Folha de S. Paulo


Relembre os nove passes e o chute que eternizaram Carlos Alberto Torres

O gol de Carlos Alberto na Copa de 1970

O Brasil vencia a Itália por 3 a 1 e faltavam quatro minutos para o fim da partida. O título da Copa de 1970 já estava quase garantido, mas para aquele time ganhar não era suficiente. Era preciso encantar.

E foi isso que os jogadores brasileiros fizeram em 30 segundos. Foi o tempo suficiente para a recuperar uma bola no campo de defesa e, com a participação de nove jogadores, em trinta toques, ela chegar aos pés de Carlos Alberto Torres. Com um chute forte, o Capita fez o quarto e mais bonito gol da vitória.

Veja o vídeo

A Folha conversou com jogadores que participaram da jogada para relembrar o lance, que eternizou a carreira de Torres, morto nesta terça-feira.

Os jogadores lembraram que à época, Zagallo, o técnico daquela seleção, havia mostrado a todos eles que a Itália marcava homem a homem. Pediu, então, que Jairzinho se movimentasse da ponta direita para o meio, puxando a marcação e liberando a lateral direita para que Carlos Alberto pudesse avançar ao ataque.

O PASSO A PASSO DO GOL

1. Everaldo, lateral esquerdo, dá um carrinho e tira a bola do italiano. Tostão recupera e dá início à jogada

2. Tostão toca para o zagueiro Piazza. Em 2010, o meia-atacante falou sobre o lance.
"Foi conversado, foi pensado, foi discutido que, quando o Jairzinho entrasse pelo meio, o Carlos Alberto entraria pela direita, avançaria pelo setor como um ponta"

3. Piazza passa a Clodoaldo.
"O Zagallo usou slides e de uma mesa de botão para mostrar que a Itália fazia marcação homem a homem. Então ele pediu ao Jairzinho para puxar o Fachetti do meio para o lado esquerdo, e quem ficasse com a bola deveria enfiá-la para o outro lado. Ele avisou que íamos pegar a Itália desprevenida. No nosso esquema, o Carlos Alberto Torres tinha a liberdade de desprender do setor defensivo e chegar ao ataque em virtude da qualidade do passe, do cruzamento e do chute. Aquele gol foi para a gente fechar nossa campanha com chave de ouro", lembrou o zagueiro.

4 / 5 / 6. Clodoaldo passa para Pelé, que dá a Gérson.
"O Everaldo ficava mais do lado esquerdo, enquanto o Carlos Alberto tinha mais liberdade para subir. Ele era o nosso desafogo. Aquela jogada foi treinada. Nossos homens de frente foram orientados a deixarem o lado direito aberto. Foi exatamente o que aconteceu. O Jairzinho saiu da direita para o lado esquerdo, o Pelé entrou pelo meio e tocou sem olhar, já que ele sabia que Carlos Alberto Torres ia passar ali", lembrou Gérson

7. Clodoaldo dá quatro dribles em sequência e toca para Rivellino.
"Eu driblei quatro italianos antes de tocar para o Rivellino. Quando eu encontrava o Carlos Alberto Torres, brincava com ele que estava incomodado porque o lance só mostrava o Jairzinho, o Pelé e o Carlos Alberto. E ele me respondia: 'você merece todo o crédito, 50% do gol foi seu'. Ele falava que o gol era uma obra de arte, que tinha que ser reconhecido. É inesquecível aquele gol. O momento é único, onde se chega no limite. E foi tudo preparado"

8. Rivellino domina ainda no campo de defesa, levanta a cabeça e lança em vertical a Jairzinho que, como pedira Zagallo, havia se deslocado

9. Jairzinho parte para cima do marcador em jogada individual, passa pelo primeiro e, antes da chegada do segundo, rola para Pelé

10. Em frente à área, Pelé domina, dá mais dois toques sutis para ajeitar a bola e, de direita, sem olhar para o lado, rola ao Capita, que vinha em velocidade

11. O capitão da seleção, Carlos Alberto Torres, acerta uma bomba de primeira. "O Zagallo conversou, mostrou o posicionamento [da Itália]: 'Carlos Alberto, pode acontecer essa situação. Se acontecer, você vai (para o ataque)'. Aí aconteceu, e eu cheguei com tudo. Eu não chutava forte, mas, quando o cara chega na passada certa, o chute sai forte. Muita gente diz que o chute saiu forte porque a bola parece que quicou num montinho. Mas eu acho que, da maneira como eu cheguei, o gol sairia de qualquer maneira. Porque eu cheguei pra fazer o gol, com a certeza de que iria fazer o gol", disse o capitão à Folha.

Rolls Press/Popperfoto/Getty Images
ORG XMIT: 173201_1.tif Futebol - Copa do Mundo, 1970 - Brasil 4 x 1 Itália: o capitão da seleção brasileira, Carlos Alberto Torres, levanta o troféu Jules Rimet após vencer a Itália na final da Copa do Mundo de 1970, no estádio Azteca, na Cidade do México (México). *** World Cup Final 1970, Mexico City, Mexico, 21st June, 1970, Brazil 4 v Italy 1, Brazilian captain Carlos Alberto holds aloft the Jules Rimet World Cup trophy to thousands of fans in the Azteca Stadium after they defeated Italy in the World Cup Final (Photo by Rolls Press/Popperfoto/Getty Images) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Carlos Aberto Torres com a taça do Mundial de 1970, no México

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