ano sem títulos e com brigas políticas acirradas, o São Paulo terminará a temporada com cinco gerações diferentes de garotos da base no time profissional.

E é com essa última safra, composta pelo zagueiro Lyanco, o meia Lucas Fernandes e os atacantes Luiz Araújo e David Neres que o clube quer, enfim, consolidar a força do Centro de Formação de Atletas de Cotia, região metropolitana do Estado, no CT da Barra Funda, utilizado pelos jogadores da equipe profissional.

Nesta segunda (31), eles ajudarão o São Paulo no confronto contra o lanterna América-MG, no estádio Independência (20h, SporTV, menos MG), pela 33ª rodada do Brasileiro. O técnico Ricardo Gomes busca a terceira vitória consecutiva.

No último jogo da equipe, na vitória por 2 a 0 sobre a Ponte Preta pelo Brasileiro, Lyanco, Neres e Pedro foram titulares. Luiz Araújo entrou no segundo tempo. Rodrigo Caio, João Schimidt, Wellington, Auro, Matheus Reis e Lucão são de outras gerações e também foram relacionados para o confronto.

Contra o América-MG, Rodrigo Caio, Schmidt, Neres e Pedro têm boas chances de compor o time titular.

"Aqui em Cotia eu digo que sou um fazendeiro agrônomo. Você tem que irrigar, preparar a terra e colher. Muitas vezes vem a seca, não chove e você não colhe o que queria. Eu diria que essa colheita de agora é boa", afirmou Marcos Francisco, diretor da base, à Folha.

A safra sub-20 citada pelo dirigente foi campeã de praticamente tudo que participou: Libertadores, Taça BH de Futebol Júnior, Copa do Brasil e Copa Ouro. Agora no profissional, eles tentam se tornar símbolos de uma das melhores gerações já reveladas pelo São Paulo.

Avener Prado/Folhapress
Da esq. para a dir.:Lucas Fernandes, Pedro Bortoluzo,Lyanco, David Neres e Luiz Araújo no CT de Cotia
Da esq. para a dir.:Lucas Fernandes, Pedro Bortoluzo,Lyanco, David Neres e Luiz Araújo no CT de Cotia

Desde que foi inaugurado, em 2005, o CFA de Cotia já revelou muitos jogadores, porém eles foram rapidamente negociados e não ganharam status de ídolos.

O zagueiro Breno e o atacante Lucas foram os casos mais emblemáticos.

Breno foi da base são-paulina entre 2003 e 2007. Após ser vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o clube o promoveu à equipe principal. Em seu primeiro ano foi campeão brasileiro.

No fim da temporada, o Bayern de Munique ofereceu R$ 33,7 milhões e o jogador foi vendido. Ele fez apenas 35 partidas pelo time paulista.

Cinco anos mais tarde foi a vez de Lucas. Apesar de ter feito 128 jogos com a camisa tricolor, ele só ganhou a Sul-Americana nas três temporadas em que atuou e foi para o PSG por R$ 115 milhões.

Segundo Marcos Francisco, hoje a filosofia adotada é criar o atleta para o São Paulo e não vislumbrar uma possível venda.

"Não dá pra você pegar um time da base e colocar no profissional. Não está maduro. A mescla com os mais experientes deve acontecer. Se essa mescla acontecer, é desejável para nós ter quatro ou cinco no time titular", acrescentou.

O zagueiro Rodrigo Caio é o exemplo do planejamento pensado pela diretoria. Ele começou no clube em 2004 e subiu para o profissional em 2011. Entre altos e baixos, assumiu a titularidade em 2013 e desde então virou uma unanimidade na agremiação. Recentemente, foi titular na campanha da medalha de ouro na Rio-2016 e convocado por Tite para os duelos da seleção brasileira contra Argentina e Peru pelas eliminatórias da Copa de 2018.

Mesmo com mais de dez jogadores promovidos ao elenco atual, David Lisboa, ex-conselheiro do São Paulo, crê que o número de titulares deveria ser maior.

"Na minha época [pré-CFA] não tinha Cotia e nós revelamos muitos jogadores no terrão do Morumbi. Em 2003, eram quase 13 jogadores. Hoje, com a estrutura que tem, eu acho que metade do time deveria ser composto pelos meninos da base", disse.

COTIA X BARRA FUNDA

O grande problema entre os CTs sempre foi a falta de integração entre ambos –os jovens têm suas rotinas em Cotia, ao passo que os profissionais treinam na Barra Funda.

Um dos idealizadores do CFA de Cotia, o ex-presidente Juvenal Juvêncio apontava essa falha ainda em 2010, quando exigiu uma mudança radical nessa relação.

Onze anos se passaram e o clube ainda não atingiu o objetivo ideal proposto pelo mandatário, morto em 2015.

"Imagina se a Barra Funda estivesse aqui em Cotia? Todos os profissionais estivessem aqui? O problema é o espaço físico. O mais desejável é que os dois estivessem juntos, mas não é possível. No futuro será possível", ressaltou Marcos Francisco.

Como base e profissional ficam distantes, a saída encontrada foi alinhar os modos de trabalho. Para isso, o São Paulo colocou os garotos sub-20 na Copa Paulista, um torneio de profissionais, para que a competitividade e a postura se tornassem compatíveis às dos adultos.

"Quanto mais perto do profissional, maior a necessidade de se aperfeiçoar. O importante é o jogador não sentir essa diferença. Logo, a cobrança e o nível de jogo ficam mais elevados", explicou André Jardine, treinador do time sub-20.

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FICHAS TÉCNICAS

Nome Lucas Fernandes
Idade 19 anos
Direitos econômicos 95% do São Paulo
Situação lesionado desde junho, é grande promessa

Nome Pedro Bortoluzo
Idade 20 anos
Direitos 90% do São Paulo
Situação fez apenas sete jogos pelo time principal; no último deles, deixou Chávez no banco

Nome Lyanco Vojnovic
Idade 19 anos
Direitos 80% do São Paulo
Situação ficou menos de cinco meses em Cotia e foi promovido para a equipe principal

Nome David Neres
Idade 19 anos
Direitos 100% do São Paulo
Situação com apenas dois jogos, é tido como um dos protagonistas da recuperação do time

Nome Luiz Araújo
Idade 20 anos
Direitos 70% do São Paulo
Situação desde o início do ano com os profissionais, geralmente fica no banco de reservas


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